19/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Tráfico de Batinas

Publicado em 12/03/2014 12:00 - Redação Semana On

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Acabou o carnaval e começou a quaresma, aquele período de penitência e auto-reflexão que antecede a Páscoa. É justamente nesse período que a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) lança sua tradicional Campanha da Fraternidade. O tema para 2014 é “Fraternidade e Tráfico Humano”.

Com a abrangência de um enredo de escola de samba, a Campanha pretende tratar de mazelas diversas: tráfico de órgãos, mulheres, crianças, trabalho escravo. Em comum, há este tema de privação de liberdades “atribuídas por Cristo”.

Primeiro, os elogios: é sempre louvável quando uma instituição – qualquer instituição – condena publicamente a exploração de indefesos. Tem muita igreja neopentecostal por aí que não perde seu tempo com pobre não pagador de dízimo. E discutir um tema, por menos que seja, já é um passo adiante na sua solução. Portanto, bacana, CNBB.

Somente nos Estados Unidos, o próprio Vaticano estima em 100 mil o número de casos de abuso infantil cometidos por membros do clero.

Agora, os fatos: na definição da Convenção das Nações Unidas (Palermo, 2000), tráfico de pessoas significa “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo (…) ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração.”

Somente nos Estados Unidos, o próprio Vaticano estima em 100 mil o número de casos de abuso infantil cometidos por membros do clero, num total de mais de 2 bilhões de dólares de indenização às vítimas. O fofo Papa Francisco até disse recentemente que “ninguém faz mais do que a Igreja no combate à pedofilia” que a Igreja Católica. O equivalente à petroleira BP se gabar de que nunca uma empresa investiu tanto na limpeza do mar do golfo do México.

De acordo com a agência AP, pelo menos 30 padres denunciados foram ‘traficados’ para outros países, incluindo o Brasil.

O que o fofo Francisco se esquece de mencionar é que a resposta mais comum do Vaticano às acusações de pedofilia contra seus membros é, justamente, o tráfico de pessoas. De acordo com a agência AP, pelo menos 30 padres denunciados foram "traficados" para outros países, incluindo o Brasil. Um padre americano acusado de estupro foi enviado para trabalhar com crianças da tribo caiapó, no Pará. Outro, acusado de abusar de menores em Salvador, foi traficado para Moçambique. Esses casos são antigos e conhecidos.

O problema é que a prática continua de vento em papa, digo, em popa. A chefe do Comitê da ONU sobre Direitos da Criança, Kirsten Sandberg, afirma que o Vaticano continua violando os direitos das crianças. "Em suas conclusões, o comitê sobre esse tema destacou a prática de mobilidade dos agressores. Estes eram mudados de transferidos de paróquias para paróquias quando as coisas eram reveladas, o que ainda põe as crianças em muitos países em alto risco de abuso sexual."

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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