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Ku Klux Klan tenta se renovar nos EUA com discurso anti-imigração

Publicado em 01/07/2016 12:00 -

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Nascida nas cinzas do Sul devastado após a Guerra Civil Americana, a Ku Klux Klan morreu e renasceu antes de perder a luta contra os direitos civis, na década de 1960.

Sua base de membros encolheu, um grupo unificado se dividiu e antigos membros foram para a prisão por uma série de ataques assassinos a negros. Muitos imaginaram que o grupo tivesse morrido, virado um espectro de ódio e violência.

Hoje, porém, a KKK ainda está viva e sonha em voltar a ser o que foi no passado: um império invisível que estende seus tentáculos por toda a sociedade. Enquanto celebra 150 anos de existência, a Klan está tentando se renovar para uma nova era.

Membros ainda se reúnem às dezenas sob céus sulinos estrelados para atear fogo a cruzes no meio da noite. Nos últimos meses, folhetos da KKK apareceram em bairros suburbanos do Sul profundo até o Nordeste do país. O fato que talvez mais incomode os adversários do grupo é que algumas organizações independentes da Klan dizem estar se fundindo com grupos maiores para ganhar força.

Em uma série de entrevistas à Associated Press, líderes da Klan disseram que a política americana está indo em direção favorável a eles, à medida que uma mentalidade nacionalista, do tipo "nós contra eles", se aprofunda no país. Barrar ou limitar a imigração, uma reivindicação da Klan que data da década de 1920, é uma causa mais defendida que nunca. Líderes da KKK dizem que a organização está ganhando mais membros no fim do segundo mandato do presidente Barack Obama.

Filiar-se à Ku Klux Klan é fácil, desde que você seja branco e cristão: basta preencher um formulário online. Os membros podem visitar a loja online para comprar um dos roupões de algodão branco que são a marca registrada da KKK, embora muitos prefiram gastar US$165 para comprar a peça em cetim.

A KKK aterrorizou minorias durante boa parte do século passado, mas seus líderes hoje apresentam uma face pública que é mais rancorosa que violenta. Líderes de vários grupos diferentes da Klan disseram que têm regras contra a violência, exceto em defesa própria, e mesmo os adversários da organização concordam que a KKK suavizou seu tom depois de vários de seus membros terem ido para a prisão por ataques incendiários fatais, espancamentos, ataques a bomba e com armas de fogo.

"A Klan de hoje teve envolvimento em atrocidades, sim, mas é muito menos violenta que a Klan dos anos 1960", disse Mark Potok, do grupo de lobby Southern Poverty Law Center (SPLC), que rastreia a atividade de grupos que considera extremistas. "Isso não significa que seja um grupo benigno que não se envolva em violência política."

Líderes da Klan disseram à AP que a maioria dos grupos de hoje é pequena e opera de modo independente. Os grupos divergem sobre questões como se devem ou não associar-se a neonazistas, promover atos públicos ou usar o roupão que é a marca registrada da KKK em outras cores além do branco.

É impossível saber quantos membros tem a Klan hoje, porque os grupos não revelam essa informação, mas os líderes alegam contar com milhares de seguidores em dezenas de grupos locais chamados Klaverns

"A maioria dos grupos da Klan com quem converso é tão pequena que poderia ter uma reunião no banheiro do McDonald's", disse Chris Barker, "mago imperial" dos Cavaleiros Brancos Leais da Ku Klux Klan em Eden, Carolina do Norte. Quanto ao Klavern dele, Barker disse: "No momento, tenho quase 3.800 membros apenas em meu grupo".

A Liga Anti-Difamação (ADL), o grupo de proteção judaica que monitora a atividade da Klan, descreve os Cavaleiros Brancos Leais de Barker como o grupo mais ativo hoje, mas estima seus membros em não mais de 200. A ADL estima o número total de membros da Klan em todo o país em cerca de 3 mil pessoas.

O SPLC, sediado no Alabama, estima que a Klan tenha cerca de 190 representações em todo o país e não mais de 6.000 membros ao todo, o que seria uma mera sombra de seus estimados 2 milhões a 5 milhões de membros na década de 1920.

"A ideia de unificar a Klan como ela era nos anos 1920 é um sonho persistente da Klan, mas isso não vai acontecer", disse Potok.

Formada por seis antigos oficiais confederados meses apenas após o fim da Guerra Civil Americana, a Ku Klux Klan originalmente mais parecia uma fraternidade universitária, com vestes cerimoniais e títulos esdrúxulos dados a seus líderes. Em pouco tempo, porém, negros libertos começaram a ser aterrorizados, e a culpa foi atribuída à KKK. Centenas de pessoas foram agredidas ou mortas quando os brancos tentaram retomar o controle da Confederação derrotada. O Congresso colocou a organização na ilegalidade em 1871, e ela morreu.

Até a Primeira Guerra Mundial, pareceu que a Klan tinha sido relegada à história. Mas ela renasceu com a chegada de ondas de imigrantes da Europa e outras regiões e cresceu ainda mais quando a NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) contestou as leis Jim Crow vigentes no Sul do país nos anos 1920. Milhões de pessoas se juntaram à KKK, incluindo lideranças comunitárias, como banqueiros e advogados.

Esse impulso acabou se enfraquecendo. Segundo estimativas, em meados dos anos 1960, no auge do movimento pelos direitos civis, a KKK tinha cerca de 40 mil filiados. Membros da Klan foram condenados pelo uso de homicídios como arma contra a igualdade em Estados que incluíram o Mississippi e o Alabama, onde um membro da Klan continua encarcerado por ter plantado a bomba que matou quatro meninas negras numa igreja de Birmingham, em 1963.

O líder da KKK Brent Waller, mago imperial dos Cavaleiros Brancos Unidos de Dixie, no Mississippi, disse que a prioridade número um da Klan hoje é barrar a imigração, não os direitos de minorias.

E outros líderes da Klan dizem que a ascensão de Donald Trump no Partido Republicano é um sinal de que as coisas estão indo em um rumo que os favorece.

"Sabe, começamos a dizer que era preciso erguer um muro 40 anos atrás", falou Thomas Robb, líder da Klan no Arkansas.

Apesar de tentar mudar sua imagem, a KKK não deixou de queimar cruzes. Quando o sol se pôs num fim de tarde quente de um sábado em abril, membros da Klan formaram um grande círculo num campo do noroeste da Geórgia para atear fogo a uma cruz e uma suástica nazista.

"Poder branco!" gritaram em uníssono. "Morte aos descrentes! Morte aos nossos inimigos!"


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