20/04/2024 - Edição 540

Poder

Conexões políticas não foram suficientes para salvar império de Eike

Publicado em 27/01/2017 12:00 -

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Quando soube da prisão de Marcelo Odebrecht, o empresário Eike Batista se sentiu vingado. Ele dizia com orgulho em reuniões reservadas que seu nome nunca apareceria na Operação Lava Jato.

Afirmava que seus negócios não deram certo porque o mercado não quis esperar que os projetos amadurecessem, mas que ele não seria acusado de se beneficiar de dinheiro público.

Eike não gostava de Odebrecht, a quem atribuía sua dificuldade para fazer negócios com a Petrobras.

Um ano e meio depois da prisão do empreiteiro, foi a vez de Eike virar alvo da Lava Jato, acusado de repassar propina de US$ 16,5 milhões para Sérgio Cabral.

A proximidade entre Eike e o ex-governador do Rio despertava suspeitas desde que se tornou público que o empresário emprestava seus jatos para o peemedebista.

Ao ser questionado por pessoas próximas sobre o assunto, Eike reconhecia que tinha cometido um erro ao emprestar os aviões para Cabral, mas que era difícil negar um pedido do governador. E garantia que os "favores" nunca tinham passado daí.

No início de sua carreira, Eike se vangloriava de que geria três minas de ouro sem nunca ter falado com um ministro de Minas e Energia – com exceção de seu pai, Eliezer Batista, que ocupou o cargo antes do governo militar.

Mas essa suposta independência do poder público não resistiu ao crescimento dos negócios. Recém separado da modelo Luma de Oliveira, Eike já era considerado um bilionário quando diversificou.

Ele se aproveitou do otimismo dos anos Lula e abriu o capital de seis empresas na bolsa, incluindo a petroleira OGX e a mineradora MMX, levantando R$ 27 bilhões.

Em 2012, foi classificado como o sétimo homem mais rico do mundo pela revista Forbes, com uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões.

Considerado um exemplo de empreendedor, Eike foi incluído pelo governo petista na política de fomentar os campeões nacionais e agraciado com R$ 10 bilhões em empréstimos pelo BNDES.

Ele chegou a se aproximar do então presidente Lula, de quem comprou um terno por R$ 500 mil em um leilão beneficente.

Recentemente, o empresário procurou a polícia para esclarecer parte de suas relações com o petismo. Disse ter sido procurado pelo ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, que teria pedido R$ 5 milhões para pagar dívidas de campanha do PT.

As conexões políticas, no entanto, não foram suficientes para salvar Eike quando uma crise de confiança se instalou em seu império.

Em 2013, quando a OGX iniciou a extração de petróleo e sua produção passou longe das previsões, o crédito secou. As empresas do grupo X tiveram que ser vendidas para pagar dívidas bilionárias.

Uma operação de salvamento foi montada, envolvendo ministros do governo Dilma, mas não vingou.

Durante muito tempo, o empresário se queixou aos mais próximos de que fora abandonado pelo governo. Ele culpava especialmente o BNDES, que travou empréstimos em um momento crítico para o grupo.

Antes de ter a prisão decretada, do 10ª andar do edifício 154 da Praia do Flamengo, no Rio, Eike arquitetava seu retorno ao mundo dos negócios. Ao lado de cerca de meia dúzia de executivos, tentava enveredar no mercado de pastas de dente.

Prisão segura

Eike está disposto a se entregar à Polícia Federal desde que não tenha que ir para uma prisão comum, no qual ele acha que correria risco de vida.

Apesar de ser sido o empresário mais rico do Brasil em 2012, com uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões, ele não tem curso superior e por isso não tem direito a ficar num presídio mais seguro, como o que se encontra o ex-governador Sergio Cabral (PMDB), em Bangu, na zona norte do Rio.

A defesa de Eike quer evitar a todo custo que seja consolidada a imagem dele como um fugitivo porque essa condição dificultaria a situação do empresário diante da Justiça. Juízes tratam com dureza investigados que fogem, e os tribunais superiores, como o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e o Supremo, tendem a negar pedidos de liberdade de suspeitos que deixam o país para escapar de um decreto de prisão.

Preso sem diploma

Único preso na primeira fase da Lava Jato no Rio sem diploma, Luiz Carlos Bezerra, apontado como operador financeiro do ex-governador, afirmou à Justiça Federal que a unidade em que está detido transformou-se num "barril de pólvora".

Bezerra está no presídio José Frederico Marques, Bangu 10, unidade para onde foram transferidos 600 traficantes da facção ADA (Amigos dos Amigos).

Os advogados do acusado afirmam que ele "sofre seríssimo risco de vida, ante a iminência de uma rebelião no presídio".

O juiz Marcelo Bretas, contudo, não concedeu liberdade ao acusado.

OPERAÇÃO EFICIÊNCIA
Investigação aponta elo de propina entre Eike Batista e Sérgio Cabral

O PRINCIPAL ALVO

> Juiz decretou prisão do empresário Eike Batista, que não foi encontrado no Rio. Segundo a defesa, está em viagem aos EUA e vai se apresentar em breve

> Ele é suspeito de repassar US$ 16,5 milhões para uma conta no Uruguai, que, segundo delatores, tinha Cabral como beneficiário

OUTROS MANDADOS DE PRISÃO

> Flávio Godinho (advogado, braço direito de Eike)
> Thiago Aragão (sócio de Adriana Ancelmo)
> Álvaro Novis (doleiro)
> Sérgio de Castro Oliveira (operador)

Não encontrado:
Francisco Assis Neto (suspeito de receber R$ 7,7 milhões)

JÁ ESTAVAM PRESOS
> Sérgio Cabral (ex-governador)
> Carlos Emanuel Miranda (assessor de Cabral)
> Wilson Carlos Carvalho (ex-secretário estadual)

22 mandados de busca e apreensão
Foram recolhidos pela Polícia Federal 18 carros, entre eles um Lamborghini e um Porsche, obras de arte, relógios, joias e aproximadamente R$ 100 mil


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