25/04/2024 - Edição 540

Brasil

Bolsonaro diz que vai vistoriar provas do Enem antes que elas sejam distribuídas

Publicado em 15/11/2018 12:00 -

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Em comentário feito em vídeo por cerca de meia hora (veja o vídeo abaixo), o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) disse que vai vistoriar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) antes que seu conteúdo seja submetido aos alunos nos locais de teste. Bolsonaro criticou algumas questões oferecidas na edição deste ano do Enem, especialmente a relativa ao dialeto falado por gays e travestis, o pajubá.

Veja abaixo a reprodução da questão, usada para abordar conhecimento técnico especificamente relacionado ao patrimônio linguístico brasileiro.

"Esta prova do Enem, vão falar que eu estou implicando. Agora, pelo amor de Deus! Este tema, da linguagem particular daquelas pessoas… O que temos a ver com isso, meu Deus do céu? Quando a gente vai ver a tradução daquelas palavras… um absurdo, um absurdo! Vai obrigar a molecada a se interessar por isso, agora? Para o Enem do ano que vem?", reclamou o deputado, por meio de uma transmissão ao vivo no Facebook.

"Podem ter certeza, fiquem tranquilo: não vai ter questão dessa forma no ano que vem, porque nós vamos tomar conhecimento da prova antes. Não vai ter isso daí. Vão ter perguntas sobre Geografia, dissertações sobre História, questões realmente voltadas ao que interessa ao futuro da nossa geração, do nosso Brasil. E não essas questões menores", acrescentou Bolsonaro, elencando as "ideologias de gênero" entre as questões que ele diz considerar desimportantes.

Governo não manda no Enem, diz presidente do Inep

Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia responsável pela aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a educadora Maria Inês Fini foi taxativa ao comentar a natureza do exame. "Não é o Governo que manda na prova", disse a doutora em Ciência, à frente do Inep desde maio de 2016.

Fundadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Inês concedeu entrevista ao grupo do jornal espanhol El País, no último dia 5, cinco dias antes da transmissão de vídeo feita por Bolsonaro.

A pesquisadora disse ao El País que a elaboração das questões é de estrita responsabilidade da área técnica, de maneira que sequer o próprio Ministério da Educação interfere na elaboração das provas. “O Inep tem uma diretoria específica de técnicos consagrados que, com a ajuda de uma série de educadores e professores universitários de todas as regiões do país, elaboram a prova”, acrescentou a pesquisadora.

Cotada para ser ministra da Educação no governo Bolsonaro, ela explicou ainda que o Inep, devido à natureza de autarquia governamental, está "alinhadíssimo com o Ministério da Educação", mas enfatizou que a prova é de responsabilidade total do instituto. Por isso, completou Maria Inês, o Inep tem autonomia plena para elaborar as questões, sem qualquer intervenção do governo.

Ela lamentou as críticas a determinadas questões apresentadas no Enem deste ano. "Em momento algum houve qualquer perspectiva de doutrinação, de valorização de uma posição em detrimento da outra. Eu só lamento que algumas leituras tenham sido equivocadas, mas cada pessoa, cada leitor do mundo faz uma interpretação do texto da maneira como quer, não é? Com a sua cultura, com seus valores e com as suas ideologias", acrescentou Maria Inês, para quem a prova é uma oportunidade para jovens interajam com a tipologia de diversos autores, de forma plural.

Exame

O Enem é realizado desde 1998 pelo Inep. Mas foi em 2009 que o Enem passou a ser aplicado como forma de acesso ao ensino superior.

A metodologia não é a mesma dos vestibulares tradicionais. As questões apresentadas não são elaboradas integralmente por um mesmo grupo, mas escolhidas entre itens dispostos em um banco de dados com milhares de questões já aplicadas por diversos professores, há anos.


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