19/04/2024 - Edição 540

Comportamento

Consumo de ecstasy falso cresce e preocupa médicos

Publicado em 19/11/2015 12:00 -

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O ecstasy de hoje já não é mais o mesmo de antigamente. A presença cada vez maior de novos compostos sintéticos que imitam a ação da molécula MDMA, a molécula "original", está deixando os especialistas preocupados.

O Global Drug Survey (GDS), estudo global que detecta tendências e comportamentos no uso de drogas, mostrou que, na edição de 2015, 0,9% dos usuários da droga tiveram complicações médicas e foram internados. Em 2013, esse valor era de 0,3%.

A pesquisa, que no Brasil foi coordenada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), teve 102 mil participantes no mundo e 5.624 no Brasil. A maior parte da amostragem era jovem e usuária de drogas.

"As pílulas de ecstasy muitas vezes são uma salada com mais de 30 componentes que ainda nem tem nome", afirma a professora da Unifesp Clarice Madruga, responsável pelo GDS no Brasil.

Essas moléculas, diz Clarice, geram fissura (vontade de usar novamente), são neurotóxicas e são fáceis de sintetizar: "São feitas em qualquer fundo de quintal".

Já o MDMA, sigla para metilenodioximetanfetamina, é uma molécula mais segura e difícil de fazer fora de um laboratório equipado. Apesar de ser ilícita, ela vem sendo testada para tratar estresse pós-traumático e como linha auxiliar de psicoterapia para quem não responde aos tratamentos convencionais.

Entre as outras moléculas estão a mefedrona e a PMA (parametoxianfetamina), também sintéticas, que possuem efeitos colaterais acentuados -como mal súbito e desmaios.

O psicólogo especialista em redução de danos Bruno Logan conta já ter atendido usuários que foram enganados na escolha da droga: "As pessoas entendiam que era ecstasy porque era vendido assim e só perceberam que não era depois dos efeitos".

O preço do ecstasy "pirata" é mais baixo. "Essas outras substâncias acabam saindo muito mais barato. O lucro do tráfico é maior, mas o usuário acaba prejudicado", diz Logan.

Um comprimido de ecstasy custa em torno de R$ 35, enquanto um "pirata" chega a ser vendido por metade desse valor.

Álcool

As drogas geralmente são trazidas do exterior. Como há risco de apreensão pela Polícia Federal, as alternativas "em conta" acabam ganhando espaço.

Em 2015, até a primeira quinzena de setembro (dados mais recentes disponíveis), a Polícia Federal apreendeu pouco mais de 300 mil comprimidos de ecstasy.

O número é modesto se comparado ao total de cocaína (18,5 toneladas) ou de maconha (128 toneladas).

Mesmo assim, o impacto do consumo dos vários tipos de ecstasy não podem ser ignorados, na opinião de especialistas.

Segundo Ivan Braun, psiquiatra do Hospital das Clínicas da USP, além de causar dependência, a droga pode provocar crises de pânico e desencadear surtos psicóticos em pessoas predispostas, "principalmente em ambientes onde há intensa atividade física, como a dança".

"Há casos em que a temperatura aumenta e a pessoa morre", afirma.

Uma circunstância que pode agravar os quadros de intoxicação é o consumo dessas drogas associadas ao álcool. No Brasil, isso acontece em 40% dos casos.

Deep Web

Quase 5% dos brasileiros do GDS disseram ter adquirido drogas online. O curioso é que, além de serem vendidas pelos nomes convencionais (como LSD ou ecstasy, por exemplo), às vezes elas são "apelidadas" de adubo, plantas ornamentais ou mesmo de sais de banho.

Alguns usuários relatam ter obtido a droga na camada mais profunda da internet, conhecida como deep web. É uma região não acessada pelos navegadores convencionais e onde há comércio de itens ilícitos e de pornografia infantil, por exemplo.

O Global Drug Survey 2016 está no ar para a participação dos interessados. Com os dados, poderão ser obtidas tendências do comportamento dos brasileiros no uso de drogas.

As pessoas interessadas podem responder ao questionário na página www.globaldrugsurvey.com/gds2016. A interface da pesquisa está acessível em português e não é necessário ter usado nenhum tipo de droga em particular para participar.


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