20/04/2024 - Edição 540

Brasil

Gráficos mostram polarização política nas redes sociais no Brasil

Publicado em 16/08/2018 12:00 -

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As pessoas estão cada vez mais utilizando redes sociais tais como o Facebook e o Twitter como fonte primária de notícias e informações. Estudar os hábitos nas mídias sociais, portanto, pode oferecer uma visão rica das opiniões políticas de uma nação.

Nossa equipe de cientistas da computação e cientistas sociais da Universidade de São Paulo (USP) começou a analisar o comportamento dos indivíduos no Facebook em 2015.

Começamos em nosso país de origem, onde o Facebook é a rede de mídia social favorita: 52% dos brasileiros urbanos consomem suas notícias diárias no site. Aproximadamente 12 milhões de usuários brasileiros do Facebook interagem com páginas políticas na plataforma.

Ao traçar as interações desses usuários com tais páginas – as que pertencem a um funcionário do governo, movimento social ou organização de defesa de direitos, por exemplo –, desenvolvemos um mapa nacional de como a opinião política brasileira mudou nos últimos três anos.

O panorama que surgiu foi um retrato chocante da polarização política em ação no país. Estamos agora expandindo nossa pesquisa para nos concentrarmos em outras nações polarizadas, incluindo a Argentina e os Estados Unidos.

Brasil antes de 2013

Nós rastreamos as páginas que esses 12 milhões de brasileiros curtiram ao longo de um mês, notando quando grupos de usuários curtiam páginas diferentes de assuntos semelhantes.

Em 2013, nossa pesquisa descobriu que usuários brasileiros do Facebook com interesses políticos poderiam ser categorizados em seis “comunidades de usuários” com base nos tipos de páginas que visitavam: (1) políticos e partidos conservadores; (2) políticos e partidos de esquerda; (3) grupos anticrime de linha dura; (4) campanhas anticorrupção; (5) movimentos sociais progressistas; e (6) direitos humanos e ambientalismo.

Em 2013, essas seis comunidades de usuários do Facebook se distribuíram perfeitamente ao longo de dois eixos, da esquerda à direita política e de seguidores de grupos políticos a participantes de organizações da sociedade civil.

Embora houvesse uma clara diferença entre o comportamento online das pessoas que acompanhavam os políticos de esquerda e de direita no Brasil em 2013, a distância entre os movimentos sociais de esquerda e de direita não era tão grande.

Na verdade, houve bastante sobreposição entre dois grupos de usuários – brasileiros interessados em movimentos sociais progressistas e brasileiros interessados no movimento anticorrupção – e essas “comunidades” quase formaram um continuum. Muitos brasileiros ativistas do movimento LGBTQ também se afiliaram ao movimento anticorrupção em 2013, e alguns defensores da corrupção também estavam interessados no ambientalismo.

Março de 2014

Isso mudou depois de uma série de protestos massivos e espontâneos que ocorreram no Brasil em junho de 2013, fraturando a sociedade brasileira.

Os protestos começaram quando alguns moradores de São Paulo e do Rio de Janeiro saíram às ruas para protestar contra um aumento nas tarifas de ônibus e metrô da cidade. Após 15 dias de protestos contínuos, ambas as cidades reduziram suas tarifas.

Em vez de se aquietar, a agitação se expandiu e se concentrou em demandas diferentes.

Em resposta ao grande investimento do Brasil na Copa do Mundo e nas Olimpíadas, muitos brasileiros exigiram financiamento do governo para serviços públicos, como transporte, educação e saúde.

Outro campo, cansado do um escândalo de suborno em todo o país chamado “mensalão” – que envolveu vários altos funcionários do governo brasileiro – exigiu uma limpeza do governo.

Naquele mês, cerca de 12% de toda a população – 200 milhões de pessoas – marcharam.

No final de 2013, os cidadãos da direita se uniram em torno da questão da corrupção. Os que estavam na esquerda se atentaram aos programas sociais e serviços públicos. À medida que os partidos políticos começaram a colocar essas questões na frente e no centro de suas plataformas, a esquerda e a direita se separaram, política e socialmente.

Enquanto isso, a separação entre política e sociedade civil no Brasil também estava em colapso.

Conforme monitoramos o comportamento de mídia social das pessoas, descobrimos que os usuários que curtiam movimentos sociais progressistas no Facebook começaram a dar like nas postagens de políticos esquerdistas no Facebook com mais frequência. Os defensores do movimento anticorrupção e de grupos linha-dura contra o crime também davam mais likes nas páginas dos políticos de direita.

Março de 2016

Entre 2014 e 2016, a polarização política endureceu.

Vimos usuários que antes compreendiam seis comunidades de interesse visivelmente distintas se separarem em apenas dois grupos com pouca sobreposição entre si: progressistas e conservadores.

E a separação entre política e sociedade no Brasil havia desaparecido em março de 2016 – pelo menos no digital.

O comportamento online de brasileiros interessados no ativismo anticorrupção e no combate ao crime tornou-se indistinguível do de pessoas interessadas em políticos e partidos de direita. Enquanto isso, brasileiros afiliados a movimentos sociais progressistas e a grupos de direitos humanos se fundiram com aqueles que se associam a políticos e partidos de esquerda.

Em agosto de 2016, a presidente Dilma Rousseff sofreu um impeachment em uma votação no Congresso que dividiu as linhas partidárias. Desde então, as pesquisas mostram que os brasileiros ficaram ainda mais polarizados.

Polarização em todo o mundo

O Brasil não é o único país a se dividir ao longo de linhas ideológicas nos últimos anos.

Em 2017, começamos a mapear o comportamento online de usuários do Facebook em outros países fortemente polarizados, usando a mesma metodologia. Até agora, finalizamos os gráficos para os EUA e a Argentina.

Ambos os países parecem semelhantes ao Brasil nos dias de hoje. Os usuários de direita e de esquerda do Facebook existem em universos totalmente diferentes, não apenas em termos dos políticos que apoiam, mas também em seus interesses sociais.

* Este artigo foi escrito por Pablo Ortellado, professor de políticas públicas da USP, e Márcio Moretto Ribeiro, professor de sistemas de informação da USP, e originalmente publicado em inglês no The Conversation.


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