30/04/2024 - Edição 540

Saúde

Aedes aegypti prefere algumas pessoas

Publicado em 29/04/2015 12:00 -

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Enquanto alguns sofrem, outros escapam incólumes. É comum, em qualquer lugar com mosquitos, que algumas pessoas sejam alvos preferenciais das picadas. Cientistas britânicos resolveram testar a hipótese de que esse fenômeno indesejável tem a ver com a combinação de genes que recebemos de nossos pais.

Já se sabia que o cheiro era o fator que promovia a atração dos mosquitos, mas não se esse odor favorável poderia ser explicado pelos genes que carregamos. Se isso estivesse certo, gêmeas idênticas atrairiam mosquitos com maior "intensidade" do que gêmeas fraternas (não idênticas).

Para colocar a ideia à prova, cientistas pediram a cada par de irmãs que colocassem uma das mãos cada nas duas extremidades de um tubo em Y – chamado de olfatômetro.
Do outro lado, fêmeas do Aedes aegypti eram liberadas e a quantidade de mosquitos que escolhia cada pessoa pelo cheiro era contada.

O estudo, que foi publicado na revista científica "Plos One", encontrou uma concordância que varia entre 62% e 83%. "Isso significa dizer que a herança genética pode ser responsável por até 83% da atração exercida por algumas pessoas aos mosquitos, um valor alto", explica a professora titular de genética da Universidade Federal de São Paulo Marilia Cardoso Smith.

"Ainda sobra até 38% de participação para outros fatores, como a alimentação e outras influências ambientais", diz Marilia.

Estudos com gêmeos univitelinos (idênticos) e bivitelinos (fraternos) são uma ferramenta importante para o estudo de fatores genéticos de características individuais e mesmo de doenças.

Hipóteses

Os cientistas não sabem explicar exatamente como os genes ajudam a atrair ou repelir mosquitos. Pode haver tanto genes que aumentam a atratividade para os insetos quanto genes responsáveis por repelentes gerados pelo próprio organismo.

Um dos candidatos é o MHC, uma região do genoma importante para a compatibilidade entre doador e receptor de órgãos e que sabidamente também influencia a atração sexual, também pela via olfativa.

Segundo Paulo Ribolla, professor do Instituto de Biociências de Botucatu, da Unesp, o estudo serve de marco para que se preste mais atenção aos fatores genéticos, que, assim como as bactérias e os fungos que as pessoas carregam, contribuem para decidir quem será ou não picado.

Genes do MHC, de alguma forma, produziriam moléculas capazes de definir quais bactérias e fungos habitariam nosso organismo. Essa flora é uma das candidatas a responsável direta pela atração ou repulsão dos mosquitos.

O próximo passo da pesquisa é descobrir exatamente quais são os genes responsáveis por esse odor que atrai ou repele mosquitos, diz o entomologista James Logan, que liderou a pesquisa na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

"Se entendermos a base genética da variação entre indivíduos, talvez seja possível desenvolver maneiras de controlar melhor os mosquitos e repeli-los. No futuro, poderíamos até mesmo tomar uma pílula que poderia promover a produção de repelente natural pelo organismo, substituindo cremes e loções."  


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