28/03/2024 - Edição 540

Brasil

Justiça suspende decreto que extingue reserva na Amazônia

Publicado em 30/08/2017 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Uma decisão da 21ª Vara Federal em Brasília suspendeu “todo e qualquer ato administrativo” para extinguir a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), conforme prevê decreto assinado semana passada pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP). A Advocacia-Geral da União já anunciou que vai recorrer ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região para suspender a liminar concedida pelo juiz Rolando Spanholo em resposta a uma ação popular.

Spanholo rejeita o instrumento utilizado pelo presidente para extinguir a reserva e liberar a exploração privada de mineração na região que tem o tamanho do estado do Espírito Santo, localizada entre os estados do Amapá e Pará. A área é rica em ouro, entre outros minérios.

Para o juiz, a medida só pode ser tomada caso seja aprovada pelo Congresso Nacional por meio de lei. Segundo ele, por se tratar de mudança no uso de recursos naturais na Floresta Amazônica, o assunto não pode ser definido exclusivamente por vontade do presidente da República.

Na última terça-feira (29) o Ministério Público Federal pediu à Justiça Federal a suspensão do decreto. “É uma afronta à Constituição e mantém o meio ambiente sob ameaça de ‘ecocídio’”, sustentam os procuradores. Para a procuradoria, novo decreto publicado pelo governo sobre o assuno no início da semana não difere do texto revogado. O novo texto foi interpretado como um recuo do Executivo à repercussão negativa do ato.

A crítica também é feita pela ONG ambientalista WWF-Brasil. A versão do governo de que o novo decreto torna as regras mais claras de proteção ambiental para a mineração na antiga reserva é apenas uma “maquiagem”, não traz alterações significativas, mantém a extinção do Renca e não inibe a exploração privada em área na Região Amazônica, equivalente ao território da Dinamarca.

A entidade alega que a única novidade trazida no novo texto é a criação do Comitê de Acompanhamento das Áreas Ambientais da Extinta Renca, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República. No entanto, o diretor executivo do WWF-Brasil, Maurício Voivodic, alega que a efetividade desse comitê depende de ações e soluções conjuntas entre setores econômicos e ambientais.

“A efetividade do Comitê proposto no novo decreto dependerá de uma política pública consistente para o setor da mineração, que inclua salvaguardas socioambientais e um pacto junto aos estados. E isso está longe de ser considerado no atual governo, incapaz de fazer neste momento uma mobilização que agregue os setores econômico e ambiental em torno de um projeto sustentável para a Amazônia”, defende Maurício.

O principal minério da reserva é o ouro, e não o cobre, como sugere o seu nome. Também há ferro, manganês e tântalo. Desde 1984, a exploração na Renca era permitida apenas à estatal Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). O novo texto mantém a extinção da reserva.

Petição virtual

Uma petição virtual contra a proposta do governo já tem o apoio de mais de 700 mil pessoas, em apenas três dias no ar. O objetivo dos organizadores do manifesto “Impeça que a Amazônia vire um deserto”, publicado na plataforma Avaaz, é reunir 750 mil assinaturas. A proposta também gerou protestos de ambientalistas e artistas nas redes sociais, como Gisele Bündchen, Ivete Sangalo, entre outros.

“Pedimos o abandono total e definitivo da PL 8.107/17. Exigimos também que ouçam o apelo do povo brasileiro e parem, de uma vez por todas, de passar leis, decretos e qualquer outra medida legislativa irresponsável para agradar interesses da bancada ruralista e outros poderosos. Esse abuso gera o desmate e destruição irreversível da floresta Amazônica, patrimônio da humanidade das gerações atuais e futuras”, ressalta o abaixo-assinado.

Explicações

Amigo do presidente Michel Temer, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes fixou prazo de dez dias para que o presidente explique o propósito do decreto que extinguiu a reserva.

Ao determinar o prazo para explicações, Gilmar Mendes dá andamento a ação movida pelo Psol contra o decreto presidencial.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *