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Câmara pode suspender recesso para votar denúncia contra Temer

Publicado em 16/06/2017 12:00 -

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O empresário Joesley Batista, um dos donos da empresa JBS, prestou depoimento à Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (16), em Brasília, no inquérito que investiga o presidente Michel Temer e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures. Segundo a defesa do empresário, ele "reforçou a verdade dita no depoimento por ocasião da colaboração, apenas a verdade dos fatos, ou seja, confirmou o que já foi dito e provado".

Temer e Loures são investigados no inquérito por organização criminosa, obstrução de justiça e corrupção passiva com base na delação do empresário. O Supremo Tribunal Federal (STF) deu prazo até segunda-feira (19) à PF para conclusão do inquérito.

Batista afirmou na delação que deu dinheiro para Loures – parte do qual seria supostamente destinado a Temer – com a intenção de ser favorecido pelo governo. A PF filmou o ex-deputado, ex-assessor especial do presidente, saindo de um restaurante em São Paulo com uma mala com R$ 500 mil em dinheiro.

Joesley Batista também registrou, com um gravador escondido, conversa com Temer na noite de 7 de março, na residência oficial do Palácio do Jaburu, na qual disse que pagava mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha para que ele permanecesse em silêncio. Na interpretação da Procuradoria Geral da República, Temer deu "anuência" a esses pagamentos. Cunha nega ter recebido.

Há expectativa de que na próxima semana o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente ao STF denúncia contra o presidente, que, para ser analisada pelo tribunal, necessitará de autorização do plenário da Câmara dos Deputados.

O presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) cogita suspender o recesso da Câmara caso Janot apresente denúncia contra o presidente. O recesso parlamentar é previsto pela Constituição entre os dias 17 e 31 de julho.

Desde o início da semana, a estratégia adotada pelo Planalto é que, assim que recebida, a denúncia seja votada o mais rápido possível, uma vez que Temer acredita ter os 172 votos necessários para barrar o pedido da PGR. Ela seria analisada primeiro pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde a base de Temer é maioria.

Um dos principais aliados do Planalto na Câmara, o deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS) disse que uma denúncia da PGR poderia trazer prejuízos à economia. “Uma nova denúncia contra o presidente tem a possibilidade de trazer prejuízos à economia brasileira. Ela só deve acontecer se, efetivamente, existirem bases sólidas e provas factíveis que justifiquem uma atitude desta magnitude”, disse o peemedebista.

Do lado oposicionista, o petista Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que a renúncia de Temer e a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que anteciparia o pleito de 2018 é a solução para a crise política que o País enfrenta. Teixeira também disse outra frente de atuação da oposição é a aprovação, pela Câmara, do pedido para processar Temer.

Funaro diz que Temer sabia de pagamentos ilegais ao PMDB

O doleiro Lúcio Bolonha Funaro também prestou depoimento à Polícia Federal e assumiu ter operado caixa dois do PMDB. Além disso, sustentou que o presidente Michel Temer tinha pleno conhecimento de doações ilícitas de campanha feitas à legenda. Funaro foi questionado no âmbito do inquérito que investiga Temer no STF.

Entre outras coisas, no depoimento que ainda está sob sigilo, o doleiro falou sobre o esquema de nomeações a cargos públicos articuladas pelo PMDB e que funcionavam com associações a desvios de recursos. Temer foi presidente da legenda durante o período de 2001 a 2016. A assessoria da presidência negou que ela tenha tido conhecimento de financiamento ilegal de campanha para a sigla.

Funaro negou que ele ou seus familiares tenham recebido recursos da J&F, holding que controla a JBS, para se manter calado. De acordo com ele, os recebimentos de recursos da JBS estão ligados a três contratos legais que o empresário mantinha com ele para prestação de serviços em operações de mercado.

Sobre a mala recebida por sua irmã, Roberta Funaro, com R$ 400 mil em dinheiro vivo, também é parte de um pagamento realizado pelos serviços lícitos apontados por ele à PF. Roberta Funaro chegou a ser presa na Operação Patmos, deflagrada a partir das delações da JBS. As investigações ligam a mala à compra do silêncio do operador pelos empresários da JBS, conforme gravação com Temer.

Funaro está preso há quase um ano. Apesar de ter contratado um advogado especialista em delação premiada, ainda não há informações de que o acordo tenha sido fechado.

Eduardo Cunha, que também prestou depoimento na última quarta-feira (14), afirmou que seu silêncio “nunca esteve à venda” e que nunca foi procurado pelo presidente Michel Temer ou interlocutores do presidente com esse objetivo.


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