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Trump estuda reconhecer Jerusalém como capital de Israel

Publicado em 01/12/2017 12:00 -

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O presidente dos Estados Unidos Donald Trump estuda reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, medida que deve aumentar a tensão no Oriente Médio e que é criticada pelos palestinos.

Quando era candidato a presidente, Trump disse que mudaria a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, mas a ideia vem sendo adiada por seu governo. O reconhecimento da cidade como capital seria uma forma de cumprir parte da promessa de campanha.

O anúncio deve acontecer nas próximas semanas, após meses de discussões internas na Casa Branca, de acordo com a agência de notícias Associated Press e a rede de TV CNN.

Fontes disseram aos dois veículos que Trump deu a confirmação para a medida nos últimos dias, apesar de algumas autoridades temerem que a decisão dificulte um acordo de paz entre israelenses e palestinos, que também reivindicam Jerusalém como sua capital.

O presidente estuda fazer um discurso na quarta-feira (6) com a decisão. Outra opção é que o vice, Mike Pence, faça o anúncio durante sua viagem para Israel em dezembro.

Pence declarou na última terça (28) que Trump estudava "quando e como" mudar a embaixada para Jerusalém. A expectativa é que a transferência seja adiada por pelo menos seis meses.

Oficialmente a Casa Branca negou que qualquer decisão já tenha sido tomada. A porta-voz Sarah Sanders disse que qualquer anúncio nesse sentido seria "prematuro".

A mudança da embaixada e o reconhecimento de Jerusalém como capital podem dificultar os esforços de um acordo de paz liderados por Jared Kurshner, genro e assessor do presidente.

Uma lei de 1995 assinada pelo então presidente Bill Clinton, determina que a embaixada seja transferida de Tel Aviv para Jerusalém, mas abre uma brecha. A cada seis meses, o presidente pode assinar uma ordem adiando a decisão por um semestre por questões de segurança.

Desde 1995, todos os presidentes assinaram a ordem para impedir a mudança, incluindo o próprio Trump em junho. Na ocasião, a Casa Branca disse que a transferência ainda era um objetivo para o futuro próximo.

O presidente tem até o fim do ano para assinar uma nova ordem para adiar a mudança mais uma vez e a expectativa é que ele faça isso na segunda-feira (4).

Aliados americanos no Oriente Médio, como o rei Abudallah 2º bin Al-Hussein, da Jordânia, já pediram a Trump para que não altere a posição americana de que o reconhecimento de Jerusalém como capital depende de uma negociação entre Israel e palestinos.

A medida também encontra resistência entre conselheiros de Trump, incluindo os secretários de Estado, Rex Tillerson, e da Defesa, James Mattis.

Eles argumentam que uma possível transferência da embaixada possa aumentar as tensões contra os americanos na região, ameaçando a segurança dos diplomatas e das tropas militares em países árabes ou de maioria muçulmana.

Por isso, Trump teria decidido emitir a nova ordem adiando a transferência da embaixada por mais seis meses, ao mesmo tempo em que faria a declaração reconhecendo Jerusalém como a capital israelense.

Para evitar problemas diplomáticos, uma das possibilidades é que a Casa Branca também indique no anúncio que um futuro Estado Palestino tem direito de ter Jerusalém Oriental como sua capital.

Há ainda um desafio legal para a medida, já que o Conselho de Segurança da ONU não reconhece a soberania de Israel sobre Jerusalém.

Vídeos anti-islã

Na manhã da quarta-feira (29) o presidente Donald Trump provocou indignação internacional quando compartilhou uma série de vídeos mostrando muçulmanos sob ótica negativa.

Filmados em três países e em três momentos diferentes, os vídeos têm uma coisa em comum: todos afirmam mostrar violência praticada por muçulmanos, e nenhum deles oferece alguma explicação clara do que acontece diante das câmeras.

Mas um olhar mais cuidadoso voltado aos clipes, que foram tuítados originalmente por Jayda Fransen, da organização ultranacionalista Britain First (Reino Unido em Primeiro Lugar), e depois retuítados por Trump, revela que um vídeo representa equivocadamente os fatos do que o espectador vê, enquanto os outros dois não contextualizam o que acontece.

Segue uma análise do que sabemos sobre os vídeos.

1. O "migrante muçulmano" espancando um garoto holandês também era holandês

O primeiro vídeo mostrou um adolescente atacando outro garoto e foi apresentado no tuíte como sendo imagens de um "migrante muçulmano" atacando um jovem holandês.

Mas, segundo autoridades locais, os dois rapazes são holandeses e nenhum deles é migrante.

O vídeo foi filmado em maio em Monnickendam, cidade pequena na província holandesa de Holanda do Norte. Ele mostra um adolescente chutando e socando um garoto que segura uma muleta.

A promotoria pública da província disse que o agressor é um rapaz de 16 anos "nascido e criado na Holanda". Ele foi preso depois de o vídeo vir à tona.

O vídeo não dá nenhum indício sobre as origens de qualquer dos dois rapazes. Ambos falam holandês no clipe.

Marleen van Fessen, assessora de imprensa da promotoria pública, disse em comunicado que o agressor foi sentenciado dentro de um programa para infratores menores de idade.

Ela se negou a falar da religião de qualquer dos rapazes, dizendo que não é política da promotoria comentar essas informações. Mas disse que a divulgação rápida do vídeo sem os fatos é nociva.

"As notícias se espalham rapidamente, mesmo notícias locais", ela disse. "Quando falta o contexto de uma informação, está claro que isso pode prejudicar sua confiabilidade."

Na tarde da quarta-feira, a conta de Twitter oficial da embaixada da Holanda nos Estados Unidos chamou a atenção do presidente para os fatos do caso. ".#realDonaldTrump. Os fatos têm importância. O perpetrador do ato violento visto neste vídeo nasceu e foi criado na Holanda. Ele recebeu e completou sua sentença conforme o previsto na lei holandesa."

Não está claro de onde veio a versão dos fatos apresentada por Fransen quando ela tuítou o vídeo na manhã de quarta-feira com a legenda "migrante muçulmano espanca garoto holandês de muletas!". A organização Britain First não respondeu a pedidos de declarações.

2. Estátua da Virgem Maria destruída por extremista sírio

O segundo vídeo retuítado por Trump mostra um homem destruindo uma estátua de Nossa Senhora na Síria.

O tuíte original com o vídeo descreve o homem simplesmente como "muçulmano". Mas ele é um clérigo extremista sírio, Abo Omar Ghabra, que na época integrava o grupo militante islâmico Jabhet al-Nusra. A destruição de iconografia religiosa realizada por grupos extremistas islâmicos é condenada há anos pela população muçulmana maior. Esse contexto não é mostrado no tuíte.

O incidente ocorreu em outubro de 2013 em Qunaya, um vilarejo na zona rural norte da província síria de Idlib, segundo Nazir Abdo, 28, que vivia no povoado na época.

Abdo hoje trabalha como ativista de mídia que documenta violações dos direitos humanos na Síria. Ele foi contatado na Turquia pelo telefone. Disse que o clérigo mais tarde ingressou na milícia terrorista Estado Islâmico, em Raqqa, mas fugiu quando a cidade foi capturada por forças apoiadas pelos Estados Unidos. Ghabra acabou sendo detido por rebeldes sírios em Aleppo.

Antes desse incidente, militantes do Jabhet al-Nusra destruíram a golpes de machado outra estátua de Nossa Senhora na rotatória principal da cidade. Mais tarde, hastearam sua bandeira no local.

As imagens de Ghabra foram circuladas amplamente por vários grupos em 2013, incluindo a emissora noticiosa estatal iraniana Al Alam e o site de direita InfoWars, de Alex Jones, que frequentemente propaga rumores e teorias conspiratórias. O vídeo continuou a ser retransmitido no mundo das emissoras e dos sites antimuçulmanos e de extrema direita e dos ativistas da mídia conservadora.

3. Homem sendo empurrado do alto de um prédio no Egito

O último clipe retuítado por Trump foi descrito no tuíte original como "turba islâmica empurra adolescente de um telhado e o espanca até a morte!".

As imagens foram filmadas em 5 de julho de 2013, durante choques no bairro de Sidi Gaber, em Alexandria, no Egito, entre partidários de Mohammed Mursi, que havia sido afastado havia pouco da Presidência para a qual fora eleito democraticamente, e seus adversários. Essa informação estava faltando no tuíte, assim como qualquer explicação da situação política complexa vigente no Egito na época.

O incidente ocorreu dias depois de as forças armadas egípcias terem deposto Mursi, num momento em que as tensões estavam em alto nível em todo o espectro político.

Após a derrubada de Mursi ocorreu uma onda de enfrentamentos em diferentes pontos do país entre seus partidários, seus adversários e a polícia. Essa violência foi superada mais tarde pela ação dos militares ao dispersar protestos islâmicos no Cairo em agosto daquele ano, em que 800 manifestantes foram mortos em um único dia.

Um homem é visto no segundo plano do vídeo carregando uma bandeira negra, que inicialmente era usada por muitos partidários de diferentes grupos islâmicos, até tornar-se sinônimo do Estado Islâmico.

O homem com a bandeira negra, Mahmoud Ramadan, foi condenado pela morte de um dos adolescentes empurrados do telhado; ele foi enforcado em março de 2015. Acredita-se que os adolescentes sobre o telhado estavam atirando pedras nos manifestantes antimilitares, o que pode ter provocado o ato de violência capturado no vídeo, segundo a mídia estatal egípcia.

Embora o vídeo claramente mostre um ato de violência, tuitá-lo sem fornecer o contexto dos fatos não leva em conta a agitação política daquele momento e as ações das muitas partes envolvidas, movidas por suas filiações políticas.


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