19/04/2024 - Edição 540

Brasil

Trump quer pressionar Temer a tomar medidas contra Venezuela

Publicado em 14/09/2017 12:00 -

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No jantar que terá com o presidente Michel Temer (PMDB-SP) na próxima segunda (18), o presidente dos EUA, Donald Trump, espera ouvir do homólogo propostas de ações que o Brasil possa tomar para pressionar mais Caracas.  Além de Temer, estará no encontro o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e, possivelmente, o peruano Pedro Pablo Kuczynski.

Segundo um alto funcionário do governo americano, os EUA reconhecem os esforços feitos pelo Brasil até agora, como sua atuação na suspensão da Venezuela do Mercosul e na reunião de agosto em Lima, quando 12 países concordaram em não aceitar decisões tomadas pela Assembleia Constituinte convocada por Maduro. No entanto, Trump quer que outros países de peso na região, como Brasil, tragam para a mesa "as ações mais eficientes que possam tomar".

"Adoraríamos ver o presidente Temer vir preparado para discutir mais ações que o Brasil poderia tomar", disse o alto funcionário à Folha. A ideia é que sejam ações que possam impactar o regime de Maduro, com o objetivo de restaurar a democracia, segundo o representante do governo Trump.

"Não há dúvida de que o Brasil pode ter um grande papel, e o presidente Trump está muito interessado em ver o presidente Temer se pronunciar sobre isso."

Um dos exemplos de ações citado é o do Panamá, que recentemente estabeleceu a obrigatoriedade de visto a venezuelanos —com exceção para quem chegar ao país como refugiado. Na visão do governo americano, esse foi um movimento inteligente, que tem um impacto sobre pessoas próximas a Maduro, de dentro do governo.

Para Trump, o motivo do jantar com os três presidentes sul-americanos é a crise na Venezuela, mas nada impede que temas bilaterais, como comércio ou cooperação em defesa, sejam tratados. A expectativa, porém, é que não haja tempo para transpor o tema principal.

Os EUA tentam minimizar o fato de o vice-presidente, Mike Pence, não ter visitado o Brasil em seu tour recente pela América Latina, quando o assunto dominante foi a crise venezuelana.
Segundo o alto funcionário, o país ainda é visto como importante líder na região. Pence passou por Colômbia, Argentina, Chile e Panamá.

Diálogo

Representantes do governo venezuelano e da oposição viajaram na quarta-feira (13) para a República Dominicana para iniciarem um processo que pode levar a uma nova rodada de conversas entre os dois lados. Ambos os grupos aceitaram o convite do presidente dominicano, Danilo Medina, para tentarem negociar um acordo que ponha fim a crise que atinge a Venezuela.

Os diálogos em si, porém, ainda devem demorar para começar. No momento, governo e oposição se encontraram separadamente com Medina para estabelecerem as condições de negociação. "Conversando as pessoas se entendem, é isso que viemos dizer, vamos nos sentar e discutir para chegar a um acordo", disse Jorge Rodríguez, indicado pelo ditador Nicolás Maduro como represente do governo nas conversas.

Segundo ele, governo e oposição estão "muito perto de resolverem alguns pontos essenciais."

A oposição, que está representada por um grupo de deputados e dirigentes, avisou que a ida para a República Dominicana não significa um início de diálogo.

Para que as conversas de fato avancem, a coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática), apresentou na terça (12) uma série de exigências, entre elas a realização de uma eleição presidencial em 2018, a libertação de opositores presos, o respeito a autonomia do Parlamento (que tem maioria oposicionista) e uma ação imediata para resolver a crise econômica no país. Maduro não respondeu se aceita as condições.

"Para um diálogo, devem estar o Vaticano, a ONU, os governos democráticos com peso mundial, tudo com uma agenda clara e com garantias. Isso é possível? Maduro tem a resposta", disse nesta quarta o líder opositor Henrique Capriles.

Céticos

O governo americano é cético. Para Trump, só é "razoável" sentar à mesa com Maduro depois que Caracas demonstrar boa vontade em negociar, libertando presos políticos, estabelecendo um cronograma para eleições nacionais e respeitando a Constituição. A visão de Washington é que não se deve permitir que Maduro use mais uma vez o diálogo como tática para ganhar tempo.

O movimento para convencer países da região a pressionar Maduro se deve, em parte, à decepção dos EUA com a Organização dos Estados Americanos. Desde o início, o governo Trump defendia que a solução para a crise da Venezuela passasse pelo organismo. No entanto, a falta de apoio dos países caribenhos travou grande parte das decisões na OEA.

"A OEA continua sendo um veículo que apoiamos e que esperamos que nos apoie, mas não vamos parar de avançar porque há problemas estruturais na organização", disse o funcionário, ressaltando que os países que travaram as ações possuem menos de 10% da população da região.


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