29/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

A Era dos Candidatos Abjetos

Publicado em 02/02/2018 12:00 - Rodrigo Amém

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Courtland Sykes tem uma ambição: virar político, navegar a alta roda de Washington e ser paparicado por lobistas. Ele, como tantos outros, quer poder.

Mas até pouco tempo atrás, havia um preço a se pagar pela vida pública. Era necessário envolvimento com a comunidade, conhecer as mazelas da população, beijar muita criança melequenta em campanha. Mas, para a sorte de Sykes, tudo mudou.

Quanto Trump chegou ao poder empurrado pelos algoritmos dos hackers russos e o ressentimento do branco americano, um novo caminho se abriu. Courtland percebeu que poderia surfar a onda de intolerância e realizar seu sonho de poder.

Mas aí surgiu um problema: Sykes é do Arkansas. Um estado americano bem conservador, mas com os dois senadores já republicanos, cujas vagas não estarão na disputa em 2018. Como só Deus sabe quanto vai durar o governo Trump, Courtland sabia que não tinha tempo a perder: decidiu se mudar para um estado republicano onde um senador democrata estivesse tentando a reeleição.

Missouri é um "Estado Vermelho", ou seja, tradicionalmente republicano. A democrata Claire McCaskill é a senadora de lá. Em setembro do ano passado, Sykes se mudou para o Missouri e lançou sua candidatura ao Senado. Lembra do José Sarney no Amapá? Então.

Os conservadores aprenderam que esse teatrinho do ódio é a melhor forma manipular seus simpatizantes. Não precisa pensar soluções, projetos, programas de governo. Precisa só reafirmar os preconceitos de quem se ressente da evolução da sociedade.

Ainda no manual do candidato de Trump, Sykes está ganhando visibilidade para sua campanha não com propostas ou promessas, mas com controvérsias e polêmicas. Decidiu ser declaradamente machista. Duvida? Vou traduzir dois posts da página oficial do candidato no Facebook:

"Você é a favor dos direitos das mulheres"… "Bem, Chanel, minha noiva, me deu ordens para dizer que sou, então sim. Mas Chanel sabe que minha obediência vem com um pequeno preço que ela adora pagar…"

"Eu quero chegar em casa e encontrar o jantar feito por ela servido às seis toda noite. E eu espero que um dia eu tenha filhas que aprendam a cozinhar para se tornarem donas de casa e mulheres de família tradicionais. Eu não quero que elas cresçam obcecadas por suas carreiras, esquecendo das crianças e da felicidade da família para se transformarem em demônicas feministas".

A campanha de Sykes é tão abjeta quanto performática. Os conservadores aprenderam que esse teatrinho do ódio é a melhor forma manipular seus simpatizantes. Não precisa pensar soluções, projetos, programas de governo. Precisa só reafirmar os preconceitos de quem se ressente da evolução da sociedade.

No Brasil também teremos eleições influenciadas pelo algoritmo republicano. Mas aqui, o Trump é outro. E algumas bancadas já fazem escolhas cuidadosas sobre como, onde e com quem podem aumentar seus números no congresso.

Assim lá como cá, chegamos ao fim da era dos candidatos ridículos. Chegou o momento dos candidatos abjetos. Quem disse que pior não fica?

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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