26/04/2024 - Edição 540

Brasil

Cinco mentiras que espalharam sobre Marielle

Publicado em 22/03/2018 12:00 -

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A intensa comoção causada pela execução da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, no último dia 14, tem gerado, além de manifestações e homenagens emocionadas, uma onda de acusações e notícias falsas, as chamadas fake news, sobre a trajetória política e pessoal da vereadora. Circulam pelo Whatsapp e pelas redes sociais, sem nenhum tipo de comprovação, boatos que vão desde a sua conexão com o crime organizado até o uso de drogas.

Entre os que já compartilharam fake news sobre a vereadora, estão até mesmo figuras públicas. Em sua conta no Twitter, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), um dos líderes da chamada bancada da bala, escreveu que Marielle era “ex-esposa do Marcinho VP”, traficante que comandava o tráfico na zona sul do Rio, “usuária de maconha” e “defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho”. O parlamentar disse ao Congresso em Foco que fez a postagem após ler “várias publicações”, já identificadas como falsas. Após a repercussão negativa, a postagem foi apagada.

Já no Facebook, a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) Marilia Castro Neves classificou Marielle como “cadáver comum” e a acusou de aliança com o crime. “A questão é que a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’; ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores”, escreveu ela.

Na tentativa de conter a circulação de notícias falsas, o departamento jurídico do Psol e familiares de Marielle Franco se mobilizaram em uma força-tarefa para identificar e denunciar as pessoas que têm utilizado as redes sociais para difamar a vereadora. As denúncias que configurem atentado à honra e à dignidade deverão ser encaminhadas para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. Voluntários também se uniram para criar uma página (www.mariellefranco.com.br/averdade) onde são enumeradas cinco notícias falsas contra a vereadora que têm circulado pela internet.

Veja quais são os boatos contra Marielle desmentidos pelo site:

“Marielle era ex-mulher do traficante Marcinho VP”: MENTIRA

A vereadora Marielle Franco nunca foi casada ou teve qualquer tipo de relacionamento com os traficantes identificados como Marcinho VP, seja Márcio dos Santos Nepomuceno, traficante do Complexo do Alemão preso desde 1997, ou Márcio Amaro de Oliveira, criminoso do Morro Santa Marta morto em 2003.

“Marielle foi eleita pelo Comando Vermelho”: MENTIRA

A vereadora nunca fez parte de qualquer facção criminosa. Eleita para seu primeiro mandato em 2016, com 46,5 mil votos, Marielle obteve a maior parte dos seus votos da Zona Norte do Rio de Janeiro, cerca de 47% do total; seguidos pela Zona Sul (34% dos votos), reduto tradicionalmente de classe média; Zona Oeste (18%) e Centro (1%). Na região do Bonsucesso, que abarca os eleitores do Complexo da Maré, – onde a vereadora nasceu e foi criada – ela recebeu apenas 7% dos seus votos. As informações são Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ).

“Marielle era usuária de maconha”: MENTIRA

A vereadora tinha entre suas bandeiras a luta por uma nova política de drogas, defendendo que a guerra ao tráfico se tornou, ao longo de décadas, uma fonte de violência, desigualdade e corrupção. Ainda assim, ela não era usuária de maconha ou de qualquer outro tipo de droga.

“Marielle engravidou aos 16 anos”: MENTIRA

Assasinada aos 38 anos, a vereadora deixou uma filha de 19 anos, Luyara Santos. A gestação, portanto, ocorreu entre os 18 e 19 anos de idade, e não aos 16.

“Marielle defendia bandidos”: MENTIRA

A vereadora do Psol questionava ações truculentas conduzidas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. “O 41º BPM está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados no valão”, denunciou ela na última semana, em uma de suas últimas postagens nas redes sociais. Ela, no entanto, nunca defendeu qualquer ato criminoso. Chegou a auxiliar, inclusive, familiares de policiais assassinados na época em que foi assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, de acordo com relatos de parentes das vítimas.

“Lutamos para que nenhum assaltante ou infrator seja torturado, amarrado à postes e executado. Defender isso é defender a garantia da nossa Constituição”, diz a página em defesa de Marielle. “Não é ‘defender bandido’, é defender que a lei seja cumprida. Justiça é diferente de vingança”, completa o texto.

Sobre Marielle

Socióloga com mestrado em Administração Pública, Marielle Franco nasceu em 27 de julho de 1979 e foi criada na Maré, complexo de favelas da periferia do Rio. A parlamentar cursou Sociologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC), com auxílio de uma bolsa integral, e concluiu o curso de mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF). Mulher, negra, favelada e companheira há 12 anos da arquiteta Monica Tereza Benício, a vereadora se destacava pelo ativismo em prol das minorias e da militância pelos direitos humanos.

Deputado mentiroso

A liderança do Psol na Câmara anunciou que vai entrar com representação no Conselho de Ética contra o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) por ter difundido nas redes sociais mensagem caluniosa e difamatória contra Marielle Franco. Depois de reproduzir texto que associava a vereadora à facção criminosa Comando Vermelho e ao narcotraficante Marcinho VP, Fraga apagou o tuíte e, em seguida, fechou sua conta no Twitter e no Facebook.

Fraga disse que não teve a intenção de propagar informação falsa e que se equivocou ao difundir o texto sem checar sua autenticidade. O partido de Marielle também vai representar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra a desembargadora Marilia Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

“A questão é que a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’, ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores. Ela, mais do que qualquer outra pessoa ‘longe da favela’ sabe como são cobradas as dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava”, postou a magistrada.

Um dos líderes da chamada bancada da bala, Fraga criticou a cobertura jornalística dada ao assassinato de Marielle e de seu motorista. “Por exemplo: morreram 27 policiais [em 2018] e não teve comoção. Morrem duas mulheres por hora, não tem comoção. Aí, é assassinada uma vereadora do Psol e transformam a mulher em mártir? Acabei de ver um vídeo com ela detonando a imprensa, ‘os inimigos do povo’, que seria a imprensa, a Rede Globo. Não vou entrar mais nessa questão. Como eu chequei e vi que as informações não tinham uma fonte idônea, aí falei [para o colega deputado]: ‘Você tem razão, vou retirar’. Mas não porque estavam me xingando, mas porque quero uma coisa justa”, afirmou o deputado.

Mas o próprio parlamentar admitiu que não fez a postagem por equívoco. “Eu vi várias publicações. E, em virtude da movimentação que a esquerda está fazendo em torno da morte da vereadora, insinuando sem nenhum indício, sem nenhuma prova, que a foi a polícia [a autora do assassinato], eu então eu vi o post – aliás, não foi um; foram vários posts – e retuitei. E, ao retuitar, um bando de fanáticos – que eu já conheço, e estou pouco me lixando para eles – começou a fazer xingamento”, disse o deputado.


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