29/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Olha quem está falando

Publicado em 23/05/2014 12:00 - Rodrigo Amém

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O depupastor Eurico (PSDB-PE) se dedicou a atacar a apresentadora Xuxa Meneguel na sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara desta quarta-feira (21) que discutia o projeto de lei que proíbe pais e responsáveis legais por crianças e adolescentes de baterem nos menores. De acordo com Eurico, a Xuxa não pode defender o fim do castigo físico de crianças e adolescentes. Por que? Porque ela já fez um filme onde erótico onde seduzia um garoto de 12 anos.

No filme em questão, bem ou mal (muito mal, pra ser sincero), Xuxa realizara um trabalho de atriz e condená-la por isso beira o medieval.  Deveria ser desnecessário dizer que confundir a Xuxa com o papel que ela interpreta é como condenar Robert Englund pela sua longa lista de assassinatos de jovens na pele de Freddy Krueger na série de horror “A Hora do Pesadelo”.

A Xuxa não pode falar do bem estar infantil porque, na opinião do Eurico, as opções artísticas do passado dela são reprováveis. Qualquer argumento que vier dela deve ser rechaçado imediatamente. De acordo com a mesma lógica, a Xuxa não pode opinar sobre produtos de beleza, porque tem 10 anos que ela só se lambuza de creme hidratante Monange.

Desqualificar uma ideia com base no comportamento passado do seu proponente é uma estratégia intelectualmente desonesta porque desvia o foco do debate.

Eurico, no entanto, não tem nada a declarar sobre o disco infantil-gospel de Carla Perez pós-boquinha da garrafa. Ou a carreira da pastora Suzane Richtofen. Quando conveniente, o discurso do “passado que desautoriza o argumento” é uma constante das argumentações de políticos, líderes religiosos e seus muitos hibridismos.

Desqualificar uma ideia com base no comportamento passado do seu proponente é o que chamamos de ataque “Ad Hominem”. É uma estratégia intelectualmente desonesta porque desvia o foco do debate.

A bancada conservadora fez desse tipo de ataque o principal discurso contra tudo que lhes interessa e é indefensável sobre o escrutínio da lógica e do bom senso. Quem defende o casamento gay é depravado, quem defende os direitos humanos é amigo de bandido. E a Xuxa, que é contra castigos físicos para crianças, só pode ser pedófila.

Por uma questão de coerência filosófica, imagino que o pastor Eurico deve se eximir de avaliar qualquer projeto de lei que regule a educação alimentar de crianças e adolescentes nas escolas públicas. Ele, obviamente, é suspeito pra falar de dieta.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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