28/03/2024 - Edição 540

Ogroteca

Abusando dos videogames

Estudo da USP mostra que somos mais ‘viciados’ que o normal

Publicado em 03/08/2022 8:00 - Fernando Fenero

Divulgação Pixabay

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A USP divulgou essa semana um estudo em que é constatado que 28% dos jovens fazem uso abusivo de videogame, dado esse que está bem acima da média mundial. O estudo foi publicado na National Library of Medicine, e informa que 28,7% abusa do uso de videogames, o que significa vício, contra 19% da média mundial.

Esse estudo virou notícia, e vai cair como uma bomba na comunidade gamer afetando principalmente a parte mais jovem do público, mas o estudo sozinho não resolve nada, é preciso olhar para um pouco mais longe para entender as causas e o que pode ser feito para evitar e resolver quando se torna um problema.

Digo isso, porque uma mãe preocupada com seus filhos vai simplesmente impedir o acesso, ou começar uma guerra doméstica onde ela está fundamentada com as matérias que viu na mídia, mas sem ter feito o juízo correto de como proceder e criando assim mais problemas que vão se somar com uma situação que poderia ter outra abordagem.

E sim, temos um grupo grande de pessoas que sofre com vício em videogames, a pesquisa foi atrás de jovens adolescentes, mas se colocar todo os jogadores dentro da mesma sacola, o problema fica maior. Um adulto que trabalha suas oito horas por dia, mas chega em casa todo dia e fica horas na frente do FIFA22 está em um estado de vício, e o principal termómetro para diagnosticar se é uso normal ou um problema é justamente o tempo gasto com o hobby.

Quanto tempo é o saudável? O martelo ainda não foi batido quanto a isso, e apesar da OMS já reconhecer o vício em videogames como problema de saúde, como uma doença de verdade, cada país e entidade médica acreditam numa forma de tratar o problema. Restrições para jovens é a forma mais tentada de resolver a questão, na China os jogos delimitam o quanto tempo se pode passar jogando, no Japão e Coréia há um monitoramento de horas e os excessos são reportados, mas tudo isso é muito fácil de burlar, o que devemos esperar de um viciado.

E veja bem, não estou aliviando de propósito, quem é viciado em videogame não é diferente do alcoólatra ou de quem tem problema com drogas. É uma dor falar dessa forma até porque já fui adolescente e lembro de todas as críticas que os jogos recebiam da mídia, pais, entidades religiosas e demais setores, mas considerando a saúde da pessoa, temos que considerar sim um problema.

E os distúrbios gerados pelo vício são muitos, problemas de sono, de ordem sexual, dificuldade de socializar, crises de ansiedade… são tão diferentes assim dos sintomas de alguém que precisa de álcool todos os dias?

E é uma doença que precisa de uma análise social bem abrangente, é fácil tirar o Playstation do seu filho da tomada e dizer que ele não vai mais jogar, mas que outro tipo de acesso a lazer ele tem? A vinte, trinta anos atrás uma criança podia brincar na rua, a escola era outra, haviam outras possibilidades de atividade.

A urbanidade mudou, e hoje é complicado o brincar na rua. Não sei se realmente a violência aumentou ou se só fomos atingidos em cheio pela propaganda do medo promovido por Datena e similares, mas é praticamente impossível de não temer por um filho que fique parte do dia fora de casa.

Se o negócio então é deixar a criança enclausurada dentro de casa, ou com saídas programadas para parques e eventos (parece até uma penitenciária, não é?) É então preciso entender que esse ambiente doméstico precisa ser atrativo, o que demanda não só muito trabalho por parte dos pais como também dinheiro.

Sim pais, não basta só gastar seu dinheiro em brinquedos, assinaturas de streaming e livros, isso tudo precisa ser direcionado para que teu filho tenha o hábito. Se você não encosta em um livro a oito anos, é totalmente improvável que a criança que vive com você desenvolva interesse por leitura.

E é claro que isso fica ainda mais complicado quando a família não tem recursos, uma mãe solteira com filhos adolescentes e que trabalha o dia inteiro fora de casa, não vai querer seus meninos na rua, e não é razoável que prefira que os moleques passem o dia jogando Free Fire dentro do quarto? Não vou ser eu a julgar essa mãe, ainda que não seja o ideal para formar um adulto crítico e funcional.

Por fim, deixo dois recados: se você é um adolescente e está sofrendo as sanções de uso de videogame e celular, tente diálogo cordial com seus pais, busque novas fontes de entretenimento, entenda que passar seis horas jogando não vai te fazer bem, e evite o confronto direto, seus pais querer o seu bem e isso tudo ainda é novo para a sociedade.

E se você é pai, e está preocupado com a quantidade de horas que seu filho passa jogando videogame, se atente para que outras atividades ele poderia estar fazendo, participe da vida do seu filho, opte pelo diálogo ao invés de uma ruptura brusca porque o “joguinho” é uma coisa importante para ele.

Em casos mais graves, quando o jogo está efetivamente afetando a saúde e a capacidade de socializar da pessoa, jovem ou não, é importante procurar auxílio médico e psicológico. Sem pânico, mas com a atenção que esse problema merece.

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Fernando Fenero


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