28/03/2024 - Edição 540

Comportamento

Brasileiro confia na ciência

Publicado em 22/07/2015 12:00 -

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Os brasileiros dizem se interessar mais por ciência do que por esporte, política ou arte, e os cientistas são os profissionais nos quais eles mais confiam como fonte de informações – mas só 6% das pessoas conseguem recordar o nome de um pesquisador do país.

Esse paradoxo – juras de amor à ciência aliadas a um contato mínimo com o tema – é uma das principais conclusões de uma pesquisa divulgada nesta semana, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na Universidade Federal de São Carlos, no interior paulista.

"O fato é que, infelizmente, não temos celebridades da ciência –nem pessoa física, nem pessoa jurídica", resumiu Aldo Rebelo, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, ao apresentar os dados do levantamento em entrevista coletiva. "Pessoa jurídica", no caso, são as universidade e instituições científicas do Brasil: só 13% dos que responderam à pesquisa conseguiram apontar o nome de um órgão de pesquisa nacional.

Durante a pesquisa, foram ouvidas quase 2.000 pessoas com 16 anos ou mais, espalhadas por todas as regiões do país. Trata-se da terceira edição do levantamento – as anteriores foram realizadas em 2006 e 2010.

Otimismo Pragmático

Quase três quartos dos entrevistados disseram que a ciência traz apenas benefícios ou mais benefícios do que malefícios, um nível de otimismo em relação ao tema comparável ao que existe na China e superior ao que existe nos EUA (67%), na Espanha (64%) e na França (43%).

Trata-se de um otimismo essencialmente pragmático: a maioria dos entrevistados espera que as descobertas científicas melhorem a vida das pessoas e façam com que a indústria se torne mais produtiva, por exemplo. Faz sentido, por isso mesmo, que 51,9% deles vejam a área de medicina como a prioritária para investimentos em pesquisa, seguida do ramo das energias alternativas (37,1%) e das mudanças climáticas.

Quase 80% das pessoas defendem mais verbas para pesquisa. Além disso, o grau de confiança em relação aos cientistas que trabalham em instituições públicas (no Brasil, eles são a maioria absoluta da classe) supera o de jornalistas, médicos e religiosos.

Ao mesmo tempo, porém, a maioria dos entrevistados afirma que "nunca ou quase nunca" tem acesso a informações sobre ciência nos meios de comunicação (incluindo nessa lista TV, rádio e jornais). A exceção é a internet, na qual 49% dos participantes dizem se informar sobre o tema "com pouca frequência". A visitação a espaços como museus de ciência é baixa, mas quase todos os entrevistados citam a dificuldade de acesso como motivo, e não o desinteresse (só 14% dos participantes disseram não ter interesse em visitar esses lugares).

É justamente a falta de acesso que, para os coordenadores da pesquisa, ajuda a explicar o abismo entre interesse declarado e familiaridade com o tema. "Alguma distorção na hora da entrevista pode acontecer, mas temos a resposta comparativa com os outros temas, então não é o fator preponderante", diz Mariano Laplane, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), órgão que coordenou a pesquisa.

"É emocionante ver esses dados, e eles mostram que eu preciso trabalhar mais", brincou Helena Nader, presidente da SBPC. A pesquisadora disse que um de seus objetivos era que mais crianças brasileiras sonhem em se tornar cientistas, e não só jogadores de futebol. "Bom, depois do 7 a 1 contra a Alemanha, acho que menos crianças andam sonhando com futebol."


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