25/04/2024 - Edição 540

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Após demissão, Trump alerta ex-chefe do FBI contra vazamentos

Publicado em 12/05/2017 12:00 -

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou nesta sexta-feira (12) o ex-diretor do FBI (polícia federal americana), James Comey, contra vazamentos de informações confidenciais. Comey, que comandava uma investigação sobre o suposto conluio entre assessores do republicano e autoridades russas durante a campanha eleitoral, foi demitido nesta semana de maneira abrupta.

"É melhor James Comey torcer para que não haja 'gravações' de nossas conversas antes que ele comece a fazer vazamentos para a imprensa!", disse Trump em um canal oficial.

Em ocasiões anteriores, o presidente citou conversas que teve com Comey e afirmou que o então diretor do FBI havia lhe garantido que ele não alvo direto das investigações. Já o jornal "New York Times" relatou um jantar entre ambos em janeiro em que Trump teria pedido "lealdade" ao diretor do FBI, que relutou e prometeu apenas "honestidade" –a conversa foi interpretada como um prenúncio da demissão.

A demissão de Comey na terça-feira (9), ocorrida poucas horas depois de o FBI corrigir declarações de seu então diretor sobre um caso envolvendo a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, provocou uma crise institucional em Washington.

A oposição democrata e até mesmo alguns congressistas republicanos consideram que a decisão de demitir Comey representa um "abuso de autoridade" do presidente e que foi uma tentativa de abafar as investigações do FBI sobre os contatos entre a equipe de campanha de Trump e a Rússia.

Desde o início da crise, o governo Trump tem apresentado justificativas contraditórias para a demissão no FBI. Enquanto a Casa Branca sustentou que a decisão nada tem a ver com o inquérito sobre a Rússia, o presidente disse em entrevista à rede NBC na quinta que levou em consideração "esta história inventada" sobre a Rússia.

"De novo, a história de que houve conluio entre russos e a campanha de Trump foi forjada pelos democratas como desculpa por terem perdido a eleição", reafirmou o republicano nesta sexta.

Trump também se defendeu das críticas sobre a confusão na narrativa oficial sobre o episódio. "Sendo um presidente muito ativo e com muitas coisas acontecendo, não é possível que meus subordinados apareçam no púlpito com precisão perfeita", afirmou o republicano. "Talvez o melhor saída seria cancelar todas as 'entrevistas coletivas' futuras e entregar respostas por escrito para primar pela precisão??"

As supostas relações entre auxiliares de Trump e autoridades da Rússia, alvo de investigações no FBI e no Congresso, provocaram turbulências nos primeiros meses do governo do republicano.

Em fevereiro, Trump demitiu o então conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, por ele ter mentido a seus superiores sobre contatos com o embaixador da Rússia em Washington. No mês seguinte, o secretário de Justiça, Jeff Sessions, anunciou seu afastamento das investigações do departamento que chefia sobre a Rússia devido a indícios de que ele havia mantido contato com autoridades do país durante a campanha eleitoral.

Fonte russa

Os advogados de Donald Trump afirmaram nesta sexta-feira (12), em nota, que uma revisão nas declarações de Imposto de Renda do empresário indicam que ele não recebeu "nenhuma renda de nenhum tipo oriunda de fontes russas", com algumas exceções.

Os advogados não divulgaram cópias das declarações de renda de Trump. Dessa forma, a imprensa americana não pôde verificar de forma independente as conclusões apresentadas.

Segundo o texto, não há investimento de capital russo nas entidades controladas por Trump ou dívidas do presidente para credores da Rússia.

Apesar disso, a nota dos advogados reconhece a renda de US$ 12,2 milhões obtida no concurso de Miss Universo 2013, realizado em Moscou, e o montante oriundo da venda de uma propriedade de Trump na Flórida para um bilionário russo, em 2008, por US$ 95 milhões.

Eles alegam, porém, que essas quantias foram "irrelevantes" e não teriam sido identificadas como oriundas de fontes russas nas declarações de imposto.

A Casa Branca afirmou que Trump pediu a seus advogados uma nota sobre o assunto depois do pedido do senador republicano Lindsey Graham, que chefia um dos comitês do Congresso que investiga uma eventual interferência de Moscou nas eleições americanas do ano passado.

O republicano se recusou a divulgar suas declarações durante toda a campanha eleitoral, se tornando o primeiro candidato à Presidência a esconder os dados desde o escândalo do Watergate, que levou à queda de Richard Nixon em 1974.

Como justificativa, Trump disse que os números não poderiam ser divulgados porque estavam sob auditoria. O IRS (Internal Revenue Service), a Receita Federal americana, porém, disse na época que isso não era um impedimento para tornar a declaração pública.

Em outubro, o jornal "The New York Times" havia revelado que o empresário teve uma perda declarada de US$ 916 milhões em 1995, o que fez com que ele deixasse de pagar impostos por vários anos —não é possível saber exatamente quantos.

Em março deste ano, a Casa Branca divulgou parte do Imposto de Renda do presidente, pouco antes de uma emissora de TV vazar o dado de que Trump teve uma renda de US$ 150 milhões em 2005, pela qual pagou US$ 38 milhões em impostos, cerca de 25% do valor ganho.

JAMES COMEY
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