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O que se sabe sobre Khalid Masood, autor do atentado em Londres

Publicado em 24/03/2017 12:00 -

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O homem apontado pela polícia de Londres como autor do ataque nos arredores do Parlamento britânico foi identificado como sendo o britânico Khalid Masood, de 52 anos. "Masood não era alvo de nenhuma investigação em curso nem havia qualquer informação sobre sua intenção de realizar um ataque terrorista", disse a Scotland Yard, a polícia metropolitana de Londres.

"Mas ele era conhecido pela polícia e tinha uma série de condenações prévias por agressões, porte ilegal de arma e crimes contra a ordem pública."

A história de seu nome é confusa. Após seu nascimento, no dia de Natal de 1964, ele foi registrado como Adrian Russell Elms —este último era o sobrenome de solteira de sua mãe.

Dois anos depois, porém, ela se casou com um homem cujo sobrenome era Ajao. Adrian alternaria o uso dos dois sobrenomes antes de se converter ao islã e mudar seu nome para Khalid Masood —ainda não está claro quando isso ocorreu.

Nascido no condado de Kent, no sul da Inglaterra, ele morava até recentemente em Birmingham, região central do país. Tinha três filhos e dizia ser "professor", mas a BBC apurou que ele não trabalhou em escolas públicas da Inglaterra. Acredita-se que possa ter recebido treinamento para ensinar inglês a estrangeiros em cursos privados.

A mãe de Masood e seu marido moram atualmente no País de Gales. A casa deles foi revistada pela Unidade de Extremismo e Contraterrorismo, mas o casal não foi tratado como suspeito, segundo as autoridades.
Três condenações

Massod foi condenado pela primeira vez em novembro de 1983, aos 18 anos de idade, por danos a propriedade. Em 2000, quando morava em Northiam, no sul do país, foi preso por dois anos após admitir ter atacado um homem com uma faca depois de uma briga em um pub.

Segundo a imprensa local, ele atacou a vítima e cortou seu rosto. O homem, chamado Piers Mott, já morreu, mas sua viúva diz que ele estava apenas defendendo um funcionário.

No julgamento, foi dito que Masood —ainda conhecido como Adrian Elms— estava respondendo a um insulto racista e tinha sido marginalizado na cidade.

Ele se mudou e voltou a ser condenado em 2003, desta vez por posse de arma branca —inicialmente, havia sido acusado de esfaquear um homem de 22 anos. Ficou na prisão por mais seis meses.

Acredita-se que tenha se convertido ao Islamismo depois dessa última condenação, ocorrida quando tinha quase 40 anos – ele não deu seu nome muçulmano no julgamento.

Em 2016, Masood foi para Londres e, depois, Birmingham. Sua parceira durante esse período está entre as dez pessoas presas na investigação sobre o ataque. A mulher, de 39 anos, mora no leste de Londres e foi solta nesta sexta, após pagamento de fiança.

Bom hóspede

Masood teria alugado o carro usado no ataque no início da semana, em uma loja de Birmingham.

Uma hora depois de contratar o serviço, ele teria ligado para a empresa para dizer que não precisava mais do carro. Ainda não está claro o que ocorreu depois —ou seja, o que se passou até ele chegar à ponte de Westminster, na capital britânica, jogar o automóvel sobre dezenas de pedestres que estavam na calçada, matando pelo menos três deles, e esfaquear fatalmente um policial.

Sabe-se que, antes do atentado, hospedou-se em um hotel na cidade litorânea de Brighton, próxima a Londres.

O gerente do estabelecimento, Sabeur Toumi, disse que ele se apresentou como Khalid "Masoud" e disse estar visitando amigos na cidade.

Ele foi descrito por funcionários como "amigável e sorridente", "um bom hóspede".

A polícia coletou objetos do quarto que teria ocupado no hotel, provavelmente para coletar DNA e comprovar sua estadia ali.

Figura Periférica

Entrevistados por jornais britânicos, vizinhos em Birmingham descreveram Masood como uma pessoa "calma", integrante de uma "família reservada".

No Parlamento, a premiê Theresa May disse que ele havia sido investigado "há alguns anos" por estar ligado a "extremismo violento", mas que se tratava de uma "figura periférica".

Os detalhes dessa investigação não foram divulgados, nem a que ou a quem estaria conectada, mas há especulações.

Masood pode ter sido conhecido ou ser amigo de um suspeito que estava sendo monitorado, mas não demonstrou tendências extremistas. Também poderia ter relações próximas com potenciais extremistas.

Outra teoria é a de que ele possa ter chamado atenção por defender ou demonstrar simpatia com ideologias ou ações extremistas, mas não fez nada que pudesse levar a uma acusação criminal. Na hipótese mais grave, tenha sido preso em uma operação e liberado depois.

Previsível

O tão antecipado e previsível atentado terrorista em Londres infelizmente aconteceu. Um ser muito doente "armado" com um Hyundai SUV cinza metálico e uma faca de cozinha matou quatro pessoas e feriu outras quarenta à sombra do Big Ben antes de ser morto pela polícia.

É muito difícil, antes de mais nada, não se condoer profundamente com as vítimas e seus familiares e não deplorar, sem reservas, ideologias que justificam atos de delinquência bárbara contra inocentes.

Mas é revoltante o tom histérico de grande parte da mídia e da opinião pública britânica que insiste em retratar o atentado como se se tratasse de uma espécie de "mini 11 de Setembro" e mais um assalto do fundamentalismo islamita contra valores fundamentais da moral judaico-cristã numa contínua guerra de civilizações.

Se quisermos mesmo falar nestes termos o certo seria então lembrar, em tom igualmente inflamado e consternado, que um dia antes, na cidade síria de Raqqa, controlada pelas forças do auto-proclamado Estado Islâmico (EI), 33 civis foram mortos quando uma escola, usada como abrigo para refugiados, foi alvejada por um míssil americano.

O Reino Unido não faz parte desta específica coalizão anti-EI na Síria, mas sua participação direta e indireta, passada e presente, em praticamente todos os conflitos no Oriente Médio torna esta a associação no mínimo justificável.

Ao falar do atentado em Londres a mídia estridente raramente lembra, por exemplo, dos bilhões lucrados pelo país com venda de armamentos para Arábia Saudita para bombardear civis no Iêmen ou –só mais um exemplo entre tantos outros– do vergonhoso papel dos seus governantes e do seu Exército na Guerra do Iraque.

Em nome da paz e do humanismo há de se fazer um maior esforço para entender relações óbvias de causa e efeito. Sabiamente, logo após ao atentado às Torres Gêmeas em Nova York, um amigo disse: "a própria incapacidade dos americanos em entender por que o atentado aconteceu explica, em grande parte, esta tragédia".

Raramente o terrorismo de Estado é reconhecido e julgado como tal e, numa democracia, às vezes é complicado comparar bons moços a delinquentes. Mas, traduzindo Oscar Wilde, eu diria que "a hostilidade excessiva é quase sempre a máscara de uma secreta afinidade".


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