Meia Pala Bas
Publicado em 27/03/2014 12:00 - Rodrigo Amém
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Dialogar com pessoas com ideias diferentes é muito importante. Ajuda a confrontar as próprias certezas e aprimora o ser humano. Tanto o que fala quanto o que escuta.
Depois de um tempo nas trincheiras dialéticas, fica mais fácil distinguir um bom argumento. O bom geralmente soa novo, inspirado. Traz novos dados, nova abordagem e, se não convence, pelo menos faz pensar. O argumento ruim se repete, se esconde atrás de palavras de ordem que nada significam. Como diria um amigo meu, é “mais vazio que lancheira de modelo”.
De todas as justificativas furadas para ações e posicionamentos repreensíveis, três são ridiculamente recorrentes:
Pela tradição:
Tradição é o que você faz só porque outros já faziam antes de você. Ninguém estuda porque é tradição. Ninguém trabalha porque é tradição. Não é por tradição que se defende a justiça, a liberdade ou o meio ambiente. Evocar tradição como justificativa para algo geralmente significa a raspa do tacho da argumentação em favor da tal prática. Que o digam os fãs de rodeio, tourada, trote universitário, rinha de galo e balões de São João.
Pela pátria:
Você não gosta de samba? Você não é patriota! Você não serviu o exército? Você não é patriota! Preste atenção na próxima vez em que alguém lhe convocar a exercer seu patriotismo. Quem “ama a pátria” é quem vai pra guerra, não questiona autoridade, denuncia opositores. Não é apenas uma questão de ser egoísta ou altruísta. Quem ajuda o próximo, educa crianças e faz trabalho voluntário não é necessariamente associado ao termo. Num discurso, fazer algo “pela pátria” normalmente significa agir contra os próprios interesses porque alguém numa situação de poder disse que aquilo era para o bem do país. E quem contestar, adivinha como será chamado?
Por Deus:
É seu direito crer na religião que quiser. Com quem você fala quando está sozinho no quarto é um problema seu. Entendo a importância de se sentir em contato com o universo. Infelizmente, o mundo é cheio de “espíritos sem luz”. Gente que vai ter a cara de pau de dizer que deus quer que você faça isso ou aquilo. Que você odeie essa ou aquela pessoa. O deus que você crê ser o criador do universo não precisa de atravessadores. Se ele tiver uma mensagem para lhe dar, tenha certeza que será em primeira mão. “Faça isso porque deus quer”, a menos que ressoe entre trovões vindos do firmamento, só pode vir de bocas mal-intencionadas.
Também é característica do mau argumentador tentar torcer argumentos que não lhe são favoráveis. Então, só pra deixar claro: não há nada necessariamente errado em ser um patriota de fé e cultivar suas tradições. O problema é quando exigem isso de você.
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