20/04/2024 - Edição 540

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11 coisas que você talvez não saiba sobre imigrantes, refugiados e imigrantes ilegais

Publicado em 20/11/2018 12:00 -

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1 – Ilegal e com nome falso

Quando era um bebê, Kal-El morava em uma cidade assolada por diversos problemas climáticos, onde também abundavam os antagonismos políticos, com facções travando lutas mortais. Devido aos perigos, seus pais decidiram enviá-lo sozinho para o exterior, já que — como em tantos casos de imigrantes — a família não tinha condições de partir inteira. Pouco depois, os pais morreram (segundo algumas versões, em meio à guerra civil, embora de acordo com outras informações, mortos pelo terremoto que destruiu sua terra natal).

Órfão, Kal-El trafegou milhares de quilômetros até chegar aos Estados Unidos, onde entrou de forma ilegal (sua terra natal nem sequer tinha relações diplomáticas com os americanos). Ali foi adotado ilegalmente por um casal de fazendeiros, que lhe deram um nome falso. O garoto ali cresceu, até que, já adulto, foi trabalhar como jornalista em um importante jornal da principal cidade do país no qual se instalou.

Sempre com nome falso, sem jamais ter regularizado sua situação legal, além de trabalhar como jornalista, Kal-El também agia como parapolicial, isto é, de forma irregular, aplicando justiça por mão própria.

Esse imigrante ilegal, proveniente de Kryptonópolis, a segunda maior cidade do planeta Krypton (perto da capital, Kandor), foi criado com o nome falso de Clark Kent no vilarejo de Smallville. Na vida adulta, trabalhou em Metrópolis, estado de Nova York. Posteriormente, aproveitou seus poderes super-humanos para voar (sem brevê autorizado pela Aeronáutica) sobre as cidades da Terra enquanto buscava criminosos para detê-los. Para esses fins, adotou para si a alcunha de "Superman".

Os criadores do personagem, um dos mais famosos da história dos quadrinhos, eram judeus e também filhos de imigrantes: Jerry Siegel (filho de lituanos) e Joe Shuster (este, um imigrante nascido no Canadá, filho de um imigrante holandês e uma ucraniana).

2 – O fundador de uma famosa religião foi um bebê refugiado

No ano zero de nossa era comum,  o casal José e Maria morava em Nazaré, na Palestina, então sob administração do Império Romano. Lá, ficaram sabendo que o rei de Judeia (uma espécie de colaboracionista dos romanos),  Herodes a.k.a. "O Grande", passara a acreditar que uma criança havia acabado de nascer e que ela lhe tiraria o título de rei dos judeus. Ele, que considerava a suposta criança uma ameaça terrorista, decretou que todos os bebês do reino deveriam ser mortos. Perante a decisão do líder psicopata, o casal de Nazaré decide migrar às pressas. No meio do caminho, em Belém, nasce seu filho, que recebe o nome de Jesus.

Na sequência, já que o rei Herodes está aniquilando todos os bebês (lembrem-se, ele os considerava futuros "terroristas"), o casal decide sair ilegalmente de seu país e entrar – também ilegalmente — no Egito, driblando patrulhas policiais. Três anos depois, segundo o papa Teófilo, quando a situação acalmou, voltam à terra natal. Ali Jesus aprendeu o ofício de carpinteiro e posteriormente dedicou-se a afazeres religiosos que o tornaram famoso em todo o mundo.

Um antepassado de Jesus de Nazaré era Adão (sobrenome desconhecido), casado com Eva (sobrenome também desconhecido). Ambos, segundo os dados relatados no livro Gênesis, foram exilados de Éden – terra natal do casal — pela única autoridade que existia nesse lugar, após a violação de normas gastronômicas. Vagaram pelo mundo, tiveram descendentes e estes, por questões climáticas graves (em um evento conhecido como "O dilúvio"), tiveram novamente que migrar, desta vez por via marítima. Como sempre, como acontece com as famílias de migrantes, levados pela necessidade de iniciar uma nova vida.

Se Jesus nascesse hoje, Belém estaria sob a administração do Estado da Palestina desde 1995. Por ser cidadão palestino, Jesus atualmente teria sua mobilidade internacional limitada. Um dos lugares onde só poderia entrar após um complicado trâmite burocrático seria o Vaticano.A região com menores dificuldades para o passaporte palestino de Jesus seria a América Latina, onde países como Bolívia, Dominica, Equador, Haiti, Nicarágua, São Vicente e Granadinas e Venezuela não exigem documentos especiais para receber palestinos.

3 – Escritores e músicos refugiados

Ao longo da história, diversos escritores, músicos, filósofos e cientistas foram perseguidos em seus países de origem e tiveram de fugir. Foi assim com o escritor francês Victor Hugo, autor de Os miseráveis , perseguido político de Napoleão III. Victor Hugo fugiu da França e entrou na Bélgica. Mas ali foi considerado "ilegal" e por isso expulso. Finalmente refugiou-se na Inglaterra, onde foi aceito. Anos mais tarde, com a queda de Napoleão III, voltou ao seu país de origem.

Outra famosa celebridade refugiada foi Fryderyk Szopen, mais conhecido por versão afrancesada de seu nome, Frédéric Chopin. O pianista polonês tornou-se um defensor da libertação de sua terra natal do então domínio dos russos. Para divulgar a luta de seu povo, compôs uma miríade de melodias que evocavam sua Polônia.

Outras figuras nascidas fora dos países nos quais alcançaram a fama foram o italiano Ivo Livi, famoso por representar o sentimento da França em suas canções, que ele imortalizou com o nome artístico de Yves Montand, e a ucraniana Chaya Pinkhasovna Lispector, que ficaria conhecida como Clarice Lispector, uma das mais famosas escritoras do Brasil. 

4 – Imigrantes que mudaram a diplomacia dos Estados Unidos

Os Estados Unidos receberam, entre todos os seus imigrantes, três figuras que tiveram uma influência crucial em sua diplomacia, intensificando o poder internacional da nação que os acolheu. Os três foram, em sua juventudes, refugiados. Heinz foi um deles. Quando ainda era rapaz, sua família teve de fugir da Alemanha, já que eram judeus, e, portanto, estavam sendo perseguidos por Adolf Hitler. Heinz mudou-se para os Estados Unidos, onde adotou o nome de Henry. Poucos anos depois se alistou no Exército americano, participou da invasão Aliada a sua terra natal. Depois, estudou e acabou se transformando em Conselheiro de Segurança e secretário de Estado dos Estados Unidos entre 1969 e 1977. Ele era Henry Kissinger, mentor da política externa dos governos Nixon e Ford.

Outro refugiado foi Zbigniew Brzezinski, polonês, que estava no Canadá quando Hitler invadiu seu país de origem. Ele foi conselheiro de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter nos duros anos 70.

Além deles, outra refugiada foi secretária de Estados dos EUA durante o governo Clinton: Maria Jkana Korbelová. Se bem que ela é mais conhecida pelo nome de Madeleine Albright. Ela havia nascido em Praga, Tchecoslováquia, pouco antes da anexão feita pela Alemanha nazista. Sua família teve de fugir, primeiro para a Inglaterra e posteriormente para os EUA.

5 – Artistas que poderiam ter sido deportados dos EUA

O fisiculturista-ator-político Arnold Schwarzenegger nasceu na Áustria e migrou para os EUA no final dos anos 60. Ao entrar no país, conseguiu visto somente para atividades de fisiculturista. Mas, para conseguir um dinheiro extra, Schwarzenegger fazia bicos como pedreiro. Se isso tivesse sido descoberto na época, ele poderia ter sido deportado. Mas ninguém descobriu e, em 1974, Arnold conseguiu a residência permanente. Depois, em 1983,  tornou-se cidadão americano, até que,  depois, chegou a ser eleito governador da Califórnia.

Outro ator que também se arriscou a ser deportado foi Michael J. Fox, conhecido por estrelar a série de filmes De volta para o futuro . Canadense, ele começou a trabalhar ilegalmente nos EUA em 1979. Só meses depois obteve seu visto de trabalho.

6 – Por pouco os EUA tiveram outra primeira-dama

Melania Trump, a atual primeira-dama dos EUA, também violou as normas de migração em sua juventude, quando se chamava Melanija Knavs. Uma modelo proveniente da Eslovênia, ela trabalhou durante alguns meses como modelo em Nova York, sem que tivesse permissão legal para isso. Com esses trabalhos, ela foi capaz de juntar mais de US$ 20 mil. Se a Migração tivesse descoberto as ações de Melanija Knavs, ela teria sido deportada. Mas, como em tantos outros casos de migrantes, as autoridades nada descobriram e ela ficou no país.

Posteriormente, Melania obteve visto de trabalho e tornou-se cidadã americana. Até que se casou com o empresário Donald Trump, que desde janeiro do ano passado reside na Casa Branca. Aliás, a Casa Branca é um palácio presidencial que foi projetado por um arquiteto irlandês e que fica em uma cidade construída por um urbanista francês. Outros dois imigrantes.

7 – As caravanas de centro-americanos

Ao longo das últimas semanas, o surgimento de caravanas de migrantes centro-americanos partindo de Honduras, El Salvador e Guatemala tornou-se notícia mundial. O fenômeno já vinha acontecendo anteriormente, embora com caravanas de menor tamanho. Mas não se trata de só uma caravana, como muitos pensam. Atualmente são cinco.

A primeira — e mais famosa —, completou um mês de existência há poucos dias. Ela originou-se na cidade de San Pedro Sula, em Honduras, atravessou a Guatemala, subiu o sul do México e rumou para Tijuana, que fica na fronteira com a Califórnia. Após o surgimento desta primeira grande caravana, outras quatro surgiram em El Salvador e na Guatemala e agora estão em diversos pontos do trajeto rumo à fronteira com os Estados Unidos. A maioria desses migrantes faz o caminho a pé. Alguns, mais sortudos, conseguem caronas.

Essas pessoas preferem se arriscar a esta sofrida travessia e dar de cara com as portas fechadas nos Estados Unidos do que ficar em seu país de origem e serem mortos pelas gangues ou pela fome. Segundo as autoridades em Honduras, 6,7% dos hondurenhos estão desempregados. Mas outros 44% tentam sobreviver com trabalhos ocasionais. Do total da população hondurenha, 64% são pobres. E dois terços dessas pessoas estão em condição de extrema pobreza.

Já na Guatemala, do total de pessoas economicamente ativas, 70% estão na economia informal. Os dados oficiais indicam que 60% dos guatemaltecos são pobres. Enquanto isso, em El Salvador a pobreza atinge quase 40% da população. Nesse país, 66% das pessoas vivem de trabalhos informais.

8 – O incipiente êxodo nicaguarense

Outro fluxo centro-americano que começou nos últimos meses é o de nicaraguenses, devido à repressão do regime do presidente Ortega. Os nicaraguenses — por enquanto —  optam por migrar à vizinha Costa Rica, já que ali existe uma enorme comunidade nicaraguense. No entanto, os novos migrantes começaram a ser alvo de ataques xenófobos nesse país. 

9 – O êxodo de venezuelanos

As principais universidades de Caracas calculam que desde o ano 2000, isto é, um ano após a posse do presidente Hugo Chávez, a Venezuela, que sempre havia sido um país de acolhimento de imigrantes, deu uma guinada e passou a "exportar" pessoas.

Nestes 18 anos, 4 milhões de pessoas teriam ido embora do país (isso equivale a 12% da população venezuelana). Mas, a principal força desse êxodo teria se dado a partir da crise econômica iniciada em 2009, e que se agravou em 2015. Segundo a ONU, nestes últimos três anos partiram da Venezuela 3,2 milhões de pessoas. E, tal como no caso dos centro-americanos trafegando pelo México, boa parte dos venezuelanos que abandonam o país parte de lá a pé.

É a maior diáspora das últimas décadas na América Latina, quase sendo equiparada pelo êxodo de haitianos. Apesar do volume, este é um êxodo ainda menor do que o sírio, pois desde 2011 foram embora desse país do Oriente Médio 6,3 milhões de pessoas, o equivalente a 34% de sua população. Além disso, dentro da Síria existem outros 6,2 milhões de deslocados internos. 

10 – Fome, furacões e terremotos, a diáspora de haitianos

No Haiti, o país mais pobre e mais faminto das Américas, vivem 11 milhões de pessoas. Mas outros 3 milhões partiram do país nas últimas décadas devido à extrema pobreza e aos fatores climáticos, já que o país tem sido assolado por furacões, secas, enchentes e um dos maiores terremotos da história mundial, de 2010.

O maior volume de haitianos, quase 1 milhão, reside nos Estados Unidos. Na República Dominicana, país vizinho ao Haiti, os haitianos passaram de 45 mil para 668 mil em uma década. Ali, o crescimento desses migrantes desatou uma onda de agressões xenófobas. O assunto tornou-se tópico da pré-campanha para as eleições presidenciais dominicanas de 2019. Um dos pré-candidatos até propôs a construção de um imenso muro entre os dois países para impedir a entrada de haitianos na República Dominicana.

Além dos países próximos, os haitianos também migraram a longas distâncias. Um dos países escolhidos foi o Chile, onde o número subiu de 1.800 para 120 mil em quatro anos. 

11 – Cidade brasileira… mas fundada por espanhol neto de um judeu

A cidade de São Paulo teve sua origem graças à construção de um colégio entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, em 1554. Os responsáveis pela construção foram os padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega. Este era português. Mas Anchieta era um imigrante espanhol, nascido nas Ihas Canárias, neto – por via materna – de judeus conversos.


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