20/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

As mitológicas motivações políticas

Publicado em 03/12/2015 12:00 - Rodrigo Amém

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Para um articulista, só há uma coisa pior do que ficar sem assunto: ter um assunto só. Eu queria falar de várias coisas. Quis falar sobre terrorismo, sobre aborto. Queria falar do realismo ingênuo nas afirmações de Nando Reis e Guilherme Arantes. Ambos andaram comentando música popular que não lhes pertence. Enfim, não faltava assunto. Eu só não queria falar do Cunha.

Fazer de conta que o PMDB do Cunha e o PMDB do Temer são partidos diferentes é tão exaustivo quanto forjar a inocência da Dilma a partir do extrato bancário suíço do Cunha. Todo mundo culpado, sem moral, mentindo e jogando para sua própria torcida ideológica.

Não que eu ache que não há mais nada a dizer sobre ele. Mas é contraproducente. Essa faux polêmica sobre as motivações do Presidente da Câmara só serve para fazer apresentador de TV engasgar no próprio riso. Fazer de conta que o PMDB do Cunha e o PMDB do Temer são partidos diferentes é tão exaustivo quanto forjar a inocência da Dilma a partir do extrato bancário suíço do Cunha. Todo mundo culpado, sem moral, mentindo e jogando para sua própria torcida ideológica.

E essa é a parte que dói mais. Fingir que essa novela mexicana tem alguma coisa a ver com ideologia política. Que são apenas dois estadistas em busca de um futuro melhor para o povo brasileiro.

Discutir as motivações políticas de Cunha é mais ou menos como debater a teologia do pastor Waldemiro Santiago. Você pode ter a opinião que quiser. Goste ou tenha asco, é difícil não perceber que nenhum dos dois está nem aí para a conversa. Para estes senhores, os valores são outros.

Não é uma questão de idealismo, porque não há um ideal. Não se trata de um embate de ideais. É uma briga de egos. Não é poder de fazer a diferença. É poder. Não é uma questão de transformação do mundo, mas de adaptação ao terreno. Não estão tentando construir nada. Estão escalando. Discutir economia, ética, gestão pública ou o sentido da vida com eles pode até gerar alguns momentos de estarrecido entretenimento. Mas não passa disso.

Da minha parte, já termino 2015 suficientemente estarrecido.   

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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