20/04/2024 - Edição 540

Brasil

Os números da doação de sangue

Publicado em 26/07/2018 12:00 -

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O técnico em radiologia Dário Tomaz dos Santos tem 30 anos e, há pelo menos 15, doa sangue regularmente. Ele conta que aprendeu a importância do gesto assim que chegou ao mundo, já que sua mãe teve complicações durante o parto e precisou receber transfusão de sangue ainda na maternidade.

“A ideia é ajudar quem precisa. Uma coisa tão simples, mas que pode salvar vidas e realizar o sonho de muita gente. É fazer o bem sem olhar a quem. É isso”, afirmou o técnico. “E, aproveitando o clima de Copa do Mundo, acho que marquei um golaço”, brincou, em alusão à doação.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, atualmente, 1,6% da população brasileira doa sangue – o que significa um índice de 16 doadores para cada grupo de mil habitantes. Jovens com idade entre 18 e 29 nos, segundo a pasta, são maioria – respondem por 42% do total de doações registradas no país. O percentual de doadores (1,6%) está dentro dos parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) – de pelo menos 1% da população, segundo o ministério. Porém, o governo quer aumentar o número de doadores.

Em 14 de junho, quando se comemora o Dia Mundial do Doador de Sangue, o ministério lançou, na Fundação Hemocentro de Brasília, uma campanha para homenagear doadores e sensibilizar novos voluntários. Nesta época do ano, é comum uma baixa nos estoques de sangue em razão da proximidade das férias escolares e das festas de São João, além da chegada do inverno.

Em 2017, 3,3 milhões de pessoas doaram sangue e 2,8 milhões fizeram transfusão sanguínea no país. Do total de doadores, 60% são homens. O país conta com um total de 32 hemocentros coordenadores e 2.034 serviços de hemoterapia. A previsão para 2018 é de investimentos na ordem de R$ 1,3 bilhão na rede de sangue e hemoderivados.

No Brasil, pessoas entre 16 e 69 anos podem doar sangue. Para menores de 18 anos, é necessário o consentimento dos responsáveis e, entre 60 e 69 anos, a pessoa só poderá doar se já o tiver feito antes dos 60 anos.

Além disso, é preciso pesar, no mínimo, 50 quilos e estar em bom estado de saúde. O candidato deve estar descansado, não ter ingerido bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação e não estar de jejum.

No dia, é imprescindível levar documento de identidade com foto. A frequência máxima é de quatro doações anuais para o homem e de três doações anuais para a mulher. O intervalo mínimo deve ser de dois meses para os homens e de três meses para as mulheres.

No mundo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que, das 112,5 milhões de doações coletadas em todo o mundo, cerca da metade é registrada em países de alta renda, onde vive apenas 19% da população global.

A taxa registrada nessas localidades, segundo a entidade, é de 32,1 doações para cada grupo de mil pessoas, contra 14,9 em países de renda média alta; 7,8 em países de renda média baixa; e 4,6 em países de baixa renda.

a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que, das 112,5 milhões de doações coletadas em todo o mundo, cerca da metade é registrada em países de alta renda, onde vive apenas 19% da população global.

A taxa registrada nessas localidades, segundo a entidade, é de 32,1 doações para cada grupo de mil pessoas, contra 14,9 em países de renAinda de acordo com a OMS, nas regiões mais pobres do mundo, até 65% das transfusões de sangue são destinadas a crianças menores de 5 anos. Já em países de alta renda, idosos com mais de 65 anos respondem pelo maior número de transfusões (76%).

Dados da organização mostram aumento de 10,7 milhões de doações voluntárias entre 2008 e 2013. Ao todo, 74 países coletaram mais de 90% de seu estoque dessa forma. Entretanto, 71 países coletaram mais de 50% por meio de doações de parentes ou doações pagas.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), desde 2015, apenas 45% do sangue para transfusões coletado na América Latina e no Caribe foram obtidos por meio de doação voluntária. Embora o número represente um aumento de 38,5% em relação a 2013, ainda é muito menor do que a meta de 100% recomendada pela OMS.

“A Opas pede aos países das Américas que redobrem os esforços para melhorar os sistemas baseados na doação de sangue voluntária e não remunerada. Isso pode evitar milhões de mortes a cada ano, incluindo as por hemorragia pós-parto, acidentes de trânsito e várias formas de câncer”, informa a entidade.da média alta; 7,8 em países de renda média baixa; e 4,6 em países de baixa renda.

Antes do SUS

Antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), sangue no Brasil era vendido. Hoje, qualquer um que necessitar recebe sangue de forma gratuita e também medicamentos produzidos a partir do sangue. Porém, nem sempre foi assim, o controle de todo esse processo era privado, de qualidade duvidosa, e que resultou, por exemplo, na contaminação por HIV/Aids de várias pessoas.

O diretor-geral do Hemorio, Luiz Amorim, explica por que o SUS preserva vidas.

Até 1986, o sangue no Brasil podia ser vendido. Havia centenas de bancos de sangue de péssima qualidade, espalhados por todo o País. Esse sangue, evidentemente, trazia muito risco para a população. Não foi à toa que muita gente se contaminou com HIV nos anos 1980, quando a doença surgiu, e isso é um grande problema de saúde pública. Muita gente se contaminou nas transfusões.

Pressão popular

Isso gerou um movimento muito forte por parte dos militantes da saúde pública, Sérgio Arouca, por exemplo, pessoas que dependiam de [transfusão] sangue, como Betinho, Henfil e o Chico Mário, os três irmãos que foram muito importantes nessa causa, os três contaminados pelo HIV nas transfusões. O que resultou numa pressão popular bastante forte que chegou aos parlamentares, gerando a proibição da comercialização do sangue e seus derivados, estabelecida na Constituição de 1988.

Foi um grande avanço para a época e fundamental para barrar aquele estado de calamidade que ocorria em relação ao sangue.

Política de Sangue

Desde então, o Brasil passou a adotar uma Política de Sangue centralizada, em nível dos estados. Foram investidos recursos nos hemocentros, nas coordenações regionais, foram criadas redes hierarquizadas por estado. Com isso, a qualidade do sangue no Brasil mudou da água para o vinho.

Hoje, a gente pode dizer que a política de sangue brasileira é comparável a de países da Europa e Estados Unidos. É realmente um sangue bastante seguro, de qualidade. Essa melhora na segurança, na qualidade e na disponibilidade, para a população, trouxe também uma reformulação do setor. Muitas inovações que são bastante importantes para o País.

Hemobrás

Um dos grande avanços foi também a criação de uma empresa pública, a Hemobrás [Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia], cuja finalidade é a produção de hemoderivados, medicamentos a partir do sangue, a partir do plasma, que é a parte líquida do sangue. Somente 10% do plasma, que vem das doações de sangue, tem uso terapêutico, uso em transfusões, o resto é sobra. Essa sobra é descartada ou destinada à indústria de hemoderivados, que o Brasil não tinha e passou a ter com a Hemobrás.

A Hemobrás enfrentou problemas recentes, então ainda não está plenamente funcionando, mas não vai tardar a acontecer, assim esperamos. Isso tudo vai colocar o Brasil num clube muito seleto que é o dos países que produzem medicamentos a partir do seu sangue.

Hemoderivados

Outro fator de mudança foi o da hemofilia. Ainda que o Brasil não produza localmente, já há acordos tecnológicos, acordos de transferência de tecnologia, que permitem aumentar muito a oferta de hemoderivados a muitos pacientes, especialmente para os hemofílicos, bastante afetados pela contaminação transfusional do HIV. Hoje, eles recebem gratuitamente do Estado brasileiro os fatores da coagulação, independente do local que estiverem em tratamento, hospital privado inclusive.

A Política Nacional de Sangue avançou muito e tem que avançar mais. Um dos pontos críticos é ampliar o número de doadores de sangue, mas podemos dizer que os resultados têm sido excepcionais e o povo brasileiro pode dispor de sangue gratuito, de qualidade e muito seguro.


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