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Governo Trump separa mães imigrantes ilegais de seus filhos na fronteira

Publicado em 31/05/2018 12:00 -

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Com uma prática de "tolerância zero" contra a entrada de imigrantes ilegais nos EUA, a administração de Donald Trump tem separado pais e mães de seus filhos nos presídios de imigração.

Desde outubro do ano passado, pelo menos 700 crianças foram apartadas dos responsáveis após serem apreendidas atravessando a fronteira em família, segundo o Departamento de Segurança Doméstica. Cerca de cem tinham menos de 4 anos.

Mas o número pode ser ainda maior: no último mês, os abrigos para crianças imigrantes receberam quase 2.000 delas, e estão 95% lotados.

"É uma maneira muito deliberada de deixar a vida do imigrante o mais difícil possível", diz o salvadorenho Abel Núñez, diretor da Carecen, que atende imigrantes latino-americanos em Washington.

Antes, sempre que possível, as famílias eram mantidas juntas em prisões e liberadas enquanto aguardavam a decisão sobre seus casos. Mas, com a política linha-dura de Trump para o tratamento do crime de travessia ilegal, os adultos têm sido denunciados imediatamente e encaminhados a presídios enquanto aguardam julgamento —assim, são separados dos filhos, que não podem ficar nos estabelecimentos e vão para abrigos.

Atualmente, há 10.852 crianças imigrantes sob a guarda do governo. Mas a administração não informa quantas delas foram separadas dos pais: boa parte atravessa a fronteira sozinha, em especial adolescentes fugidos da violência na América Central, e é encaminhada aos abrigos.

O governo argumenta que a separação é fundamentada na lei e adotada em benefício da criança, para preservá-la do ambiente carcerário e para que se possa agir em caso de suspeita de tráfico de pessoas —quando o adulto é um atravessador, não um parente.

"Se você não quer que sua criança seja separada de você, então não a traga à fronteira ilegalmente", disse o secretário da Justiça, Jeff Sessions. "[Estamos cumprindo] o que requer a lei."

Mas advogados e ativistas reclamam da prática e recorreram à Justiça. "A lei é a mesma há muitos anos, mas nunca antes houve tantos casos de crianças separadas dos pais", diz o advogado Spencer Amdur, da ACLU (American Civil Liberties Union), responsável por ação coletiva em andamento na Justiça federal.

O processo compila oito casos de mães e pais afastados de seus filhos entre agosto de 2017 e abril deste ano. Um dos exemplos é de uma brasileira que buscava asilo com o filho de 14 anos.

Ela foi presa na fronteira em agosto de 2017 e, apesar do pedido de asilo, foi processada por entrar no país ilegalmente. Encaminhada a um presídio, teve que ser separada do adolescente, hoje em um abrigo em Chicago.

Hoje, condenada e já com a pena de 25 dias cumprida, ela aguarda a definição sobre seu caso em liberdade —mas continua longe do filho. "Estou desesperada", afirmou, em um documento enviado à Justiça. "Ele é só um menino num país estranho, e sozinho."

Uma das mães teve seu bebê de um ano de idade levado a um abrigo. "Eu não sinto vontade nem de comer", disse a hondurenha à Justiça.

Nesta semana, o próprio presidente se declarou contrário à prática. Trump afirmou que uma "lei horrível separa as crianças de seus pais depois que eles atravessam a fronteira" e atribuiu a falha de legislação aos democratas.

"Não fomos nós que criamos essa política. Mas, ao contrário de administrações passadas, nós aplicamos a lei", disse a porta-voz Sarah Sanders.

O governo nega que separar famílias seja uma estratégia para inibir imigrantes. Mas, no passado, autoridades já afirmaram que viam na prática uma possibilidade de afugentar o fluxo na fronteira, que vem crescendo.


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