20/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Armas e Demônios

Publicado em 03/02/2017 12:00 - Rodrigo Amém

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Esse Trump é mau mesmo. Ele indica parentes para cargos de confiança, coloca todo mundo que deu dinheiro para sua campanha no governo, está impedindo refugiados muçulmanos de entrarem no país e se prepara para construir um muro com o México. Será que seus eleitores não percebem?

Os eleitores de Trump estão satisfeitos. Se bobear, ele se reelege.

Se procurarmos o aspecto definidor da direita conservadora, poderíamos defini-lo como "a ausência de empatia pelo diverso". Ou seja, quanto mais à direita, menor é a disposição de fazer concessões aos anseios de indivíduos de diferentes origens e identidades. Essa é uma postura legítima no aspecto evolutivo. Chegamos aonde chegamos interagindo em grupos sociais fechados. Primeiramente familiares, depois tribais. Sempre em estado de conflito em relação a outros clãs.

E esse conflito é importante pois legitima a própria identidade do conservador. Em outras palavras: "Se o nosso estilo de vida está certo, o seu tem que estar errado. E para fazer esse juízo sem soar preconceituoso, é preciso demonizar o outro. É assim que vinho vira um entorpecente dos homens honrados e maconha vira coisa de bandido. Demonizar um grupo implica em condenar seus atos, aleatoriamente, simplesmente para reafirmar seu próprios valores.

Se procurarmos o aspecto definidor da direita conservadora, poderíamos defini-lo como ‘a ausência de empatia pelo diverso’. Ou seja, quanto mais à direita, menor é a disposição de fazer concessões aos anseios de indivíduos de diferentes origens e identidades.

E essa política de manipulação não é invenção do Trump. Depois de Pearl Harbor, o governo americano prendeu todos os imigrantes e descendentes de japoneses em campos de concentração. O ator George Takei era uma criança quando foi encarcerado com sua família pelo simples fato de ser filho de imigrantes.

E antes dos japoneses, foram os judeus, que hoje falam grosso no partido republicano sobre o apoio dos EUA ao Estado de Israel. Um dos ícones da luta contra o anti-semitismo, a garota Anne Frank, teve seu pedido de asilo político negado pelo governo americano antes de ser presa e morrer no campo de concentração (spoilers). Motivo oficial? "Não dá pra confiar nesses imigrantes judeus. Vai que são terroristas". Acabada a guerra, os republicanos não perderam tempo e inventaram um novo inimigo: os comunistas. Esses, seus primeiros demônios-exportação.

Essa tática de auto-afirmação através do preconceito gera dois subprodutos de alto retorno financeiro para os EUA. Medo e armas, as matérias primas das indústrias bélicas e carcerárias. Trump prometeu aquecer a economia americana e gerar empregos. Pra isso, vai precisar vender mais armas e prender mais gente. Para os conservadores, tudo bem. Contanto que eles estejam do lado de cá da cadeia (produtiva).

Leia outros artigos da coluna: Meia Pala Bas

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *