25/04/2024 - Edição 540

Brasil

Este CFM não nos representa!

Milhares de médicos e médicas estão firmando nota em repúdio à conivência do Conselho Federal de Medicina com as atitudes negligentes e anticientíficas de Bolsonaro

Publicado em 02/08/2022 7:58 -

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Inconformados com a visita do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, ao Conselho Federal de Medicina (CFM) no último dia 27, médicos lançaram ontem um manifesto e um abaixo-assinado contra a entidade. O documento, que na manhã de hoje tinha mais de 4 mil assinaturas, critica a direção do conselho por apoiar as declarações anticientíficas e desrespeitosas de Bolsonaro. O manifesto tem o título “Este CFM não nos representa”.

À plateia que estava no auditório do conselho, o presidente da República voltou a defender o uso de medicamentos ineficazes como a cloroquina contra a covid-19, disse com orgulho que não se vacinou e ridicularizou os senadores que comandaram a CPI da Covid, arrancando risos dos presentes. Ao fim, foi aplaudido de pé e alguns gritaram “Mito!”.

Na abertura do manifesto contra a entidade, médicos e médicas alertam que “normas éticas e evidências científicas” devem ser seguidas e respeitadas “pelos órgãos da classe e sociedades representativas”.

Os autores do texto prosseguem dizendo que “incrédulos e envergonhados” tomaram conhecimento da visita do presidente ao CFM, ocasião em que “explicitamente e diante de dezenas de médicos ridicularizou a pandemia e desprezou todos os que com ela perderam a vida (inclusive muitos médicos e profissionais de saúde), criticou as normas éticas e valores científicos da medicina e chegou ao cúmulo de se vangloriar de não ter sido vacinado contra Covid-19 e estar vivo”, sem ser interrompido ou questionado por sequer um dos médicos ali presentes.

O conselho é criticado no documento por defender “posturas anticientíficas e com viés político, dando apoio a tratamentos que já foram amplamente estudados e cuja ineficácia é comprovada pelos maiores e mais reconhecidos centros de pesquisas médicas do mundo”.

Prossegue o manifesto: “Acompanhamos estarrecidos uma parte da categoria médica que ignora os efeitos das ações nefastas do atual governo federal, que provocaram agravamento da pandemia, aumento da fome e reduziram as perspectivas de futuro para grande parte dos brasileiros e brasileiras, com impacto significativo para população mais vulnerável. O mesmo governo que reiteradamente atenta contra as instituições e a democracia”.

Ao fim, os autores dizem que é “importante dizer à sociedade civil que muitos médicos e médicas desse país veementemente reprovam o que ocorreu nessa solenidade festiva em que aplausos e sorrisos ignoraram o enorme sofrimento do povo brasileiro”.

“Por isso defendemos o resgate do CFM como órgão em defesa da ética, da vida e dos preceitos científicos. Que represente verdadeiramente a categoria médica e a sociedade”, conclui o manifesto.

O MANIFESTO

No último dia 27 de julho os médicos brasileiros tomaram conhecimento da visita do presidente da República à sede do Conselho Federal de Medicina (CFM) em Brasília acompanhado pelo ministro da Saúde. No evento, o presidente voltou a atacar a ciência, menosprezar o sofrimento de centenas de milhares de famílias que perderam seus familiares para a covid-19, para ao final se vangloriar pelo fato de não ter se vacinado. Tudo isso assistido por médicos calados, que ao final o aplaudiram.

Na verdade o fato em si não nos surpreendeu pois o CFM em todo este período manteve uma postura de omissão colaborativa com os crimes cometidos pelo governo federal, além de uma postura claramente anticiência.

Entretanto, o contexto em que o evento ocorreu – em período eleitoral, servindo como palanque para um dos candidatos no momento em que alcançamos 678 mil mortes, centenas delas de profissionais de saúde, na casa que deveria ser a a da defesa intransigente da ética médica e da defesa da vida, nos indignou.

Começamos então uma mobilização nas redes sociais e em poucos minutos mais de 500 colegas nos uníamos em torno da necessidade de uma resposta. E ela veio na forma de um manifesto que inicia com a chamada: “Este CFM não nos representa”, em sua postura, em sua prática, em suas posições.

Nossa expectativa é a de uma chamada à reflexão e a um início de mobilização convocando as médicas e médicos à uma profunda revisão sobre qual deve ser o papel do CFM e dos conselhos regionais em relação à prática da medicina, em defesa da ciência, e em defesa da vida!”

(José Gomes Temporão)

Este CFM não nos representa!
Uma nota pública dos médicos e médicas

Somos médicos e médicas cuja conduta é orientada por normas éticas e evidências científicas que norteiam nossa prática, que devem ser seguidas e respeitadas pelos órgãos da classe e sociedades representativas. Apoiamos o estado democrático de direito e repudiamos fortemente posturas racistas, homofóbicas, misóginas e que ridicularizam minorias.

Incrédulos e envergonhados, tomamos conhecimento da solenidade ocorrida em 27 de julho de 2022, na sede do CFM, na qual o presidente da república, acompanhado do ministro de estado da saúde (graduado em medicina), explicitamente e diante de dezenas de médicos ridicularizou a pandemia e desprezou todos os que com ela perderam a vida (inclusive muito médicos e profissionais de saúde), criticou as normas éticas e valores científicos da medicina e, chegou ao cúmulo de se vangloriar de não ter sido vacinado contra COVID-19 e estar vivo.

Isso feito, sem que fosse interrompido ou questionado, em pleno século XXI, por sequer um dos médicos ali presentes. Este CFM defende posturas anticientíficas e com viés político, dando apoio a tratamentos que já foram amplamente estudados e cuja ineficácia é comprovada pelos maiores e mais reconhecidos centros de pesquisas médicas do mundo. Há inúmeros estudos que demonstram a ineficácia dos nomeados “tratamentos precoces”. Diversas sociedades médicas já se posicionaram em relação a esse tema e este CFM permanece irredutível na sua jornada anticientífica, apesar de todas as evidências contrárias.

Acompanhamos estarrecidos uma parte da categoria médica que ignora os efeitos das ações nefastas do atual governo federal, que provocaram agravamento da pandemia, aumento da fome e reduziram as perspectivas de futuro para grande parte dos brasileiros e brasileiras, com impacto significativo para população mais vulnerável. O mesmo governo que reiteradamente atenta contra as instituições e a democracia.

É importante dizer à sociedade civil que muitos médicos e médicas desse país veementemente reprovam o que ocorreu nessa solenidade festiva em que aplausos e sorrisos ignoraram o enorme sofrimento do povo brasileiro. Por isso defendemos o resgate do CFM como órgão em defesa da ética, da vida e dos preceitos científicos. Que represente verdadeiramente a categoria médica e a sociedade. Este CFM não nos representa!


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