25/04/2024 - Edição 540

Especial

Como escolher o melhor candidato?

Publicado em 10/07/2014 12:00 -

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Você prefere uma máquina governamental pequena, que cobre pouco imposto e apenas regule a sociedade, ou sonha com um Estado forte, capaz de garantir alimentação a todos apesar da alta carga tributária? Defende ou não a legalização da maconha ou a redução da maioridade penal? Encontrar políticos que comunguem das mesmas ideias que você é um passo importante para definir seu voto. O mais difícil, no entanto, é saber se, além de pensar como você, eles são honestos e realmente vão lutar pelo que defendem.

O eleitor deve identificar quais valores julga mais importantes e quais quer ver seu representante defender. Isso é importante porque, geralmente, escolhemos um candidato por afinidade, ou seja, aquele que tem valores iguais aos nossos.

Em teoria, não há nada de errado nessa escolha, aliás, é improvável, senão impossível, alguém votar em quem defende valores opostos aos seus. Contudo, o eleitor deve esforçar-se para escolher candidatos que tenham preocupações universais, ou seja, preocupações que dizem respeito ou são aplicáveis a todas as pessoas e não só a um pequeno grupo.

Para saber o que o candidato pensa, o eleitor deve conhecer a carreira dele, assim como sua atuação profissional, seu histórico de vida, sua postura ética e sua conduta diante da sociedade.

Para saber o que o candidato pensa, o eleitor deve conhecer a carreira dele, assim como sua atuação profissional, seu histórico de vida, sua postura ética e sua conduta diante da sociedade. Se o discurso do candidato não condiz com sua atuação em outros momentos da vida, isso é um indício de que ele pode estar mentindo.

Em seguida, é preciso analisar suas propostas, o partido ao qual está filiado e quem são seus correligionários. Além disso, é preciso ver se suas promessas são viáveis e compatíveis com o cargo que ele pretende ocupar. Promessas genéricas do tipo “vou criar milhares de empregos” são muito fáceis de fazer e obviamente são inviáveis de cumprir.

Informação das mais importantes é saber quem são os financiadores do candidato, pois as pessoas e empresas que financiam as campanhas eleitorais têm interesses que nem sempre se coadunam com os interesses da coletividade. Ongs como a Transparência Brasil tem feito levantamentos muito úteis neste sentido. Você também pode digitar no Google a seguinte combinação: “NOME DO CANDIDATO + É acusado de”. Dessa forma você pode saber um pouco mais do passado e das propostas do candidato.

Muito embora não dê para ter certeza de que o candidato mais preparado cumprirá suas promessas, mesmo que viáveis, é possível reconhecer e descartar o político falastrão e despreparado.

Limpo ou sujo?

A filtragem de um candidato “ficha suja” ou “ficha limpa” cabe mais ao eleitor do que à Justiça Eleitoral, já que o único impedimento que a lei coloca ao candidato em relação ao seu passado é não ter condenação transitada em julgado, ou seja, não ter sentença condenatória definitiva (sem possibilidade de recurso).

A dica sobre a vida pregressa não se refere apenas a processos, escândalos e denúncias de corrupção, mas também a compromissos assumidos em eleições passadas e promessas formuladas (cumpridas ou não).

“Se em um ano, o político prometeu que faria algo e quatro anos depois vem e diz que é exatamente o contrário, isso mostra que ele não tem uma palavra constante. Não quer dizer que ele não possa mudar de opinião, mas tem que explicar muito bem porque muda [de opinião] em assuntos fundamentais. Se ele é favorável à privatização da saúde pública e quatro anos depois é a favor da estatização da saúde pública, é um problema. Você não muda tão radicalmente de um campo para outro”, afirma o professor de filosofia política e ética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano.

Também vale verificar a atuação anterior do candidato, antes de ele se tornar um político. “Servidor público não se faz do dia para a noite. Tem que analisar se ele teve atuação comunitária, se é uma pessoa com sintomas claros de liderança, se é uma pessoa com sinais evidentes de ser solidário com as pessoas que precisam”, explica diretor-executivo da União dos Vereadores do Brasil (UVB), Sebastião Misiara.

Para ajudar na pesquisa sobre a idoneidade dos candidatos, um aplicativo do jornal Folha de São Paulo permite a consulta de processos contra políticos. Confira AQUI.

De olho neles

Para obter informações sobre os candidatos, devemos ficar atentos a notícias, jornais, revistas, propagandas eleitorais veiculadas no rádio e na televisão, pesquisas e debates entre os concorrentes. Dessa forma, é possível saber se o candidato já esteve envolvido em algum escândalo, o que ele realizou em mandatos anteriores e avaliar suas propostas.

Todos os meios de veiculação de informação são válidos, contudo, atualmente, a melhor ferramenta para auxiliar o cidadão é a Internet, pois nada escapa à rede mundial de computadores. Nas páginas dos órgãos do Legislativo, da Justiça Eleitoral, de algumas ONGs ou simplesmente em sites de busca, é possível obter informações sobre os candidatos e políticos.

O melhor jeito de descobrir isso é tendo muita informação. Busque conhecer a carreira do candidato e veja se suas promessas são viáveis e compatíveis com o cargo que ele pretende ocupar.

“Promessa genérica é muito fácil de fazer. Melhor é apresentar planos concretos para resolver os problemas. “Qualquer um pode prometer que vai combater a corrupção, mas o eleitor deve perguntar quais as medidas concretas a ser tomadas”, afirma Claudio Weber Abramo, diretor da Ong Transparência Brasil”

A internet é uma ótima ferramenta para buscar informações sobre os candidatos desta eleição. Nos sites da Câmara, do Senado, das Assembleias Legislativas, de algumas Ongs ou simplesmente no Google, é possível saber se seu candidato já esteve envolvido em algum escândalo, o que ele realizou em mandatos anteriores e avaliar as propostas do seu partido.

A seguir, alguns dos principais sites que podem auxiliar na pesquisa sobre a “qualidade” ética dos candidatos.

Justiça Eleitoral – Informações sobre prestação de contas de candidatos, comitês e direção partidários;

Presidência da República – Informações sobre os atos do presidente, agenda, notícias, espaço para enviar mensagens;

Senado Federal – Informações sobre a atuação dos senadores e sobre os projetos de lei;

Câmara dos Deputados – Informações sobre os deputados federais, atividades legislativas e projetos de lei. Há, inclusive, a opção “Acompanhe o seu deputado” em que o cidadão pode se cadastrar e receber boletins por e-mail;

ONG Transparência Brasil – Informações sobre os parlamentares brasileiros;

Projeto Às Claras – Informações sobre o financiamento eleitoral destinado aos parlamentares, bem como a quantidade de votos que receberam;

Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – Informa os sindicatos de trabalhadores e a sociedade sobre os projetos em curso no Congresso Nacional e oferece elementos sobre a atuação parlamentar, contribuindo para que haja transparência e para que o cidadão tenha, afinal, meios de conferir se há coerência entre discurso eleitoral e prática legislativa de cada representante do povo;

Instituto Ágora – Instituto paulista que atua em defesa do eleitor e da cidadania por meio do controle social do parlamento, do investimento em educação e do incentivo à participação política, autônoma e suprapartidária;

Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral – O MCCE é integrado por 51 entidades nacionais que atuam em três eixos principais: a fiscalização, que visa assegurar o cumprimento da Lei nº 9.840/1999 e da LC no 135/2010 (Ficha Limpa); a educação, que visa contribuir com a consolidação de uma consciência dos eleitores de que “voto não tem preço, tem consequências”; e o monitoramento das ações do parlamento brasileiro em relação à Lei no 9.840 e à LC no 135/2010, como o controle social do orçamento público e da máquina administrativa.

 

O que eles podem e não podem fazer

Presidente da República

Principais atribuições:

• Programa a política nacional de saúde, cultura e educação, como o conteúdo dos currículos das escolas e a distribuição de dinheiro para universidades.

• Cuida da infra-estrutura do país (privatizar ou construir estradas e usinas hidrelétricas).

• Define as regras de comércio exterior e quanto o país vai poupar para pagar sua dívida (se o presidente decidir pagar).

• Cuida da defesa nacional e das relações com os outros países.

• Propõe e aprova leis nacionais, como a legalização do aborto.

Promessas de campanha

Mentira! O que ele promete não é competência de seu cargo ou não dá para cumprir em 4 anos – “No meu governo, a polícia estará na rua, protegendo o cidadão dos bandidos.” (O governo federal não comanda a polícia.)

O candidato até pode fazer o que promete, mas está sonhando muito alto. Ou mentindo – “Vou criar 10 milhões de empregos” (O número de vagas depende da economia e de fatores externos.)

A promessa pode ser cumprida, mas é preciso saber como será colocada em prática – "Vou investir duas vezes mais em educação e saúde.” (O presidente define suas prioridades, mas precisa dizer de onde virá a verba.)

Governador

Principais atribuições:

• Gerencia e constrói escolas, hospitais e estradas estaduais.

• Elabora e coloca em prática planos para estimular as vocações econômicas do estado e de suas regiões.

• Controla a Polícia Militar e a Civil e administra os presídios.

• Defende o interesse do estado junto à Presidência e luta por obras federais.

• Decide como gastar o dinheiro obtido com impostos estaduais.

• Propõe e aprova leis estaduais, como a criação de áreas de preservação ambiental.

Promessas de campanha

Mentira! O que ele promete não é competência de seu cargo ou não dá para cumprir em 4 anos – “Vou triplicar o salário de todos os servidores públicos.” (Dificilmente haverá dinheiro para cumprir essa promessa.)

O candidato até pode fazer o que promete, mas está sonhando muito alto. Ou mentindo – “Vou trazer indústrias para o estado.” (Depende da economia, da vocação e do mercado da região.)

A promessa pode ser cumprida, mas é preciso saber como será colocada em prática – “Vou aparelhar as Polícias Civil e Militar e melhorar a formação de policiais.” (Compatível com o cargo de governador.)

Como controlar a atuação do presidente e do governador

Guarde suas promessas de campanha e acompanhe em jornais, revistas e sites se o presidente está cumprindo o que prometeu e se sua conduta está livre de corrupção. Membros do Executivo costumam beneficiar com licitações e compras superfaturadas quem financiou sua campanha. Confira no site do TSE quais foram as empresas que financiaram o governante e acompanhe quem está recebendo dinheiro dele.

Deputado federal

Principais atribuições:

• Faz, debate e aprova leis baseado nos interesses do povo.

• Propõe emendas à Constituição e aprova o orçamento federal.

• Participa de comissões que debatem temas de interesse nacional, como biossegurança e direitos humanos.

• Fiscaliza as contas e os atos do presidente, do vice e dos ministros. Pode convocá-los a prestar contas e abrir CPIs.

• Vota o impeachment, ou seja, autoriza a abertura de processo contra o presidente.

Promessas de campanha

Mentira! O que ele promete não é competência de seu cargo ou não dá para cumprir em 4 anos – “Vou lutar para o governo estadual reduzir as tarifas de pedágio.” (Deputados federais pouco influenciam o governo dos estados.)

O candidato até pode fazer o que promete, mas está sonhando muito alto. Ou mentindo – “Apoiarei todos os pedidos de cassação de corruptos.” (Deve-se antes analisar se os processos são justos ou não.)

A promessa pode ser cumprida, mas é preciso saber como será colocada em prática – “Lutarei para o governo federal construir hospitais no meu estado.” (Deputados podem criar projetos e lutar para executá-los.)

Senador

Principais atribuições:

• Debate e aprova, baseado nos interesses da nação, os projetos que passaram pelos deputados.

• Autoriza empréstimos externos feitos por governos estaduais e municipais.

• Com os deputados, participa de comissões especializadas e fiscaliza o Poder Executivo.

• Aprova acordos internacionais assinados pelo país para que vigorem em território nacional.

• Se o Congresso aprovar o impeachment, o Senado julga os crimes de responsabilidade de que o presidente é acusado.

Promessas de campanha

Mentira! O que ele promete não é competência de seu cargo ou não dá para cumprir em 4 anos – “Vou apresentar projetos de lei para acabar com a fome no Brasil.” (Erradicar a fome depende muito mais do governo federal.)

O candidato até pode fazer o que promete, mas está sonhando muito alto. Ou mentindo – “Vou participar de todas as CPIs sobre corrupção.” (Não é certeza que ele será incluído em comissões de inquérito.)

A promessa pode ser cumprida, mas é preciso saber como será colocada em prática – “Vou apresentar projetos de lei para tornar os impostos mais inteligentes.” (Veja se você concorda com o modo como ele pretende realizar.)

Deputado estadual

Principais atribuições:

• Faz, debate e aprova leis de interesse estadual, como a criação de impostos estaduais e taxas.

• Compõe comissões de temas regionais, como segurança e privatização de bens estaduais.

• Fiscaliza o governador, o vice e os secretários estaduais. Pode convocá-los a prestar contas e abrir CPIs.

• Indica os representantes do Tribunal de Contas estadual.

• Propõe emendas e faz, em conjunto com o governador, o orçamento do estado.

Promessas de campanha

Mentira! O que ele promete não é competência de seu cargo ou não dá para cumprir em 4 anos – “Vou lutar para reduzir os salários dos deputados pela metade.” (Pela lei brasileira, ninguém pode ter seu salário reduzido.)

O candidato até pode fazer o que promete, mas está sonhando muito alto. Ou mentindo – “Se o governador eleito for o meu adversário, vou me opor cegamente a ele.” (Mostra um perfil politiqueiro.)

A promessa pode ser cumprida, mas é preciso saber como será colocada em prática – “Lutarei para cortar gratificações, gastos extras e aumento dos salários dos deputados.”(Proposta dentro da lei e da função.)

Como controlar a atuação dos senadores e dos deputados eleitos

Parlamentares costumam funcionar por meio de pressão da sociedade em geral e de grupos organizados. Para controlar sua atuação, faça do deputado em quem você votou seu porta-voz. Escreva para aqueles que mereceram seu voto sempre que tiver alguma sugestão ou crítica a sua atuação. A melhor hora para pressionar os parlamentares é poucos dias antes da votação de projetos de lei que são do seu interesse. Acompanhe a pauta dos parlamentares pelo site do Congresso e da Assembleia Legislativa do seu estado. Para saber como anda a conduta do parlamentar eleito, acompanhe o histórico do patrimônio dele pelo site do TSE.


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