26/04/2024 - Edição 540

Poder

Diante de crise política, partidos mudam de nome para atrair eleitores em 2018

Publicado em 20/09/2017 12:00 -

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Diante de tanto descrédito – fruto de uma onda de corrupção e descaso com o bem público – os partidos políticos brasileiros estão adotando uma estratégia de marketing: mudar de nome.

O último a aderir ao “jaguané político” foi o DEM, que já foi PFL. Pesquisa encomendada pelo partido aponta que o nome "Mude" é o mais aceito entre os eleitores para a legenda passar a se chamar. Outro nome estudado era "Centro", que não teve tanta aceitação, segundo o levantamento. A mudança no nome do partido tem sido discutida paralelamente ao movimento para incorporar dissidentes do PSB e renovar a imagem da legenda. O DEM tem origem na antiga Arena, que virou o PDS e, posteriormente, se tornou o PFL.

O PTN já efetivou a troca para Podemos. O PTdoB virou Avante. O PSDC se intitula agora Democracia Cristã. O PEN quer passar a ser denominado Patriota.

No PMDB, há um estudo para que a legenda resgate as origens e volte a ser MDB, como na época da ditadura, em que fazia oposição ao regime militar. O presidente da sigla, senador Romero Jucá (RR), chegou a defender a ideia em 2016, mas a discussão não foi adiante.

Podemos, antigo PTN

Presidente do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP) explica que a troca do nome Partido Trabalhista Nacional (PTN), realizada no final de 2016, aconteceu após um longo estudo e que não foi feita pensada em 2018.

Ela, porém, reconhece que a mudança deverá ajudar a sigla nas urnas. “A maior parte dos brasileiros não se identifica com partido nenhum. E queremos superar esse debate de direita-esquerda. Queremos ser um movimento e escolhemos ‘Podemos’ porque foi a palavra que mais aparecia nas nossas pesquisas, por representar um empoderamento. A ideia é distanciar da crise política e mostrar uma reaproximação com a sociedade”, afirma Renata.

A intenção dentro da legenda é lançar o senador Álvaro Dias (Pode-PR), recém-incorporado ao partido, como candidato à Presidência da República.

Avante, antigo PTdoB

No Avante, a nova denominação, após 27 anos como Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB), faz parte de uma estratégia para aumentar o número de parlamentares eleitos em 2018, segundo o deputado federal Silvio Costa (PE). Atualmente, a bancada na Câmara tem apenas três nomes.

O presidente da legenda, deputado federal Luis Tibé (MG), diz que o novo nome é uma tentativa de “humanizar a política” e atrair quadros com uma preocupação de falar mais diretamente com a população.

“Buscamos pessoas que acreditam no mesmo que nós: na política do bem, na transparência e em um novo modo de atuar em favor do cidadão. Por isso, chegou um momento em que precisávamos incorporar esses ideais ao nosso nome e sermos reconhecidos por isso”, declara.

PEN

Objetivo semelhante tem o Partido Ecológico Nacional (PEN), que irá mudar para Patriota e, com isso, espera abrigar o deputado Jair Bolsonaro (RJ), que hoje está no PSC e tem planos de se lançar candidato ao Palácio do Planalto em 2018.

“Além de buscar a eleição do presidente da República, vamos impulsionar o partido de forma grandiosa e aumentar a bancada”, explica o líder do partido na Câmara, deputado federal Junior Marreca (MA).

Segundo Marreca, a meta é fazer um “resgate daquilo que a população quer: o patriotismo, a família, a integridade e a política de forma séria”.

Muda nada

A simples mudança de nome, porém, é vista com ceticismo por cientistas políticos, que consideram a estratégia somente uma jogada de marketing.

Na avaliação de David Fleischer, Universidade de Brasília (UnB), alterar o nome representa “apenas uma mudança de fachada” e que é preciso haver uma reforma política profunda.

Roberto Romano, professor de política e ética da Universidade de Campinas (Unicamp), também considera ser algo pouco eficaz para o eleitor brasileiro. “Os marqueteiros acham que mudando a sigla ou trocando por uma palavra mais significativa vão atrair a atenção dos eleitores. Mas o eleitor brasileiro foi acostumado, e isso é muito ruim, a não votar tanto em legendas, mas em indivíduos”, pondera. Dessa forma, ele acredita que o nome é “o que menos importa nesse momento de crise”.

De acordo com Romano, a tendência de trocar as siglas por palavras também tem uma explicação ligada às coligações partidárias.

Como é comum partidos usarem no nome termos como “socialista” ou “liberal” para indicar o seu posicionamento político, na hora de fazerem alianças, causava um certo estranhamento a união de partidos com ideologias diferentes. Com a mudança do nome por palavra, isso ficará menos evidente.

“Antes, os partidos utilizavam o nome como uma condensação do programa. Se era socialista, carregava isso no nome. Hoje, os partidos buscam palavras mais genéricas para representar a sigla, ao invés de carregar no nome ideologias”, diz Romano.


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