16/04/2024 - Edição 540

Brasil

Cinquenta e uma crianças brasileiras estão separadas dos pais nos EUA

Publicado em 27/06/2018 12:00 -

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O cônsul-geral adjunto do Brasil em Houston, Felipe Santarosa, confirmou que há 51 crianças brasileiras separadas dos pais, depois de terem cruzado a fronteira entre o México e os Estados Unidos.

Segundo Santarosa, uma das crianças deve se encontrar com a mãe em breve. “Eu espero que o menino consiga sair esta semana já”, disse o cônsul-geral adjunto. Ele informou que o menino, de 9 anos, está em um abrigo perto de Houston, e sua mãe, no estado de Massachusetts, depois de ter tido liberdade condicional concedida nno último dia 20 pela Justiça norte-americana.

Por enquanto, a assistente social do abrigo está providenciando os papéis para promover o reencontro da família. O menino já conversou com a mãe por telefone, e a família deve ficar nos Estados Unidos até que o processo seja finalizado, e a Justiça decida se ela pode ficar no país ou deve ser deportada.

Segundo o cônsul-geral adjunto, que conversou com a criança na sexta, o menino está sendo bem tratado. “É claro que ele está em um abrigo, está há 20 dias dentro de um abrigo. Mas o abrigo tem uma escola, ele tem frequentando aulas nessa escola, me pareceram condições geralmente boas. Ele está sendo bem alimentado, é claro que psicologicamente é uma situação um pouco mais difícil”. Apesar disso, Santarosa afirmou que, durante a entrevista dele com o menino, a criança não chorou.

De acordo com Santarosa, o menino está em um abrigo pequeno, para apenas 170 crianças. Como é o único que fala português, acaba se comunicando em espanhol na maior parte do tempo, embora tenha direito a solicitar um intérprete do idioma materno quando houver dificuldades de comunicação.

Santarosa disse que, a partir de agora, cada consulado é responsável pelas informações sobre as crianças de sua jurisdição. Por isso, não tem informações sobre outras crianças que poderiam se unir aos pais em breve, acrescentou. Na jurisdição de Houston, há oito no total. O cônsul-geral adjunto afirmou que “o interesse dos abrigos é reunir [as crianças] com os pais, eles não querem manter as crianças separadas. Agora, a dificuldade é que os pais estavam em prisões, eles não podem mandar as crianças para prisões”.

Desde maio, a política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tolerância zero com a imigração ilegal, levou à separação de mais de 2 mil crianças de suas famílias ao passar pela fronteira entre México e Estados Unidos. No último dia 20depois de muita pressão doméstica e internacional, Trump assinou um decreto executivo que poria fim à separação das famílias. A solução deve ser manter as crianças presas ao lado dos pais.

Crianças brasileiras podem ser resgatadas

O embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sergio Amaral, afirmou que o presidente Michel Temer falou sobre a possiblidade de buscar as crianças brasileiras que estão em abrigos norte-americanos após entrarem ilegalmente com seus pais pela fronteira do país com o México. Amaral participou do almoço de recepção ao vice-presidente do EUA, Mike Pence, no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

“Ele falou que, dentro dos limites dessa legislação [sobre imigração dos EUA], que estava disposto, se fosse necessário, a mandar buscar as crianças”, declarou Amaral em conversa com jornalistas, pouco antes da declaração conjunta de imprensa que Temer e Pence darão durante a tarde, no Itamaraty.

Amaral acrescentou que Mike Pence agradeceu a possibilidade de colaboração oferecida por Temer, que já existe entre as duas nações, mas não deu uma resposta definitiva sobre a possibilidade do governo brasileiro enviar um avião da Força Aérea Brasileira para retirar as crianças retidas no país.

Em declaração à imprensa no Palácio Itamaraty, o presidente Michel Temer disse que conversou com o vice-presidente Pence sobre a questão dos menores brasileiros que separados de seus pais nos Estados Unidos.

“Disse que se trata de questão extremamente sensível para a sociedade e o governo brasileiro. Pedi, por isso, mesmo, sua especial atenção para assegurar a rápida reunião das famílias. Agradeço ao vice-presidente Pence a disposição que me indicou para trabalharmos juntos em busca de uma solução,” disse o presidente.

Ele afirmou que o governo brasileiro está pronto para colaborar com o transporte dos menores brasileiros de volta ao Brasil “se esse for o desejo das famílias”. “As autoridades dos dois países continuarão em contato sobre esse tema”, acrescentou.

Aloysio Nunes

O chanceler Aloysio Nunes vai aos Estados Unidos nos próximos dias para discutir com os cônsules brasileiros no país a situação das crianças brasileiras. Ele irá a Chicago para uma reunião com os diplomatas. “Embora a gente tenha contato permanente, [vou] tomar a temperatura exata de cada um, ver o que eles precisam em termos de suporte da administração central do ministério”, disse.

Questionado sobre a oferta feita pelo presidente Michel Temer ao vice-presidente americano, Mike Pence, —durante sua visita a Brasília— de buscar as crianças brasileiras que estão separadas dos pais para trazê-las ao Brasil, Aloysio disse que é preciso antes avaliar “várias situações”. 

“Se as pessoas foram para lá correndo risco, é porque elas querem ficar nos Estados Unidos. Então a maioria deles está buscando meios legais para ficar nos Estados Unidos”, disse o chanceler. “Nós não podemos impor a criança nenhuma uma solução independentemente da decisão dos pais, dos responsáveis.”

O ministro também ressaltou que a tramitação dos procedimentos jurídicos é diferente em cada caso, com ritmos diferentes, já que há crianças brasileiras detidas em diversos estados americanos.

“Se for possível, e o vice-presidente Pence vai transmitir isso ao governo americano, nós estamos prontos para fazer tudo o que é necessário para que as crianças venham. Mas é claro: desde que estejam de acordo, que as famílias queiram isso e que a situação jurídica de cada uma delas permita”, disse. 

Aloysio, que classificou a situação imposta pelo governo americano às famílias de imigrantes que chegam ilegalmente ao país como “extremamente cruel”, mandou um recado aos brasileiros que ainda estejam considerando cruzar a fronteira sem documentos: “Não vão”.

“A mensagem é: ‘não vão’. Eles têm a legislação deles, que tem essa característica e se exacerbou na tolerância zero do presidente Trump”, afirmou. “Tentar passar clandestinamente, muitas vezes com ajuda de coiotes, de pessoas que fazem tráfico de seres humanos, é um risco tremendo.”


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