Coluna
A bola da vez na Amazônia é seu potencial hidrelétrico, já que o consumo de energia elétrica no mundo alcança níveis absurdos.
Postado em 04 de Abril de 2014 - Fabio Pellegrini
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A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, com 6,8 milhões de quilômetros quadrados que se distribuem por 8 países, sendo o Brasil com sua maior parte: 70%. São aproximadamente 80 mil quilômetros de rios. Pelo menos 50% da biodiversidade terrestre planeta estão ali.
É lá que acontece a polêmica construção da terceira maior hidrelétrica do mundo: Belo Monte. Os impactos ambientais da construção dessa usina são impressionantes. Há 25 mil pessoas trabalhando 24 horas por dia nesse grandioso projeto de engenharia. O visual remete a filmes de ficção científica. A Folha de São Paulo fez uma grande reportagem sobre o assunto, fundamental aos interessados em compreender o que está acontecendo naquele pedaço do Brasil.
A bola da vez na Amazônia é seu potencial hidrelétrico, já que o consumo de energia elétrica no mundo alcança níveis absurdos. Podemos citar as mudanças climáticas e o consumismo desenfreado como causas para tal fato.
Biodiversidade é uma imensa variedade de formas de vida que podem servir como matérias-primas para uma infinidade de invenções humanas.
Para os que pensam que biodiversidade é o ursinho-panda e a oncinha-pintada fofinhos, tem mais: biodiversidade é uma imensa variedade de formas de vida que podem servir como matérias-primas para uma infinidade de invenções humanas (de remédios a microchips de supercomputadores). Ou seja: a Amazônia não é só madeira, soja, gado, ouro e energia elétrica.
A floresta em pé vale muito mais, em longo prazo, do que a floresta deitada em curto prazo. Viva, ela exerce papel vital no regime de chuvas de todo o continente. Qualquer alteração de grandes proporções naquele ambiente comprometeria a produção de alimentos no Brasil e o modo de vida da população.
Processo de ocupação
A Amazônia começou a ser explorada pelo governo federal na década de 1970. Fomentava-se a ocupação da região com o lema “Integrar para não entregar”. Receoso de intenções norte-americanas em “internacionalizar” a Amazônia, o presidente Médici aproveitou a ocasião para aliviar tensões sociais no Sul e Nordeste do Brasil e incentivou a migração dessas regiões para a nova fronteira agrícola, de terras fartas e de baixo custo.
Desde então, a floresta, seus rios e solo vêm sendo devastados a uma velocidade impressionante. Devido à fiscalização, desde 2004, as taxas de desmatamento na Amazônia têm caído consistentemente. Em 2013, porém, o aumento de 28% no desmatamento na região fez soar um novo alerta.
Três grandes entidades que monitoram a Amazônia - o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o Instituto Socioambiental (ISA) e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – consideram que esse aumento é inaceitável por três motivos: em grande parte é ilegal; há grande quantidade de área já desmatada porém subutilizada; e o Poder Público brasileiro já possui os elementos fundamentais para combater o desmatamento amazônico.
Em 2013 o aumento de 28% no desmatamento na Amazônia fez soar um novo alerta.
O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado na semana passada, informa que as mudanças climáticas afetarão toda a humanidade de forma drástica nos próximos anos. Pois é, chegou a hora de pagarmos pelo uso irracional e mal planejado dos recursos naturais do planeta.
Produzido por 309 cientistas de 70 países, o documento teve 50.492 revisões de autores externos. “Esta é a evidência científica mais sólida existente”, afirma Michel Jarraud, da Organização Meteorológica Mundial (OMM). “Com tantas provas, a ignorância não pode mais ser usada como desculpa para a falta de ação”, concluiu.
Voltando a Belo Monte, apesar da enorme perda para a biodiversidade às custas do desenvolvimento, a população local está recebendo bilhões de reais em investimentos que visam o incremento da qualidade de vida. São moradias em locais urbanizados, redes de água e esgoto, melhorias nas áreas de saúde, educação, segurança pública, entre outros benefícios. A expectativa é que as cidades da região passem ter um “padrão FIFA”.
É hora de exigir dos candidatos a gestores públicos propostas concretas que visem um desenvolvimento que atenda ao tripé da sustentabilidade.
Não fosse o mega empreendimento e os levantes populares ocorridos nos últimos anos reclamando pela interrupção da obra e/ou medidas mitigatórias e compensatórias, é bem provável que Altamira e outros municípios afetados pelo barramento do rio Xingu e o represamento de 500 km2 estariam fadados à mesmice dos municípios da região Norte.
Tais investimentos são o que os governos municipais, estaduais e federal do Brasil deveriam realizar por conta própria, mediante a altíssima escala de tributos que o cidadão brasileiro é obrigado a pagar.
2014 é ano de eleição. Para muitos, ano de ganhar dinheiro. Para outros, é o momento da mudança! É hora de exigir dos candidatos a gestores públicos propostas concretas que visem um desenvolvimento que atenda ao tripé da sustentabilidade: ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto.
Em Belo Monte o gigante acordou. E no restante no Brasil?