29/03/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Em meio à crise nacional da saúde, MS investe na regionalização e na gestão

Publicado em 28/03/2017 12:00 -

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O cenário da saúde no Brasil é alarmante. Só no ano passado, o mercado brasileiro de planos de saúde médico-hospitalares registrou perda de 1,37 milhão de beneficiários, equivalendo a uma queda de 2,8% em comparação a 2015. Foram 1,37 milhão de vínculos rompidos (retração de 2,8%) no Brasil.

O superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro, explica que a variação se deve, em grande parte, ao cenário econômico negativo e à queda do nível de emprego do País. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e. Desempregados (Caged), o saldo de empregos de 2016 ficou negativo em 1,32 milhão de postos de trabalho formais.

“Como os planos coletivos empresariais (aqueles fornecidos pelas empresas aos seus colaboradores) ainda representam a maior parte dos planos médico-hospitalares no País, é natural que o número de vínculos apresente retração junto com o saldo de empregos formais", aponta Carneiro.

No Centro-Oeste, 42,6 mil beneficiários deixaram seus planos. No Mato Grosso do Sul, onde 450 mil pessoas usam planos de saúde, a redução ficou em torno de 15 mil usuários no período.

Após perder o emprego no ano passado, a comerciária Maria Sá, 38 anos, ficou sem ter como pagar o plano de saúde dela e da filha, Luiza, de 15 anos. “O meu plano era pago integralmente pela empresa. Agora, estou empregada novamente, mas não cobre plano e não tenho condições”, explica. Ela afirma que passará a utilizar o Sistema Único de Saúde (SUS) em Campo Grande.

O mesmo ocorreu com o marceneiro Edivaldo Gonzalez, de Ponta Porã. “Trabalhei por 12 anos em uma marcenaria grande que fechou as portas em janeiro. Lá eu tinha plano de saúde. Agora, eu e a família dependemos do SUS”.

A tendência, segundo estudiosos do setor, é que esta migração da saúde complementar para o SUS se amplie caso a economia não reaja no âmbito nacional. Com isso, aumenta a necessidade de investimentos e boas soluções para a gestão da saúde pública.

Em Mato Grosso do Sul, governo aposta na regionalização para fazer frente a crise

Aguardado há anos pelos três-lagoenses e moradores da região do Bolsão, o Hospital Regional de Três Lagoas começa a se tornar realidade nesta quarta-feira (29), quando o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) assinará a ordem de serviço para início imediato das obras do complexo de atendimento médico do Governo do Estado. A obra – inicialmente orçada em R$ 68,4 milhões, mas contratada por R$ 56,4 milhões – tem previsão de conclusão para 2019 e será equipada com 138 leitos distribuídos em três pavimentos.

No último dia 18, o Governo do Estado liberou de R$ 270 mil para a construção de um novo centro cirúrgico e obstétrico para o Hospital da Associação Beneficente Elmíria Silvério Barbosa, de Sidrolândia. Lá, será construído um novo centro cirúrgico e obstétrico completo e de última geração, composto por uma sala de parto cirúrgico e obstetrícia, duas salas médias de cirurgia, quatro leitos de pós-cirúrgico, posto de enfermagem, sala de reanimação e de higienização de recém-nascido, além de uma central de esterilização de materiais. Toda essa infraestrutura será para atender pacientes do SUS.

Ambas as iniciativas – em Três Lagoas e Sidrolândia – são parte da estratégia do governo sul-mato-grossense para fazer frente à crise nacional da saúde: a aposta é na regionalização.

Para desafogar o sistema na capital, Campo Grande, Azambuja pretende estruturar a rede pública de saúde nas 11 microrregiões do Estado com a adoção de nova gestão, conduzida por Organizaões Sociais de Saúde (OSS). Para o governador, a parceria com o setor privado não significa a privatização do sistema público de saúde, mas a garantia de uma gestão especializada e melhoria nas entregas dos serviços.

Ele tem razão, segundo pesquisa realizada em 2016 e publicada pela Revista Exame, cujos dados apontam que dos 10 melhores hospitais públicos do país, nove são administrados por OSSs.  “A vantagem é que você tem um grupo especializado com dinâmica mais eficiente do que o gestor público. O Estado acaba gastando menos e ofertando mais e melhores serviços à população”, ponderou o governador.

Os investimentos estão previstos para todo o Estado. O Governo está articulando com as prefeituras o aperfeiçoamento do projeto de regionalização dos serviços de atendimento de saúde. No último dia 21, ao abrir o Acolhimento aos Novos Gestores em Saúde de Mato Grosso do Sul, o governador defendeu um pacto regional entre o Estado e os municípios para otimizar recursos financeiros e reestruturar a rede de atendimento

“Estamos equipando os polos regionais, com mais leitos e aparelhos para exames complexos, e fazendo parcerias com a rede hospitalar, mas é preciso avançarmos mais, por isso estamos aqui abrindo esse diálogo com os prefeitos para definirmos qual a melhor política pública para a saúde”, disse. Ele enfatizou que nesse momento de crise, onde a receita não cresce enquanto as demandas avolumam, é preciso construir consórcios e dividir responsabilidades.

Ações pretendem alavancar a saúde em todo o Estado

Coxim, Nova Andradina e Dourados estão entre os primeiros polos onde o Governo do Estado está aplicando recursos e aparelhando a rede pública de saúde.

Coxim, por exemplo, recebeu equipamentos para o tratamento da hemodiálise. Antes dessa restruturação, pacientes tinham que percorrer mais de 500 quilômetros três vezes na semana para se tratarem na capital. Hoje, o tratamento é oferecido no próprio município.

A ortopedia também foi alvo de investimentos no município. “Em Coxim, o Hospital Regional fez 368 cirurgias ortopédicas no ano passado, demanda que só poderia ser atendida em Campo Grande. Para terem uma ideia, fizemos em Coxim o mesmo número de cirurgias ortopédicas que o Hospital Universitário fez em Campo Grande”, explicou Reinaldo.

Em Dourados, o Governo do Estado deve, em breve, abrir licitação para a construção do Hospital Regional, que atenderá pacientes do município e da Grande Dourados. Paliativamente, a demanda da região está sendo suprida pelo Hospital São Luiz, locado pelo Governo com a missão de realizar até 600 cirurgias/mês.

Em Corumbá, a Santa Casa receberá investimentos de R$ 4 milhões para obras e equipamentos, com a construção de uma nova unidade com 38 leitos, incluindo a UTI neonatal.

Nova Andradina, por sua vez, recebeu 10 leitos de UTI. O mesmo ocorreu em Ponta Porã, onde Governo entregou – no início do mês – 10 novos leitos de UTI no Hospital Regional Dr. José de Simone Netto. Customizando a aplicação de recursos e otimizando o atendimento, o número de consultas e atendimentos de urgência praticamente quintuplicou e a capacidade de atendimento aumentou em 26%, segundo a secretaria estadual de Saúde. Em todo o Estado já foram inaugurados 70 novos leitos de UTI desde o início do mandato tucano no MS.

Primeiro hospital público de Mato Grosso do Sul a ser administrado por uma OSS, o Hospital Regional de Ponta Porã teve a gestão transferida pelo Governo do Estado ao Instituto Gerir em agosto de 2016. Desde então, a instituição reestruturou os serviços de saúde da unidade, proporcionando melhor qualidade de atendimento. O Estado destinava cerca de R$ 2,3 milhões mensais para o Hospital Regional de Ponta Porã. Hoje, os custos são de R$ 1,9 milhão.

Em outros municípios, como Amambai, Ivinhema e Fátima do Sul, hospitais locais estão realizado cirurgias eletivas por meio de parcerias com a secretaria de Saúde.

Em Naviraí, um polo de hemodiálise já está projetado

Capital também recebe investimentos em saúde, destaque é o Hospital do Trauma

Campo Grande também recebeu seu quinhão no planejamento estratégico do Governo do Estado para a saúde. No segundo semestre deste ano, o Governo do Estado pretende entregar a obra do Hospital do Trauma, atendendo demandas que hoje congestionam a Santa Casa. Há mais de duas décadas paradas, as obras receberam investimentos do Estado, Governo Federal e Santa Casa. Além da entrega da estrutura física, o Governo já provisionou mais R$ 8 milhões em investimentos para equipar o hospital.

No projeto arquitetônico do prédio, que irá abrigar o setor de ortopedia e politraumatismo, estão previstos 130 leitos de enfermaria, 10 leitos de UTI’s, dois leitos de isolamento, 18 leitos de observação, cinco salas cirúrgicas, salas para Raio X, tomografia, ultrassonografia, além de outros aparelhos de diagnósticos de imagem.

Nos seus 6.300 metros quadrados de área construída, o Hospital do Trauma irá atender a demanda de urgência e emergência de politraumatizados e pacientes com necessidade de atendimento ortopédico da capital e também do interior. A previsão é que a nova unidade tenha capacidade para realizar anualmente 10 mil internações, nove mil cirurgias, 500 internações, 10 mil consultas, além de ampliar os serviços de diagnósticos clínicos e de imagens.

No Hospital do Câncer Alfredo Abraão foram ativados 20 leitos ao custo de R$ 900 mil mensais. A unidade passou a contar com uma das maiores estruturas de UTI do estado. Campo Grande ainda recebeu investimentos para 10 unidades na Maternidade Cândido Mariano e outros 24 leitos de UTI Neonatal, divididos entre Hospital Regional, Santa Casa e Hospital Universitário.

Enquanto a regionalização atinge o patamar ideal, Caravana da Saúde cumpre seu papel

Um dos emblemas do Governo tucano em MS, a Caravana da Saúde está sendo remodelada e promete vir a todo vapor no segundo semestre para levar novos atendimentos à população. De acordo com o governador Reinaldo Azambuja, outras demandas – como atendimento cardiovascular, oftalmologia infantil, diagnóstico de câncer de colo de útero e mama – entram no projeto para diminuir ainda mais a “fila da vergonha”, que é o termo que o governador usa para se referir ao gargalo de consultas que historicamente atrapalha a vida dos sul-mato-grossenses.

“Criamos a Caravana para atender aos milhares de pacientes que aguardavam atendimento médico há mais de 10 anos. Assim nasceu o sistema de mutirão de atendimentos médicos que levou cirurgias, consultas e exames para 11 regiões que receberam pacientes dos 79 municípios”, diz Azambuja.

No total, a Caravana da Saúde realizou mais de 50 mil cirurgias (27 mil na Capital), 850 mil procedimentos, 100 mil consultas, 35 mil exames e 240 mil visitantes, com investimentos superiores a R$ 75 milhões.


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