23/04/2024 - Edição 540

Poder

Bolsonaro submete militares a papel de vira-latas

Publicado em 05/08/2022 12:00 -

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O penúltimo movimento executado no Tribunal Superior Eleitoral pelo general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, revela que as Forças Armadas não se negam ao ridículo voluntário para ajudar Bolsonaro a avacalhar o sistema eleitoral. Assumindo oficialmente a condição de boneco de um ventríloquo golpista, o general requisitou por escrito ao TSE, em caráter "urgentíssimo", acesso os códigos-fonte das urnas eletrônicas. Algo que estava disponível há dez meses, desde 4 de outubro de 2021.

Com a rapidez de um raio, o TSE autorizou a pasta da Defesa a realizar a pretendida inspeção nesta quarta-feira, no intervalo entre 10h e 18h. Sete entidades já haviam formalizado a mesma requisição. Quatro já realizaram a análise dos dados: Controladoria-Geral da União, Ministério Público Federal, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Senado Federal.

Mal comparando, a submissão do Ministério da Defesa à obsessão de Bolsonaro deixa as Forças Armadas numa posição parecida com a dos vira-latas que costumavam perseguir automóveis nas ruas, latindo como se quisessem castigar estraçalhar um intruso. Quem assistia às perseguições ficava imaginando o que fariam os cães se alcançassem os carros. Mastigariam os pneus? Comeriam os para-choques?

Bolsonaro não tem nenhuma dúvida. Seu propósito é o de desqualificar as urnas para questionar o resultado de uma eventual derrota. O diabo é que a urna eletrônica, que funciona sem fraudes há 26 anos, não se parece com um fusca indefeso. Autorizados a acessar os códigos-fonte, os militares precisam decidir até onde estão dispostos a levar sua autodesmoralização. O papel de vira-latas a serviço de um presidente que rosna a esmo para a democracia não é aceitável.

Insanidade de Bolsonaro é lucrativa para militares

Ao sequestrar o 7 de Setembro pelo segundo ano consecutivo, transformando a data nacional num dia de celebração do seu radicalismo político, Bolsonaro faz do desafio às instituições e à própria democracia um processo de desmoralização dos militares. Faz isso ao encostar sua insanidade naquilo que chama de "minhas Forças Armadas".

No ano passado, Bolsonaro surtou na Avenida Paulista. Neste ano, o aparelhamento eleitoral do Dia da Independência ocorrerá no Rio de Janeiro. O presidente ordenou que o tradicional desfile militar seja transferido da Avenida Presidente Vargas, no centro, para a Avenida Atlântica, na Orla de Copacabana. Planeja adornar o espetáculo com presença das forças policiais e da militância bolsonarista.

O general da reserva Paulo Chagas, ex-bolsonarista, disse tudo ao classificar a iniciativa como "um absurdo", algo "totalmente fora de propósito". Para ele, os militares próximos ao presidente e os membros do Alto Comando deveriam dizer a Bolsonaro: "Ordem errada não se cumpre". O diabo é que o desejo do general não tem correspondência mínima com a realidade.

Bolsonaro cooptou as forças militares com investimentos orçamentários e mimos previdenciários. Consolidou o processo de venezuelização as Forças Armadas ao colocar os contracheques dos seus generais de estimação numa laje acima do teto salarial do serviço público. Ali, os comandantes de escrivaninha passaram a receber até R$ 78,6 mil mensais, o dobro do salário dos ministros do Supremo.

Generais como Luiz Eduardo Ramos, Augusto Heleno e Walter Braga Netto apalparam ganhos extras superiores a R$ 300 mil por ano. O escárnio faz com que os generais não sofram com a insanidade de Bolsonaro. Eles aproveitam cada segundo dela.

Sakamoto: Lula deixa claro que não quer promover inimizade com militares

A declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre os militares serem "mais responsáveis" do que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma sinalização de que o petista pretende ter uma relação pacífica com eles, avaliou o colunista do UOL Leonardo Sakamoto.

"Lula sabe que não vai conseguir virar o posicionamento de um grupo dentro das Forças Armadas que é a favor de Bolsonaro", disse Sakamoto, durante participação no UOL News. "Já que ele não vai conseguir trazer para o lado dele, [Lula] está deixando claro que não vai criar caso, que vai ter um governo, da mesma forma que teve nos seus oito anos de mandato, em comunhão e paz com as Forças Armadas", acrescentou.

As falas de Lula aconteceram nesta semana em entrevista ao UOL.

"Acho que ele vai tentar fazer o que quer fazer. [Mas] a gente deve ter em conta que militares são mais responsáveis que Bolsonaro", afirmou o ex-presidente sobre possibilidade de golpe. "Convivi com militares e não tenho queixa do comportamento das Forças Armadas. Mantive oito anos de convivência da forma mais digna possível."

Sakamoto lembrou que Lula chegou a dizer que, se fosse eleito, tiraria parte significativa dos militares do governo.

"Agora, ele modula esse discurso garantindo uma paz com eles. Não espera que os militares façam campanha para ele, mas que se tenha pelo menos uma situação pacífica", disse o jornalista.

"Ele quer mostrar que não vai ser revanchista, ou seja, um Lula 'paz e amor' inclusive junto aos militares", concluiu.

Apuração da colunista Carla Araújo mostrou que as declarações de Lula tiveram uma boa repercussão entre militares da ativa, apesar do petista ainda sofrer críticas de parte dos membros do Exército.


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