19/04/2024 - Edição 540

Artigo da Semana

Momento de glória para a diplomacia

Publicado em 16/07/2015 12:00 -

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Não é exagero classificar de histórico o acordo de Viena sobre o programa nuclear iraniano. Logramos encontrar uma solução política para um conflito extremamente perigoso que por diversas vezes havia colocado o mundo à beira de um confronto militar.

O acordo de Viena, celebrado na terça-feira (14) na capital austríaca, resulta em mais segurança para a região e impossibilita, a longo prazo e de forma verificável, que Teerã venha a dispor de armas nucleares.

Em contrapartida, o acordo faz com que o complexo regime de sanções ao qual o Irã se encontra sujeito seja, sucessivamente, aliviado, suspenso e, por fim, anulado, desde que seja verificada a execução dos passos acordados e exigidos a Teerã no que diz respeito à limitação e controle do programa nuclear.

Mas a importância do acordo vai além: abre ao Irã a oportunidade única de agora, após décadas marcadas pelo isolamento e pelo confronto, voltar a se aproximar da comunidade internacional.

Com o E3+3 –grupo formado por Alemanha, França e Reino Unido mais Rússia, China e EUA– criou-se um formato de negociação eficaz, que ajudou a superar décadas marcadas pela falta de diálogo entre o Irã e os Estados Unidos e permitiu que os grandes atores internacionais juntassem forças e defendessem interesses comuns.

Talvez o impulso que resulta do acordo histórico de Viena possa agora ser aproveitado para tentar mitigar os grandes conflitos em outras partes do Oriente Médio.

Para isso, e o acordo de Viena bem o demonstra, são necessárias a unidade da comunidade internacional e a firme vontade de agir em defesa de interesses comuns, além de paciência e disponibilidade para avançar para uma solução em passos pequenos e pragmáticos, reduzir a desconfiança e pôr à prova ideias e formatos de negociação.

Em nenhuma parte do mundo isso seria mais urgente do que na Síria, país que, pelo quinto ano seguido, é assolado por uma guerra civil sem tréguas, provocando a fuga de 10 milhões de pessoas e a morte de cerca de 250 mil.

Acordo abre ao Irã a oportunidade única de agora, após décadas marcadas pelo isolamento e pelo confronto, voltar a se aproximar da comunidade internacional.

As frentes, tanto as militares como as políticas, parecem mais rígidas do que nunca. Aquilo que, em 2011, em plena Primavera Árabe, parecia ser um levante pacífico contra a arbitrariedade e a opressão rapidamente ganhou contornos de uma guerra –por procuração– de caráter étnico, ideológico e religioso, travada à custa do povo sírio.

Na Síria, todos os esforços desenvolvidos até agora pelas Nações Unidas para conseguir um compromisso das partes em conflito, no sentido de alcançar uma solução pacífica, têm sido frustrados, o que ocorre em boa parte devido à falta de acordo no Conselho de Segurança da ONU e ao conflito de interesses russos e americanos.

Um processo de aproximação não será bem-sucedido enquanto tivermos, de um lado, as bombas de barril de Bashar al-Assad e, do outro, os carniceiros do Estado Islâmico e de outras milícias islâmicas, sendo cada um dos lados maciçamente apoiado por potências externas.

Para pôr fim a essa evolução nefasta, existe somente uma solução: a comunidade internacional deve, a partir do exterior, falar e atuar em uníssono.

Talvez neste momento tal ação possa parecer imensamente distante, mas o acordo de Viena sobre a questão nuclear demonstrou que é possível alcançar soluções pacíficas mesmo em conflitos em que a desconfiança e até a hostilidade parecem, de início, intransponíveis.

Trata-se de um esforço árduo que exige paciência e perseverança, mas é um esforço que vale a pena.

Frank-Walter Steinmeier – Ministro das Relações Exteriores da Alemanha.


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