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Artigo da Semana

Ter ou não ter filhos: eis a questão

Publicado em 31/05/2017 12:00 -

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Os dados do IBGE mostram que cresceu significativamente o número de casais brasileiros que opta por não ter filhos. Hoje, são 19,9%. Em 1960, a média de filhos por mulher era 6,3. Hoje, é 1,7.

As brasileiras, especialmente as que têm maior escolaridade e renda, além de terem menos filhos (ou não terem), estão adiando a maternidade para depois dos 30 anos.

Para a minha geração, a principal identidade feminina era (e, para muitas mulheres, ainda é) a de mãe e esposa.

Apesar da cobrança social e da pressão das amigas, decidi, desde muito jovem, que não teria filhos. Nunca fiz uma apologia ou defesa militante da minha opção, mas fui muito questionada, especialmente pelas mulheres.

"Você acha normal não querer filhos? Você tem alguma doença? Algum trauma psicológico?"

"Quem vai cuidar de você na velhice? Você quer ser uma velha infeliz, solitária e abandonada?"

Cada casal, cada mulher e cada homem têm o direito de escolher livremente a sua forma de viver, de amar e de ser feliz, sem sofrer preconceitos e violências.

"Você não sabe que só tendo filhos vai se sentir plena como mulher, conhecer o verdadeiro amor incondicional?"

"Lembra do poema do Vinícius? 'Filhos? Melhor não tê-los. Mas se não os temos, como sabê-lo?'"

Recentemente, no entanto, tenho escutado um discurso oposto de algumas mulheres que, no passado, criticaram duramente a minha opção.

Uma amiga, com filhos de 23 e 25 anos, disse: "Você fez a decisão mais certa e corajosa. Meus filhos só me dão trabalho. Só me procuram para pedir dinheiro e quando estão com problemas. Nunca me ligam para saber se estou bem, de uma forma desinteressada".

Outra, com filhos de 29 e 32 anos, contou: "Com o que ganho como aposentada, não tenho mais como dar muito dinheiro para meus filhos. Eles estão revoltados, não reconhecem tudo que sempre fiz por eles. Dizem que sou egoísta, já que minha obrigação seria sustentá-los pelo resto da minha vida. Eles acham que são artistas. Na verdade, são dois parasitas".

A opção por não ter filhos está se tornando cada vez mais ampla e legítima em nosso país, como já acontece em outras sociedades.

Cada casal, cada mulher e cada homem têm o direito de escolher livremente a sua forma de viver, de amar e de ser feliz, sem sofrer preconceitos e violências.

Você acredita que as mulheres e os homens que decidem não ter filhos irão, na velhice, se arrepender de suas escolhas?

Mirian Goldenberg – Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro


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