25/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Três falácias de argumentação da esquerda caviar

Publicado em 11/07/2014 12:00 - Rodrigo Amém

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Promessa é dívida. Semana passada abordei três falácias comuns do discurso da direita. Hoje é a vez da esquerda festiva, caviar, petralha, marxista ou ninja. A alcunha fica a gosto do freguês. Como de costume, omitirei as fontes dos exemplos para focar no conteúdo, não na personalidade dos seus proponentes. Mãos a obra:

Tu quoque

Toda vez que alguém responde críticas com críticas, fique atento. Você pode estar presenciando o uso da falácia “tu quoque”, expressão em latim “Você Também”. Geralmente usada como defesa, Tu Quoque busca por mudar o foco do debate recorrendo a implicação de hipocrisia. Ora, se o fulano também faz coisa errada, as acusações dele são nulas.

É claro que apontar hipocrisia no discurso alheio não é, em si, uma falácia. O problema é quando se usa essa falta de consistência para legitimar os próprios atos. Algo no estilo: “se até a polícia rouba, eu vou roubar também”.

Exemplo: “Quadrilha Petralha? Escandalosa mesmo é a privataria do PSDB!”

Ad populum

“A voz do povo é a voz de Deus”, dizem. Mas quem diz isso está errado. A falácia “Ad Populum”, também conhecida como Argumento da Popularidade tenta validar uma afirmação pelo número de pessoas que concordam com ela, o que, obviamente, não tem absolutamente nada a ver com a veracidade dos fatos. Se a opinião da maioria determinasse o que é verdade, geógrafos do mundo teriam que se contentar com o modelo da Terra como uma grande superfície plana. Afinal, durante séculos, todos acreditavam que essa era a verdade.

Exemplo: “A maior prova de que o Bolsa Família é eficaz na erradicação da pobreza é a enorme aprovação popular do governo.”

Atirador Texano

Imagine um cowboy texano. Daqueles de chapéu, mullets e bigodão. Ele está de frente para um celeiro e empunhando uma de suas (muitas) armas favoritas. O Texano começa a atirar e descarrega sua pistola na parede lateral do celeiro. Terminado o tiroteio, o cowboy pega uma lata de tinta e desenha um alvo em torno da maior concentração de buracos na parede do celeiro. Voilá! Do nada, nosso cowboy se tornou um mestre da pontaria. É esse o principio por detrás da falácia do Atirador Texano. Seus usuários selecionam exemplos aleatórios para estabelecer relações e causas, desconsiderando elementos e fatos que contradizem sua argumentação. É uma forma de pensamento às avessas, onde a pessoa parte da conclusão e começa a buscar dados que corroborem suas expectativas e desprezar aqueles que as contradizem.

Exemplo: "Cinco líderes sul-americanos foram diagnosticados com câncer recentemente Não seria estranho os EUA tivessem desenvolvido uma tecnologia para induzir a doença e ninguém soubesse disso até agora”.

Não preciso dizer que tanto estas quanto as falácias da semana passada são exclusivas desta ou daquela orientação política. Pelo contrário, é comum encontrar exemplos de todas elas espalhadas por todo espectro do debate. Também é claro que estas não são as únicas falácias que existem. Muitas outras fazem parte do arsenal de quem está mais preocupado em defender o time do que em debater ideias. E esse é o problema.  

Saímos da Copa e seguimos para as eleições. Assim como os nossos craques do campo, os craques das urnas e seus asseclas são catimbeiros habilidosos. Não perdem uma oportunidade de dar uma canelada quando o juiz não está olhando e de se jogar na área quando sentem que vão perder a bola. Muito se fala, depois do 7×1, de renovar, repensar, preparar as gerações futuras para um futebol mais transparente e disciplinado. É o caso de aproveitar o vexame para repensar a legitimidade dos nossos posicionamentos no debate político. Pra não perder de goleada de novo.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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