29/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Somos todos baleias

Publicado em 01/05/2014 12:00 - Rodrigo Amém

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"Neymar" diz que somos todos macacos. Tudo junto com hashtag. "'Neymar", é bem intencionado em seu posicionamento anti-racismo. Mas sua infância muito ocupada como astro precoce deve ter lhe custado algumas aulas de biologia que, na época, pareciam só úteis aos demais mortais disprovidos de talento dentro das quatro linhas. Não somos macacos.

Biologicamente, somos parecidos. As semelhanças genéticas chegam a mais de 97%. Mas é só isso. Não somos descendentes deles. Pelo contrário, temos ancestrais em comum, como todos os primatas. Mas dizer que somos todos macacos é tão correto quanto combater o bullying contra um obeso dizendo que #SomosTodosBaleias. Não somos, não importa o que diz o preconceituoso ou a balança. Ou o "Neymar". Mas, é claro, a questão não é biologia. É o preconceito. E eu concordo.

Chamar um ser humano de macaco é extremamente ofensivo. Macacos não agridem outros macacos por causa da cor do seu pelo ou suas preferências futebolísticas. Macacos não matam seus pequenos para impedir a divisão de seus bens. Macacos não se acham superiores pela quantidade de dinheiro que têm. Tampouco fazem música sobre isso. Macacos não se metem na vida sexual alheia. Macacos não matam por inveja. Macacaos não condenam a religião alheia. Macacos não poluem o planeta para garantir o bônus anual e conseguir pagar as cirurgias plásticas de suas esposas macacas. Macacos não mentem. Macacos não crucificam macacos por serem bons. Macacos não contratam agências de publicidade para elaborar suas respostas a ofensas pessoais. Macacos nunca venderiam camisetas para lucrar com a luta contra o preconceito. Macacos não se julgam melhores que ninguém.

Não somos todos macacos. Nem somos todos humanos. Alguns de nós são empresas.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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