24/04/2024 - Edição 540

Comportamento

Dificuldade para superar luto afeta mais os idosos

Publicado em 10/09/2015 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Ela cuidou do marido durante os últimos oito anos da vida dele, quando ficou cego, teve câncer e problemas cardíacos. Depois que ele morreu em 2002, ela vendeu a casa em Long Island, nos EUA, que os dois dividiam, pois o lugar guardava muitas memórias. Depois disso, se mudou para sua casa de campo.

"Eu não estava nada bem", afirmou Anne Schomaker, de 73 anos. "Tinha surtos terríveis de tristeza e desânimo. Sentia muita saudade do meu marido." Mesmo depois de fazer terapia, o que ajudou um pouco, ela tinha pesadelos e não suportava ouvir as óperas prediletas do casal. "A dor simplesmente não passava."

Geralmente, o luto vai desaparecendo à medida que os meses passam, e as pessoas começam a alternar entre a tristeza e a capacidade de redescobrir os prazeres da vida.

O luto fazia parte de vida de Anne há nove anos quando ela viu um anúncio da Universidade de Columbia, onde pesquisadores que haviam desenvolvido um tratamento para o "luto com complicações" buscavam participantes para um estudo.

O luto prolongado pode atingir qualquer pessoa, especialmente idosos. "O luto é resultado da perda. Pessoas com mais de 65 enfrentam perdas muito maiores", diz Katherine Shear, psiquiatra de Columbia que publicou um artigo sobre o tema no "The New England Journal of Medicine".

Um estudo envolvendo 2.500 pessoas, realizado na Alemanha, afirma que a proporção total é de cerca de 7%, chegando a 9% entre as pessoas com mais de 61.

O problema parece ser mais provável quando a morte é repentina e quando o paciente tem histórico de tendência à depressão, ansiedade e uso de substâncias químicas.

A definição desse tipo de luto é motivo de discordância entre profissionais da área. Na última versão de seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a Associação Psiquiátrica Americana se negou a classificar o luto com complicações como um transtorno mental, mas incluiu o "transtorno persistente complexo relacionado ao luto" na lista de temas que exigem estudo posterior.

O manual sugere um limite de 12 meses para delimitar um luto "normal", mas Katherine e outros pesquisadores propõem um limite de apenas seis meses. Alguns especialistas discordam. "A psiquiatria precisa mesmo rotular emoções humanas perfeitamente normais como transtornos?", questiona Jerome Wakefield, professor da Universidade de Nova York.

Ao diagnosticar o luto com complicações apenas seis meses depois de uma morte, afirmou, "muitas pessoas normais vão receber tratamentos desnecessários", incluindo medicamentos.

Katherine também se preocupa com a "patologização" de emoções. Mas quando uma mulher é incapaz de sair de casa quatro anos depois da morte de um filho adulto, como uma paciente, algo deu errado, ela diz. Seu centro oferece apoio a pacientes em tal situação. Junto a terapeutas, os pacientes encaram memórias, fotografias e gravações da pessoa morta, além de ter contato com outros enlutados em situação similar.

Darlyn Reardon, da Pensilvânia buscou ajuda em 2011. Depois que seu marido, após 40 anos juntos, morreu de câncer, "foi como se eu também tivesse morrido". Sete anos se passaram e "eu não cuidava mais de mim. Não ia nem ao médico. Nós tínhamos amigos, mas me afastei deles. Me afastei de tudo".

Darlyn, de 72 anos, sempre sentirá falta do marido, John. Mas agora ela consegue assistir um filme, comer com a prima, ficar com seu pug de estimação ou passar um tempo em companhia dos netos.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *