28/03/2024 - Edição 540

Camaleoa

8 de março, o Dia Internacional da Mulher

Publicado em 12/03/2014 12:00 - Cristina Livramento

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Todo dia 8 de março, praticamente o mundo inteiro celebra o Dia Internacional da Mulher. A data foi criada a partir dos protestos por melhores condições de vida e trabalho das mulheres na Europa e nos Estados Unidos, desde 1909, e também da morte das 146 trabalhadoras com o incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, dia 25 de março de 1911, em Nova York, nos Estados Unidos. Era a virada do século XX, o contexto da Segunda Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial. Das revoluções sociais, econômicas e políticas das mulheres para hoje, temos algumas coisas para lembrar e refletir, talvez muito mais importantes do que distribuirmos flores e presentinhos para as mulheres do século XXI.

1. Nós mulheres somos as primeiras a educarmos nossos filhos – ainda hoje – para serem MACHOS e as filhas para serem boas moças;

2. Nós mulheres, liberais, independentes, somos as primeiras a olhar com desdém e recriminação outra mulher com a saia muito curta ou um decote muito provocante;

3. Nós mulheres somos as primeiras a julgar outras mulheres e a dizer que o que falta para elas é uma boa trepada para serem menos “amargas”;

4. Somos nós mulheres que entramos na casa de nossas amigas e cobiçamos e estraçalhamos o casamento delas para conquistar o marido/namorado alheio;

5. Nós mulheres ainda acreditamos que ter filhos é fundamental para uma mulher se sentir completa;

6. Nós mulheres ainda acreditamos e sofremos pela ideia da relação ideal, perfeita e eterna;

7. Nós mulheres ainda queremos um marido que nos sustente.

No mês em que se comemora essa data tão significativa, quero lembrar que ser mulher também não é nenhum privilégio e, assim como ser negro, índio, amarelo, somos seres humanos com falhas seríssimas de caráter, com nossas mediocridades e doenças.

Quero dedicar esta coluna, em memória das mulheres que morreram queimadas na fábrica nos Estados Unidos, e a todas as outras que lutaram para que nós hoje pudéssemos usar ou não sutiã, tomar anticoncepcional, transar com quem a gente bem entender e quando a gente bem entender, a não termos mais a obrigação de ficar casada para o resto da vida com medo de se separar e carregar o estigma de puta por causa do fim de uma relação, que ensinaram seus filhos homens a chorar e a reconhecer em si mesmos a sensibilidade e a dignidade humana, que ensinaram suas filhas a serem responsáveis pelos seus atos e a não delegarem responsabilidades da própria felicidade a um marido, a um animal de estimação, a um objeto.

Quero dedicar esta coluna a todos os filhos assassinados por suas mães, a todos os filhos vendidos para adoção, para o trabalho escravo, para a prostituição. Que a luta de todas as mulheres guerreiras durante toda a história da humanidade tenha força cósmica necessária para diminuir a violência e conscientizar cada vez mais quem somos, porque fazemos filhos, porque casamos e o que queremos.

Quero dedicar esta coluna ao menino que ganhou da mãe, no sábado (8), na esquina das ruas Barão do Rio Branco e 14 de Julho, uma cotovelada no rosto simplesmente por chamá-la para ver alguma coisa. A todas as crianças que passam a vida sendo rejeitadas e ouvindo das mães que são pragas, que arruinaram a vida delas e que não prestam e nunca vão ser nada na vida porque são párias como os pais. A todas as crianças, filhos de mães, que se dedicam ao trabalho tão incansavelmente que se esquecem do principal. O mais importante não é o dinheiro e todas as coisas que nós mães podemos comprar para nossos filhos, mas a cumplicidade e o companheirismo que podemos compartilhar com eles.

Quero dedicar essa coluna para você que tem tentado ver o outro com outros olhos, para você que foi criada com uma visão de mundo cheia de preconceito e falsas moralidades, e que mesmo assim tem tentado olhar o próximo com respeito e dignidade. Quero dedicar essa coluna a você que tem procurado cuidar da própria vida (ao invés de futricar sobre a vida da vizinha), que tem tentado ser feliz mais na própria companhia do que na do outro, que tem lutado para envelhecer com dignidade sem odiar o novo e querer ser uma coisa que nunca seremos – eternamente jovens.

Precisamos de RESPEITO e atitude.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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