26/04/2024 - Edição 540

Mundo

Maduro aperta o cerco contra a democracia na Venezuela

Publicado em 14/02/2014 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Um cenário que reúne inflação alta, insegurança, escassez de produtos básicos e alimentos, maior inflação do mundo e ameaças à imprensa levou uma multidão às ruas de várias cidades venezuelanas na última quarta-feira (16). O confronto com as forças de segurança do Estado terminaram com três mortos, 66 feridos e 69 presos em Caracas, segundo o Ministério Público venezuelano.

Como resposta à pressão popular, o governo venezuelano optou por apertar o certo contra os direitos fundamentais de cidadania. “Quando tomarmos as medidas que vamos tomar, certamente nos acusarão de antidemocráticos”, admitiu o chanceler Elías Jaua numa entrevista ao canal estatal venezuelano Telesur.

A primeira destas medidas foi a determinação da prisão do dirigente oposicionista Leopoldo López, responsabilizado pelo presidente Nicolás Maduro, pelo número 2 do regime, Diosdado Cabello, e pelo chanceler Jaua pela violência durante os protestos.

López, coordenador nacional do partido político Vontade Popular, participa de uma ala oposição – na qual também estão a deputada María Corina Machado e o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma – que decidiu promover manifestações nas ruas até que o regime venezuelano caia. Em entrevista coletiva na noite de quarta-feira, o dirigente havia minimizado a possibilidade de ser alvo de um mandado de prisão, e disse que permaneceria no país para enfrentar as consequências.

Outra ação de Maduro contra as liberdades democráticas foi impedir a transmissão dos sinais dos canais internacionais, que burlam o cerco informativo imposto pelas emissoras locais na exibição ao vivo dos acontecimentos.

Às 15h59 de quarta-feira, William Castillo, presidente da Comissão Nacional de Telecomunicações, pediu em sua conta do Twitter às emissoras internacionais: “Respeitem o povo venezuelano. Promover a violência e o desconhecimento das autoridades é um delito”. Foi uma advertência para o que viria depois. Às 18h (horário local), as empresas de televisão por assinatura DirecTV e Movistar retiraram a emissora NTN 24 de sua grade de programação. O site da emissora também foi bloqueado. Aos venezuelanos restou sinalizar o canal oficial Venezolana de Televisión ou a transmissão no YouTube da NTN24.

Assista ao vivo a transmissão online da NTN24.

Trabalhadores do setor de imprensa têm se manifestado contra o governo nas ruas do país. Além de ameaçar silenciar o pouco que resta de imprensa livre no país, o herdeiro de Hugo Chávez lançou mão de outro recurso para sufocar a imprensa escrita, onde ainda sobrevivem algumas (poucas) vozes dissonantes, já que a maioria dos canais de TV foi subjugada. Jornais e revistas não estão conseguindo autorização do governo para comprar dólar e pagar a importação de papel. A crise do papel já levou onze jornais a interromperem sua circulação, segundo o jornal espanhol El País. Trinta e um diários em toda a Venezuela já fizeram adaptações, como mudar o tamanho ou a frequência de suas edições. 

Marcha contra ao “fascismo”

Neste sábado (15), apoiadores e partidários de Maduro devem ir às ruas para uma marcha "pela paz e contra o fascismo". O presidente busca demonstrar que tem apoio popular. O herdeiro político de Hugo Chávez atribuiu as manifestações a um suposto plano para derrubar seu governo e vaticinou: seu país "não é a Ucrânia", onde uma série de protestos e violentos confrontos entre policiais e manifestantes deram início a uma crise política ainda em pleno curso. 

"Está sendo convocada uma grande marcha para todas as forças sociais e políticas da revolução bolivariana pela paz e contra o fascismo. Portanto, eu me junto à convocação. No sábado todo o povo de Caracas estará na passeata contra o fascismo, contra a violência, contra o golpismo", disse Maduro durante uma reunião ministerial transmitida pela TV.

Crise

O Banco Central da Venezuela (BCV) divulgou na última terça-feira (11) o índice de escassez – que mede a ausência total de bens e a impossibilidade de substituí-los por equivalentes de outra marca – do primeiro mês de 2014. O índice ficou em 28%, a cifra mais alta desde que o organismo passou a apresentar esse indicador, 5,8 pontos percentuais a mais do que o resultado de dezembro. A inflação registrou uma variação de 3,3% em relação ao mês anterior, a mais alta do mundo. Em um ano, os venezuelanos viram um aumento de 56,3% nos preços.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *