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Confrontos na Venezuela deixam um morto, dezenas de feridos e detidos

Publicado em 07/04/2017 12:00 -

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Manifestantes opositores enfrentaram na quinta-feira (6) agentes da Guarda Nacional e policiais em Caracas, em confrontos que deixaram um morto, vários feridos e dezenas de detidos, em meio aos protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro.

Um jovem de 19 anos morreu após ser baleado no peito durante um protesto na noite desta quinta-feira no subúrbio de Montaña Alta, informou a polícia do Estado de Miranda.

Jairo Ortiz faleceu "devido a um ferimento de bala na altura do tórax", quando efetivos militares chegaram para remover um bloqueio de rua por parte de manifestantes, disse à AFP o porta-voz Miguel Mederico.

Henrique Capriles, ex-candidato presidencial e governador de Miranda, responsabilizou o ministro do Interior e Justiça pela morte de Ortiz: (Néstor) "Reverol obriga os comandantes da Guarda [Nacional] a reprimir sem importar as vidas".

Durante o dia, uma passeata em direção ao centro de Caracas foi reprimida com violência por homens da polícia e da Guarda Nacional. Cerca de 20 mil pessoas vindas de sete pontos da cidade ocuparam a autoestrada Francisco Fajardo, que liga a zona leste, reduto da oposição, à região central -três vezes mais dos que foram às ruas dois dias atrás.

"Retiramos duas pessoas com ferimentos na cabeça, uma com o braço fraturado e uma jornalista intoxicada", disse à AFP o deputado Miguel Pizarro, que participou do protesto. Um membro da Guarda Nacional também foi ferido na cabeça.

O prefeito do município de Chacao, Ramón Muchacho, informou que 19 pessoas feridas foram atendidas, mas não correm risco.

Em rede nacional de TV, Maduro informou que trinta manifestantes foram "detidos" e "vamos atrás de todos, estão todos identificados". "Um a um vão cair e irão à Justiça".

Os confrontos começaram quando a manifestação, que reuniu 10 mil pessoas, mudou de rumo para se dirigir até o centro da cidade e foi impedida de avançar por uma barreira montada pelos policiais.

Os opositores se concentraram em uma estrada na altura do bairro de Altamira, segundo o plano original, mas Capriles e outros dirigentes decidiram seguir até a Defensoria do Povo, localizada em uma área histórica.

"Capriles está procurando por mortos para incendiar o país", denunciou o dirigente oficialista Freddy Bernal.

No setor de El Recreo, a militarizada Guarda Nacional colocou grandes caminhões e uma barreira metálica, bloqueando a estrada de oito pistas.

Também lançaram bombas de gás lacrimogêneo e jatos de águas para dispersar a multidão, mas os manifestantes, muitos deles com os rostos cobertos, responderam com pedras.

Quando a manifestação tentava avançar pelas ruas adjacentes, o batalhão de choque se deslocava para bloquear a passagem, utilizando bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d'água.

Da manifestação participaram vários deputados da maioria opositora no Parlamento. "Vamos ficar aqui até conseguir passar", expressou a parlamentarista Gaby Arellano, enquanto choviam balas de borracha.

Na linha de frente estava o vice-presidente do Parlamento, Freddy Guevara, que pedia aos manifestantes para avançar, mas sem atirar pedras. O deputado Carlos Paparoní, outro parlamentar no front, devolveu uma das bombas de gás lançada pela polícia. "Basta de diálogo! Até quando? Estamos dispostos a tudo, até morrer", declarou um manifestante, chamado de "capitão".

Após várias horas de confronto, a Guarda Nacional desmontou parte da barreira para que dois caminhões do choque e policiais avançassem para dispersar os manifestantes, que se reagruparam em outras zonas. "Não vamos nos calar, nos fizeram recuar, mas vamos resistir", disse Agustín Ovalles, 32, com os olhos lacrimejando pelo gás.

O governo costuma impedir qualquer mobilização opositora até o centro, que o chavismo considera seu reduto e onde se concentram as sedes dos poderes públicos. Nessa área, próximo à Assembleia Nacional, milhares de oficialistas se manifestavam nesta quinta-feira em apoio a Maduro.

A oposição anunciou que voltará às ruas no próximo sábado, "com o dobro de gente que saiu hoje e tem de estar nas ruas da Venezuela". "O povo não está fazendo nada errado, salvo exigir seus direitos", declarou Freddy Guevara.

Capriles

O ex-presidenciável opositor da Venezuela Henrique Capriles afirmou que perdeu seus direitos políticos por 15 anos, uma decisão que considerou parte de um golpe do presidente Nicolás Maduro.

Em uma rede social, o governador do Estado de Miranda disse ter recebido notificação informando sobre a inabilitação política. Ele, no entanto, não mencionou que órgão o notificou e por que motivo foi punido.

Para o opositor, a decisão é mais uma razão para seus seguidores irem às ruas —os adversários de Maduro convocaram um protesto para o próximo sábado (8). "Mais que ontem, mais que hoje há motivos de sobra para nos mobilizarmos em todo o país contra o autogolpe", disse.

Ele ainda criticou o mandatário venezuelano. "O único inabilitado neste país é você, Nicolás Maduro. Você e a cúpula de traficantes de drogas que lhe acompanha!"

Um dos principais adversários do governo chavista, Capriles é visto como o principal nome da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) para disputar as próximas eleições presidenciais, previstas para dezembro de 2018.

Ele se candidatou nas eleições de 2012 e conseguiu 44% dos votos válidos, perdendo para Hugo Chávez. No pleito depois da morte do líder da Revolução Bolivariana, em 2013, foi derrotado por Maduro com uma diferença de 1,5 ponto percentual.

Desde fevereiro, o governador era investigado pela Controladoria-Geral venezuelana por suspeita de receber propina da construtora brasileira Odebrecht para entregar obras do governo do Estado para a empreiteira.

Na última quarta (5), o órgão lhe impôs uma multa pela suspeita de ter alterado o orçamento de Miranda ilegalmente. Ele afirmou que recorreria da decisão ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), dominado pelo chavismo.

"A única forma de tirar os direitos políticos de um funcionário público eleito é através de uma condenação", disse na ocasião, quando também acusou o governo de persegui-lo devido a suas posições políticas.

Um dia antes, o ministro do Interior, Néstor Reverol, ameaçou abrir um processo contra Capriles por ter permitido a obstrução de uma autoestrada na parte do território de Caracas que pertence ao Estado de Miranda e pela violência na série de protestos da oposição nesta semana.

A punição a Capriles foi repudiada pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro, que deseja suspender a Venezuela da organização por considerar que o governo chavista rompeu com a Carta Democrática Interamericana.

"O único que tira direitos políticos é o povo e mediante as eleições. Trata-se de uma medida típica de uma ditadura que viola os direitos civis e políticos", disse.

A inabilitação também foi condenada por líderes da MUD. "Isso nos dá mais forças, que o mundo perceba que aqui temos uma ditadura", disse o deputado Tomás Guanipa, do Primeiro Justiça, partido de Capriles.

O dirigente do Vontade Popular Carlos Vecchio disse que a ação é parte do golpe de Estado, forma como chamam as iniciativas de Maduro contra os rivais. "A ditadura quer construir sua própria oposição", disse.

Eleições

Capriles perde os direitos políticos antes das eleições para governador e prefeitos. O pleito, que deveria ter ocorrido em dezembro passado, foi adiado duas vezes. A última foi em fevereiro, para recadastrar os partidos políticos.

O processo de revalidação termina neste mês e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) deverá divulgar em junho quais siglas estão habilitadas. Com isso, se seguido o calendário, as eleições deverão ser no segundo semestre.

A Justiça, dominada pelo chavismo, havia usado o mesmo recurso em 2015, às vésperas da última eleição parlamentar. Neste caso, perderam os direitos políticos a ex-deputada María Corina Machado, o ex-governador Pablo Pérez e os ex-prefeitos Lumay Barreto (Guasdualito), Enzo Scarano (San Diego) e Daniel Ceballos (San Cristóbal). Os dois últimos haviam sido presos meses antes.

Apesar do cerco do Judiciário, a oposição venceu o pleito e conseguiu 112 das 167 cadeiras da Assembleia Nacional, o que lhe daria a maioria de dois terços. O Parlamento, no entanto, foi declarado em desacato no ano passado por ter empossado três parlamentares impugnados sob a acusação de fraude eleitoral.


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