26/04/2024 - Edição 540

Saúde

Ação para reverter a queda da cobertura vacinal brasileira

Publicado em 05/07/2022 12:00 -

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É de grande preocupação a decaída do Programa Nacional de Imunizações (PNI) desde 2013, e mais acentuada desde 2016. Hoje, todas as doenças encontram-se com cobertura vacinal abaixo do necessário para imunização coletiva. E os maus resultados já começam a aparecer: o sarampo, que havia sido eliminado em 2016 no Brasil, segundo a ONU, voltou e está causando até mortes, especialmente em recém-nascidos. Verbas destinadas para a campanha são cortadas sistematicamente pelo governo. O que fazer, diante desse cenário?

Entidades públicas de Saúde decidiram enfrentar a inércia do Palácio do Planalto e do ministério e apostar na comunicação para expandir a compreensão dos brasileiros sobre a importância da imunização. O Conselho Nacional de Saúde (CNS), o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) aliaram-se à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ligada à OMS, para produzir e disponibilizar para entes públicos materiais para campanha e informações técnicas sobre as vacinas disponíveis no Plano Nacional de Imunização (PNI).

Durante a apresentação da campanha Vacina Mais, que aconteceu ontem (29/6), Fernando Pigatto, presidente do CNS, lançou um desafio: que, daqui a um ano, durante a 17ª Conferência Nacional de Saúde, os primeiros resultados positivos da campanha já possam ser celebrados. Socorro Gross, representante da OPAS, celebrou o SUS na cerimônia e declarou: “As vacinas são uma das medidas de saúde pública mais econômicas e efetivas que existem e precisam continuar sendo um bem público mundial”. 

Rosana Onocko, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), compareceu ao evento representando a Frente pela Vida. “O PNI foi um dos mortos da covid”, lamentou, “mas nós precisamos fazê-lo reviver”. Em debate virtual que aconteceu em 23/6, promovido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP-Fiocruz), a pesquisadora do Instituto Bio-manguinhos/Fiocruz, Maria de Lourdes de Sousa Maia, declarou que “é fundamental sensibilizar a população e criar uma grande rede de solidariedade, envolvendo instituições, organizações sociais, associações comunitárias e poder público pela reconquista das altas coberturas vacinais”.

Em reportagem da revista Poli de maio/junho, alguns especialistas em saúde pública analisam as principais motivações para a queda na adesão ao PNI no Brasil, nos últimos meses. Há uma clara falta de vontade política em investir na campanha, mas outros fatores contribuem para a ausência nos postos de vacinação. Um deles é paradoxal: a vacinação foi tão eficaz em prevenir doenças que há gerações de pessoas que não conhecem seus principais riscos. É o caso da paralisia infantil causada pela poliomielite, que já foi comum no Brasil mas hoje em dia não é mais um temor para as famílias.

Essa falta de percepção do problema faz esquecer a necessidade de vacinar as crianças – população em que as vacinas são mais decisivas para conter as doenças. A própria covid ilustra claramente a questão: enquanto a doença era perigosa, levava centenas de milhares aos hospitais e obrigava ao isolamento social, os brasileiros compareceram em massa à campanha de vacinação. Agora, que o risco se amenizou, a tendência caiu: apenas 47,3% já tomaram a dose de reforço.

Há ainda outro elemento importante – e bem mais prático – para o atraso da vacinação das crianças: a dificuldade de acesso. O PNI garante a chegada de vacinas nas regiões mais remotas do país. Mas às vezes o problema está mais próximo do que parece: em grandes cidades, por exemplo, apesar da ampla oferta, os horários são restritos e os adultos têm dificuldade de se ausentar do trabalho para levar as crianças.


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