29/03/2024 - Edição 540

True Colors

Sobre LGBTs e a crise política atual

Publicado em 18/03/2016 12:00 - Guilherme Cavalcante

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País dividido, ódio e intolerância nas ruas. Não pode usar vermelho que apanha. Não pode vestir amarelo que é coxinha. É o caos instaurado, sem dúvida. Estamos em meio a um combate ideológico sem precedentes, instaurado desde que a oposição ao governo decidiu fazer do mandato da presidente Dilma Roussef um terceiro turno das eleições de 2014. Um combate tão forte que é só sobre isso que se fala. O país parou, mas não foi por falta do que fazer.

Esse esquema todo de desarticulação do governo só deu certo porque a ignorância continuar como uma constante na lida do brasileiro. Temos a oposição raivosa, temos meios de comunicação manipuladores e temos a ignorância das pessoas. Francamente, dá para culpar alguém que sai à rua de verde e amarelo, incentivada por aquilo que vê na TV, para pedir o impeachment da presidente sem nem saber quem assume no lugar? Quer dizer, vamos considerar a cooptação, gente.

Nesse contexto, é bom lembrar que os ativistas pelos direitos humanos estão bem no meio do olho do furacão, segurando a cabeça pelo medo da onda conservadora que traz retrocesso a reboque. Medo, porque a gente não quer andar para trás. Mas, não tem mais como ser 'meio termo'. Se a gente quer uma sociedade progressista, não podemos cair nessa furada de impeachment.

Não que tenhamos que passar a mão sobre a cabeça do governo, longe disso. Eu sou absolutamente contra o impeachment de Dilma, muito embora não seja um defensor do governo, pelo contrário, critico bastante a inércia, má vontade e desonestidade diversas vezes praticada quando o assunto era garantir direitos fundamentais.

Porém, é no mínimo ingenuidade deixar de reconhecer, em nome do nosso orgulho ferido, que o impeachment e todos os desdobramentos dos escândalos políticos, como os nomes da Lava-Jato, estão sendo utilizados seletivamente para corromper os princípios constitucionais da democracia e estabelecer um grupo conservador no poder.

Se fosse o contrário, partidos como PSDB, DEM, PMDB, PP, PSC, PSD, PSB, PSDC (e por aí vão) seriam tão responsabilizados pela corrupção no Brasil como o PT está sendo, exclusivamente. E o problema não é punir os políticos do governo, mas, somente eles. Da forma como se propõe, temos um sério desequilíbrio de princípios fundamentais, como o da isonomia. Afinal, a lei é para todos. E, sim, queremos ver todos punidos. TODOS.

Essa dicotomia social criada a partir das tentativas de golpe contra a democracia é muito interessante a quem se beneficiará com o impeachment. Mais uma vez, repito, não precisa ser defensor do governo para perceber que isso fragiliza todo o ordenamento jurídico brasileiro, tornando-o flexível demais a certos interesses. Depois disso, depois que os grupos que são capazes de tudo para derrubar uma mulher que foi democraticamente eleita por mais da metade dos brasileiros que podem votar, qual será a próxima brecha que eles vão utilizar para tirar, por exemplo, os direitos que conquistamos?

É preciso ficar esperto e romper com a ignorância que nos vitima. Temos que ler, compreender, problematizar a situação de forma inteligente. Do contrário, não tem diferença nenhuma entre nós e quem acha, no fim das contas, que após o impeachment quem assume é o Aécio.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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