25/04/2024 - Edição 540

True Colors

A força política da ressignificação

Publicado em 16/10/2015 12:00 - Guilherme Cavalcante

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Não tinha ofensa maior que, há alguns anos, chamar um homossexual de bichinha, viado, morde-fronha e outros nomes. Na verdade, continua sendo ofensa, dependendo do contexto e de quem faz uso. Mas a palavra em si pode ser inofensiva e ganhar, inclusive, muita importância na luta LGBT se a gente resolver ressignificá-la.

Aconteceu assim nos EUA com a palavra "queer", que significa "estranho" e que é usada de forma pejorativa para se referir às pessoas desencaixadas da norma – sobretudo LGBTs. Mas como estar desencaixado da norma está longe de ser uma coisa ruim, resolveram atribuir um novo entendimento sobre a palavra. Por isso "queer", no contexto LGBT, deixou de ser ofensivo, mas afirmativo de que é mesmo na diferença que se busca a igualdade de direitos.

Voltando ao "bichinha", "veado", "flor", "mona" e outros nomes que você deve conhecer muito bem, é curiosa a cara que faz um homofóbico quando tenta nos ofender com essas palavras. Primeiro, que é "senhor bichinha", e segundo que não dá mais para nos ofender nos chamando de algo que temos orgulho de ser. Não é?

A ressignificação das palavras, portanto, é uma arma poderosa para fortalecer nossas políticas de identidade e para desestabilizar a homofobia, o que é um passo da desconstrução da opressão, algo que nós, militantes, tanto almejamos.

O mesmo vale para a comunidade T – travestis, transexuais e transgêneros. O ultrapassado e equivocado discurso patologizador distingue travestis e transexuais entre as pessoas "portadoras de transtornos" que tem "necessidade" de passar por uma redesignação genital ou se mantêm a genitália funcional.

Mas com o fortalecimento dos estudos queer, que tratam o gênero como uma construção social e performático e não como algo essencial e ligado ao sexo biológico, é cada vez mais furado o discurso de que há uma diferença entre mulheres trans e travestis. Quer dizer, gênero não tem NADA a ver com genitália.

Assim, quando uma mulher trans também se assume como travesti, há fortalecimento e empoderamento. A palavra se ressignifica e ganha força política, já que "travesti" ainda é muito associada à prostituição e à criminalidade. Isso é ressignificação.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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