29/03/2024 - Edição 540

Poder

‘Bolsonaro sabe que vai perder e quer fazer o que o Trump fez’, diz Lula

Publicado em 05/07/2022 12:00 -

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O ex-presidente Lula afirmou que o seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL), sabe que perderá as eleições de outubro e quer tumultuar o processo eleitoral ao atacar as urnas eletrônicas.

“Bolsonaro sabe que vai perder as eleições, o que ele está querendo fazer é o que o [Donald] Trump fez, criar uma confusão antes, durante e depois”, disse o petista em entrevista à Rádio Educadora de Piracicaba (SP).

Lula ainda declarou que a estratégia do ex-capitão não vai surtir efeito e que a maioria dos brasileiros não votará no atual presidente para um segundo mandato.

“Ele só não vai conseguir armar essa confusão porque a maioria do povo está cansada e vai tirar da Presidência”, disse. “Ele quer aumentar Auxílio [Brasil] e o vale-gás. Não vai adiantar, o povo já está convencido de que gosta mais de democracia”.

Na conversa, o ex-presidente ainda comentou o seu plano de diminuir a fome e o desemprego no País. “O que vamos fazer é com que o País volte a crescer com um pacote de investimento em infraestrutura”.

O petista também criticou a instabilidade das instituições brasileiras. “O Brasil hoje está uma bagunça, as pessoas não se entendem. O Congresso Nacional tomou conta do orçamento da União, que era de administração do Presidente da República. O Poder Judiciário está fazendo mais política do que o Congresso Nacional, que por sua vez está judicializando a política”.

Quando perguntado sobre a credibilidade de um futuro novo governo petista após os escândalos do mensalão e da Lava Jato, Lula afirmou que nunca perdeu a confiança da população.

“Quando eu estava na Polícia Federal cheguei a crescer 16 pontos na pesquisa de opinião pública porque o povo brasileiro me conhece, sabe da mentira que foi o comportamento do Moro. As pessoas sabem da mentira que o MPF, chefiado pelo Dallagnol, contou”, disse.

Lula apontou ainda que durante seu governo foram criados diversos mecanismos de combate à corrupção e que pretende promover um “revogaço” dos decretos, emitidos por Bolsonaro, que decretam sigilo.

Questionado sobre as privatizações, o petista se declarou contra a venda de empresas estatais e responsabilizou o atual presidente pela alta dos preços dos combustíveis no País.

“O preço do combustível chegou onde chegou por irresponsabilidade do Bolsonaro. O presidente da Petrobras não pode mais do que o presidente do País”, declarou. “Essa história de privatizar é coisa de incompetente. Eu não sei como governar, não sei como fazer a economia crescer e vou vender o que eu tenho para ter dinheiro para gastar. Daqui a pouco não tem nem o dinheiro, nem as empresas”.

Juízes pedem que estrangeiros monitorem eleição e ameaças de Bolsonaro

Numa carta enviada para algumas das principais organizações internacionais, a Associação Juízes para a Democracia (AJD) denuncia os ataques do presidente Jair Bolsonaro contra as instituições nacionais e pedem que estrangeiros monitorem a situação no Brasil, inclusive com observadores enviados ao país para a eleição de outubro.

A associação, criada ainda nos anos 1990 e que hoje conta com cerca de 400 juízes, diz que a carta tem como objetivo "denunciar [Bolsonaro] e alertar países a organismos multilaterais sobre práticas incompatíveis com a defesa da democracia como movimento global".

O documento obtido pelo UOL com exclusividade foi entregue ao secretário-geral da ONU, ao Escritório Global da ONU Direitos Humanos em Genebra, ao Comissário da OEA para Defensoras e Defensores de Direitos Humanos e Operadores de Justiça, Joel Hernandez, e para a presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Julissa Mantilla Falcón.

"A AJD entende que, em contextos de grave crise democrática, como o que se apresenta, os juízes não têm apenas o direito fundamental à liberdade de expressão, mas o dever de se manifestar na defesa da democracia", justificam.

No documento, a entidade alerta que o presidente "busca, sem mais nenhuma dissimulação, avançar sobre a liberdade do voto, criando toda espécie de incidentes com os juízes da Suprema Corte, em campanha de desacreditação institucional e pessoal de seus integrantes, como forma de promover instabilidade que lhe favoreça diante da militância que o apoia".

Para o grupo, as violações que ele comete são várias. "O atual presidente do Brasil, além de romper com os artigos 1º, 23, I, que impõem o dever de zelo pelas instituições e ritos democráticos, ofende toda a legislação nacional que estabelece os modos legais e formatos de votação que apuram votos no Brasil há quase trinta anos (urnas eletrônicas sem conexão em rede), buscando perpetuar-se no poder tal qual seus ídolos de outrora", destaca.

O texto lembra que Bolsonaro "nunca escondeu de ninguém ser adepto de ditaduras, da tortura e de torturadores". "Tem como ídolo um dos mais cruéis algozes da ditadura civil/militar brasileira, instaurada em 31 de março de 1964, o falecido coronel Brilhante Ustra, oficialmente reconhecido como tal, a quem reverencia rotineiramente", apontam.

Diante do cenário que é descrito como o de "anormalidade institucional", os juízes pedem que as entidades internacionais "acompanhem, desde já, com atenção, os movimentos políticos eleitorais e pré-eleitorais no Brasil, preferencialmente com a presença de observadores em solo nacional, refletindo, igualmente, sobre os destinos das relações políticas e comerciais com o Brasil em caso de recrudescimento das intenções golpistas do atual mandatário".

Para a eleição de outubro, entidades como a OEA se prepararam para mandar uma equipe ao país, conforme acordo já em vigor. O governo Bolsonaro, porém, freou a iniciativa de convidar a União Europeia para acompanhar o processo eleitoral.

O pesadelo que deveria assombrar os que defendem a democracia

O Brasil já viveu a experiência de presidentes depostos por golpes militares e processos de impeachment, e de conspirações para não dar posse a presidentes legitimamente eleitos.

Em 1930, derrotado nas eleições, Getúlio Vargas liderou o movimento que o levou ao poder. Em 1945, foi derrubado por um golpe. Eleito em 1950, matou-se em 1954 para não ser derrubado.

Os militares tentaram impedir que o vice João Goulart tomasse posse em 1961 uma vez que o presidente Jânio Quadros renunciara ao cargo. Não conseguiram. Então derrubaram Goulart em 1964.

Estamos às portas de algo novo desde a redemocratização do país em 1985: um presidente derrotado pelo voto (Bolsonaro) que tudo fará para não dar posse ao seu sucessor (Lula).

Se de fato perder, como tudo indica, Bolsonaro terá três meses pela frente para convulsionar o Brasil. E contará para isso com o apoio de militares da ativa e da reserva, policiais e milicianos.

O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral preparam-se para o ensaio do golpe previsto para o próximo 7 de setembro. Esquemas de segurança estão sendo montados.

Não basta. Desde já, a Justiça, o Congresso e as demais forças da sociedade que defendem a democracia deveriam preparar-se também para enfrentar os três meses infernais que virão.


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