25/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

As máfias dos homens de bem

Publicado em 22/06/2018 12:00 - Rodrigo Amém

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O consenso é o seguinte: o melhor do Brasil é o brasileiro. Mas e o pior? Qual o maior problema do Brasil? Pergunte a qualquer bonecão de posto (talvez melhor perguntar depois da Copa. Agora, a maioria responderá que é a falta de equilíbrio do Menino Ney) e a resposta está na ponta da língua. E nem precisa mandar vídeo para o William Bonner. O maior problema do Brasil é a corrupção, dirão os brasileiros. Não deixa de ser irônico. O pior do Brasil é a corrupção, mas o melhor é o brasileiro. De onde presumimos que, para nossa brava gente, corrupção é coisa de turista. Mas estamos todos errados. Corrupção não é coisa de gringo apenas. Nem é nosso maior problema.

Claro, é um problemão. É principalmente por causa da corrupção que temos o pior retorno de impostos na forma de serviços públicos de todo o planeta. É por causa da corrupção que gente morre em fila de hospital. É por causa dos mensalões e mensalinhos da vida que miseráveis com e sem farda trocam tiros nas cidades do país, vitimando crianças, grávidas e todo tipo de inocente. Corrupção é um problema grave como o narcotráfico, a poluição, a fome. Mas o nosso maior dilema é outro.

Nosso maior problema é o corporativismo. A tendência de que um determinado grupo social ou profissional defenda seus interesses em detrimento das leis e princípios éticos da sociedade. Desde as capitanias hereditárias, desde a República Café com Leite, até a bancada da bala, o corporativismo fundou (e afundou) o Brasil.

Não foi a corrupção que acabou com a credibilidade da PM, mas a recusa dos membros da instituição em tratar suas maçãs podres com transparência e justiça diante da sociedade.

Não foram os mensalões e mensalinhos que transformaram o Congresso Nacional em uma piada. Foram os esforços redobrados da instituição em acobertar seus criminosos e botar panos quentes nos seus escândalos.

Não foram as fake news que destruíram a reputação da imprensa, mas as relações escusas de determinados empresários de comunicação com figuras carimbadas do poder.

Quando um grupo decide que o prestígio da classe é mais importante do que punir suas maçãs podres, todo mundo perde. A categoria perde, pois apodrece junto com seus maus elementos.  O povo perde, porque o corporativismo cria um sistema de privilégios que aumenta o fosso da desigualdade. O país perde, porque a impunidade mina a confiança na justiça e nas instituições públicas. E, num país onde não há confiança e transparência, toda forma de corrupção encontra justificativa.

O Brasil é corrupto porque é corporativista, não o contrário. Nosso maior problema é a existência das confrarias dos "homens de bem", verdadeiras máfias comprometidas a curvar as leis em benefícios de suas classes. Das isenções das igrejas, dos latifúndios, os benefícios dos membros dos três poderes, à impunidade das polícias, o verdadeiro problema do país é que o Brasil não é um país de todos. É um país de todos contra todos.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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