19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Ele pavimentou esta via, agora pode ser atropelado por ela

Publicado em 31/05/2018 12:00 - Victor Barone

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Aliados de Michel Temer (MDB) no Congresso Nacional e ministros do Supremo Tribunal Federal afirmam que o governo atingiu um nível extremo de enfraquecimento político, não descartando, em caso de piora na situação, o risco de a gestão não conseguir se sustentar nos sete meses que lhe restam. Temer completou no último dia 12 dois anos de governo como o presidente mais impopular desde pelo menos a gestão de José Sarney (1985-1990). Ele vinha batendo na tecla de que em sua administração a inflação foi reduzida e o país saiu da recessão, embora em ritmo mais lento do que o esperado. Com a crise da greve dos caminhoneiros, o país mergulhou em uma grave situação de desabastecimento, detonando a única muleta do presidente.

Preocupado

Os mais próximos ao presidente Michel Temer (MDB) dizem que ele tem demonstrado extrema preocupação com o cenário. Há muito, afirmam, ele não fazia gestos tão enfáticos no bastidor em nome da estabilidade institucional. Integrantes do Planalto admitem que o governo cometeu “erros em série” na crise dos caminhoneiros, mas garantem que isso só ocorreu porque não dispunham de informações que retratassem a magnitude do problema.

Atolados

O ambiente na Câmara dos Deputados é de apreensão em relação a uma eventual tentativa de derrubada de Michel Temer (MDB). Há o temor de que qualquer movimento nesse sentido aumente os apelos por uma intervenção militar. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, estava disposto a barrar qualquer pedido de impedimento, como já fez com vários outros. A falta de uma alternativa a Temer contribui para a cautela. O próprio Maia tem dito que “o caminhão [o Brasil] está atolado e não tem ninguém para desatolar”.

Lisongeados

O general da reserva Augusto Heleno, 70, que foi o primeiro comandante das tropas da ONU no Haiti, diz ver semelhanças entre os atuais pedidos de intervenção militar e o período anterior ao golpe de 1964. O militar, que já declarou apoio ao pré-candidato Jair Bolsonaro (PFL), contudo, afirma que as Forças Armadas estão “vacinadas” e não pretendem tomar o poder. Mas escorrega: " É lógico que as Forças Armadas se sentem 'lisonjeadas' pela credibilidade que essas faixas demonstram, mas têm plena consciência de que esse não é o caminho. O caminho são as eleições que vão acontecer", disse o general, em entrevista ao jornal Folha de SP. 

Que alivio

Aliados do presidente Michel Temer (MDB) respiraram aliviados ao lerem as declarações do general da reserva Hamilton Mourão ao jornal Folha de SP. Espécie de ícone de intervencionistas, o militar desestimulou um golpe. O governo viu no gesto um reflexo da posição da cúpula das Forças Armadas.

Morde e assopra

Integrantes da cúpula das Forças Armadas demonstraram insatisfação com o fato de o governo Michel Temer (MDB) ter editado um decreto para envolver militares na desobstrução de rodovias e, depois, ter atuado para coibir ações mais incisivas. Segundo esses relatos, os apelos do Planalto para que não houvesse abordagens diretas a caminhoneiros apenas confirmaram que o alcance e o anúncio da convocação foram impróprios e serviram apenas para expor as tropas. As idas e vindas do governo não alarmaram apenas os militares. Integrantes do Congresso e do Judiciário criticaram a atuação claudicante do Planalto.

Caminhando e cantando e pedindo intervenção…

Opinião

“Uma coisa é ter opinião. Outra é achar que a Constituição é papel higiênico e as instituições democráticas (que levamos décadas para tentar construir) são um grande vaso sanitário. E defender que seu ponto de vista seja aplicado à força, através do fuzil e do canhão, em prejuízo à liberdade e à dignidade do restante da população.”, diz o Leandro Sakamoto sobre os pedidos de quarteladas.

Lunáticos

“Intervenção militar é um outro nome para golpe militar. Como ninguém gosta da pecha de golpista, recorre-se ao eufemismo. Vale recordar que o último golpe do gênero, de 1964, durou 21 anos. Chegou sob aplausos dos civis. Deu em tortura, censura e atraso institucional. Por sorte, muitos querem a volta dos militares, menos a cúpula militar. Pode-se odiar os políticos e a roubalheira. Mas falar em intervenção militar às vésperas de uma eleição é como tomar veneno tendo a vacina ao alcance do dedo. Coisa de lunático.”, afirma o jornalista Josias de Souza.

De olho neles

O Ministério Público Federal (MPF) investiga empresários e lideranças que pegaram carona na greve dos caminhoneiros para pedir intervenção militar no Brasil, por violação do Artigo 17 da Lei de Segurança Nacional, que prevê até 15 anos de prisão para quem "tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito". As ordens para investigações foram enviadas ontem pelo MPF para quatro estados – SP, GO, RS e SC – onde foram registrados atos insuflando manifestantes a pedir intervenção militar no país. Entre os alvos estão desde um empresário varejista do Sul que autorizou o incêndio de caminhões próprios para insuflar protestos até um sargento da reserva que incentiva um golpe militar em vídeo espalhado em grupos de WhatsApp. Alguns indivíduos são ligados a partidos políticos. São apurados também crimes como sabotagem e incitação "à subversão da ordem política ou social" e "à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais e instituições civis", cujas penas, somadas, podem chegar a 14 anos de reclusão.

Vídeo comprometedor

Um vídeo institucional da Federação de Empresas de Transporte de Carga do Estado de São Paulo (Fetcesp) é alvo de investigação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A peça, divulgada no último dia 11, fala em “sumir com caminhões” e em “caos para todo lado” ao narrar as consequências de uma paralisação de caminhoneiros durante cinco dias. A federação faz parte do grupo de 20 pessoas físicas e associações investigadas pelo Cade por suspeita de ação coordenada entre concorrentes para prejudicar a livre concorrência.

Ministro parceiro

O novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Ronaldo Fonseca, já pediu publicamente a renúncia do presidente Michel Temer (MDB). Um dia após a divulgação das gravações da delação de Joesley Batista, Ronaldo Fonseca foi ao Twitter para pedir a saída do emedebista: “Se Temer não renunciar, a economia vira pó”. No dia seguinte, voltou à rede social para cobrar coragem do agora seu chefe. “Presidente Temer, neste momento o Brasil merece um ato de coragem de vossa excelência, a renúncia”, publicou no dia seguinte.

Tá feio

A Polícia Federal encontrou o que considera ser o primeiro elo financeiro documentado entre o coronel João Baptista Lima Filho, amigo de Michel Temer (MDB), e a Rodrimar, empresa que é o foco da principal investigação em andamento sobre o presidente. Segundo a linha de investigação, a ligação entre o coronel e a Rodrimar se materializa na empresa Eliland, braço de uma offshore sediada no Uruguai.  Aberto em 2017, o inquérito busca esclarecer se Temer recebeu, por meio do militar aposentado, propina da Rodrimar em troca da edição de um decreto que teria beneficiado companhias que atuam no porto de Santos.

Taca tomate

Criador de uma campanha para que as pessoas atirassem tomates no ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Rocchi foi denunciado por apologia ao crime na semana passada. Ao depor na Polícia Federal, ele confirmou que criou o grupo “Tomataço” e que ofereceu R$ 300 para quem atirasse um tomate no magistrado. Disse ainda que tentou acertá-lo por seis vezes, em vão. Rocchi afirmou ainda considerar que não estava cometendo um crime, mas sim agindo “em defesa do povo brasileiro”.

Aécio fora

O senador mineiro Aécio Neves (PSDB) não deverá disputar a reeleição nem participar das eleições deste ano em função de sua alta rejeição popular. A medida tem duplo objetivo: evitar a constrangedora falta de apoio interno à sua candidatura e, externamente, não atrapalhar o desempenho dos pré-candidatos do PSDB à Presidência da República e ao governo de Minas, Geraldo Alckmin e Antonio Anastasia.

Demo na mira

O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação por improbidade administrativa contra o senador José Agripino (DEM-RN) e o ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro. Segundo o MPF, há indícios de que o parlamentar recebeu propina de R$ 1 milhão para beneficiar a empreiteira, uma das que integraram o esquema de corrupção desvendado pela Operação Lava Jato. Coube a OAS a construção da Arena das Dunas, em Natal (RN), para a Copa de 2014. Agripino já é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mesmo caso.

Tucano fora da mira

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento do inquérito contra o ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes. A investigação foi aberta para apurar suposta doação via caixa dois ao tucano em 2010. O inquérito teve origem na delação premiada do ex-executivo da empreiteira UTC Ricardo Pessoa. O delator afirmou em depoimento que teria acertado doação de R$ 500 mil à campanha de Aloysio Nunes ao Senado, em 2010. O tucano é senador se licenciou do mandato para ocupar o cargo de ministro. No pedido de arquivamento, Raquel afirma que não foram apresentadas provas para corroborar as delações, além de não haver dados suficientes para embasar o processo criminal.

Minoria protegida

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que os corruptos tornaram-se “uma minoria muito bem protegida no Brasil.” A despeito de desviarem milhões e manterem contas no exterior, essas pessoas “são libertadas a granel”, declarou, num congresso de magistrados, em Maceió. Embora não tenha mencionado nomes, Barroso soou como se criticasse o colega Gilmar Mendes. Adepto da política de celas vazias, Gilmar mandou soltar dez presos envolvidos em casos de corrupção apenas neste mês de maio.

Lula lá

O PT lança a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira (8), na cidade de Contagem, Minas Gerais. Com 39% das intenções de voto, o ex-presidente venceria a eleição ainda no primeiro turno, segundo nova pesquisa CUT/Vox Populi. Mesmo se houvesse segunda rodada, Lula – preso há 52 dias em Curitiba – também derrotaria qualquer adversário. Na pesquisa estimulada – em que os nomes são apresentados –, Lula tem 39%, ante 30% da soma dos adversários. Entre eles, Jair Bolsonaro (PSL), que aparece com 12%, Marina Silva (Rede), com 6%, Ciro Gomes (PDT), com 4%, Geraldo Alckmin (PSDB), com 3%, e Álvaro Dias (Podemos), com 2%. Já na pesquisa espontânea, Lula aparece com 34%, ante 10% de Bolsonaro. Ciro e Alckmin têm 3% cada.

Lula em SP

Pesquisa eleitoral do Ibope contratada pela Band e divulgada no último dia 28 aponta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso há 52 dias, lidera as intenções de voto para a presidência entre o eleitorado paulista. O petista aparece com 23% e é seguido por Jair Bolsonaro (PSL-RJ), com 19%. Em terceiro lugar consta o ex-governador Geraldo Ackmin (PSDB), com 13%, na frente de Marina Silva (REDE), que tem 9% das intenções. Ciro Gomes (PDT) somou 3% das intenções de voto e Álvaro Dias (Podemos), 2%. Brancos e nulos somam 21%.

Solta o homi

Um abaixo-assinado em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que circula na internet já tinha recebido mais de 308 mil adesões até as 14h da última quinta-feira (31). A iniciativa é de acadêmicos e intelectuais dos Estados Unidos, principalmente. No documento, eles afirmam que "sobram evidências" de que Lula "foi vítima de uma guerra jurídica (Lawfare), ou seja, abuso de poder judicial para fins políticos". E concluem que " a comunidade internacional deve considerá-lo e tratá-lo como um preso político", considerando que os "abusos" do Judiciário "configuram uma perseguição política mal disfarçada sob manto legal". O texto está publicado em diversos idiomas.

Carmen braba

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, voltou a descartar a candidatura de condenados em segunda instância: "O direito brasileiro não permite que haja, pela Lei da Ficha Limpa, o registro válido daquele que tenha sido condenado a partir de um órgão colegiado. Juridicamente, é isso que se tem no Brasil", afirmou, mandando recado aos petistas.


Direitos de volta

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá restabelecidos os direitos e as prerrogativas garantidos aos ex-presidentes da República. Os benefícios incluem dois motoristas, quatro seguranças e dois assessores, além de dois carros oficiais. Os direitos são garantidos pela Lei 7.474/86. Há 12 dias, uma decisão anterior da Justiça suspendeu esses direitos de Lula. No último dia 29 o Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região atendeu ao pedido da defesa do ex-presidente e assegurou o retorno dos benefícios. A decisão foi proferida pelo desembargador federal André Nabarrete Neto.

Gente bem doida

O que a jornalista Rachel Sheherazade, o cofundador do MBL Kim Kataguiri, o general Eduardo Villas Bôas e o articulista Rodrigo Constantino têm em comum?  Aos olhos do Brasil de 2018, uma queda pelo comunismo. É esse o rótulo, ao menos, que a extrema-direita vem atribuindo a alvos até aqui monopolizados pela esquerda do país. A desaprovação dessa turma à greve dos caminhoneiros propulsionou a fagocitose ideológica, com a direita da direita atacando a direita. 

Prende e solta

O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, mais conhecido como Paulo Preto, voltou a ser preso na quarta-feira (30). No dia seguinte, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes concedeu habeas corpus a ele e a filha, Tatiana Arana de Souza Cremonini.  Ex-diretor da Dersa, Paulo Preto foi preso preventivamente em 6 de abril pela Lava Jato em São Paulo. No começo de maio, Gilmar concedeu o primeiro habeas corpus. Preto é apontado como um dos operadores do PSDB. Ele é investigado por desvios nas obras do Rodoanel, entre 2009 e 2011, e por movimentar cerca de R$ 113 milhões em contas na Suíça.

Arquiva aí

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) enviou para o arquivo um processo disciplinar contra o procurador da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima. Ele estava na berlinda por ter reagido à insinuação de Michel Temer (MDB) segundo a qual o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot recebera propina para denunciá-lo no escândalo da JBS. “Temer foi leviano, inconsequente e calunioso…”, escrevera Carlos Fernando no Facebook.

Quadro bom

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula (PT) jogou um balde de água fria em deputados que foram visitá-lo na última terça (29) e tentaram puxar assunto sobre o eventual apoio do PT a Ciro Gomes (PDT-CE). “Ciro é um bom quadro. Mas não é um líder”, disse o ex-presidente, encerrando o assunto.

Doria 171

Um gráfico que mostrava uma barra distorcida das intenções de voto de João Doria, pré-candidato tucano ao governo paulista, foi retirada da página do PSDB-SP no Facebook após viralizar nas redes sociais. A imagem trazia os números da última pesquisa Ibope, em que Doria aparece com 22% das intenções de voto, seguido de Paulo Skaf  (15%), do MDB, Luiz Marinho (4%), do PT, e Márcio França (3%), do PSB. Só que a barra dos 22% de Doria batia quase na marca dos 90% do gráfico —o que também transformou, na representação, os 7 pontos de vantagem sobre Skaf em quase 70 pontos. Segundo a assessoria de Doria, a arte não foi produzida pela equipe de comunicação do pré-candidato, e o tucano pediu que o material fosse retirado do ar assim que soube de sua publicação. A assessoria de comunicação do PSDB explicou que “recebeu o material de militantes e o publicou”, sem revisar. Tá…

Tempos estranhos

Uma mulher foi proibida de entrar no Forte de Copacabana, na Zona Sul do Rio, por estar trajando uma camisa com dizeres em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na gravação, ela tenta argumentar que não estaria na área de visitação aberta ao público para fazer manifestações, mas o oficial do Exército se mostra irredutível. O Forte de Copacabana é uma área militar aberta ao público para visitação. No local, funcionam o Museu do Exército e restaurantes. No vídeo, a mulher insiste em explicar que estaria indo ao Forte de Copacabana apenas para tomar um sorvete. O militar, por sua vez, pede por algumas vezes para a mulher falar mais baixo. Quando ela pergunta se estava fazendo alguma manifestação ou perturbando a ordem pública, o oficial, em silêncio, apenas aponta para a camisa.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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