25/04/2024 - Edição 540

Poder

Ganha velocidade a ruína moral do governo Bolsonaro

Publicado em 03/07/2022 12:00 -

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Considerado o mês de má sorte na história política do Brasil desde o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954 e da renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, agosto, este ano, chegou rápido para o governo Bolsonaro.

“Sem pandemia, sem corrupção, com Deus no coração. Ninguém segura esta nação” – bradou Bolsonaro em recente anúncio na televisão e no rádio.

Do novo slogan de sua campanha à reeleição, nada restou. A pandemia ainda mata. Corrupção só cresce. Deus no coração não combina com assédio sexual a funcionárias da Caixa Econômica.

Bolsonaro ganhou mais uma chance de sair em defesa de um dos seus homens de confiança – o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, acusado de roubar e de deixar roubar; e o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, de assediar subordinadas.

Ribeiro continuará sendo defendido pelo presidente da República e ameaçado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado. Guimarães pediu demissão a pretexto de ir cuidar do processo que o aguarda.

Bolsonaro sabia que Guimarães estava sendo investigado pelo Ministério Público Federal, sabia do depoimento das mulheres abordadas por ele, mas esperava que nada vazasse tão cedo. Vazou.

A pouco mais de 90 dias da eleição presidencial, era ele ou Guimarães, e o presidente da Caixa não teve como ficar. Bolsonaro foi aconselhado pelos que o cercam a demiti-lo imediatamente, e cedeu a contragosto.

Guimarães era um dos seus poucos xodós, companheiro frequente em viagens, o auxiliar mais requisitado por ele para participar de suas barulhentas lives semanais. Bolsonaro conhecia as estripulias de Guimarães, mas fingia que não.

Mal tomou posse como presidente da Caixa, Guimarães foi a Teresina e protagonizou por lá um caso que acabou abafado. Divertiu-se com uma mulher dentro do carro alugado a uma locadora.

Evangélico, chocado com o que viu pelo retrovisor, o motorista, encerrado o serviço, relatou tudo aos seus superiores e pediu demissão. Custou convencê-lo a recuar do pedido.

Se falassem as paredes do estacionamento de veículos do prédio da Caixa Econômica, em Brasília, elas teriam muito o que revelar. Muito mais do que está sendo revelado pelas funcionárias ouvidas até agora pelo Ministério Público Federal.

O ex-ministro da Educação, preso outro dia, solto poucas horas depois, não será abandonado por Bolsonaro. E por um simples motivo: porque foi Bolsonaro que o meteu na arapuca em que caiu.

Por ordem de Bolsonaro, Ribeiro abriu as portas do Ministério da Educação para dois pastores evangélicos de péssima reputação. E eles passaram a cobrar propina para liberar verbas do Fundo Nacional para Desenvolvimento da Educação.

Bolsonaro virou refém dos dois pastores, assim como de Ribeiro. Usará a força do seu cargo para que nada lhes aconteça, do contrário sobrará para ele também. Mas, por mais que possa, não pode tudo.

O Supremo Tribunal Federal o pressiona, e 31 senadores, 4 além do mínimo necessário, assinaram o requerimento para a criação da CPI sobre a roubalheira na Educação.

O governo está gastando rios de dinheiro para impedir que a CPI seja instalada. Do dia da prisão de Ribeiro (22/6) até o último dia 27, R$ 4,3 bilhões do Orçamento Secreto foram destinados à construção de obras em locais indicados por deputados e senadores.

Não vai parar por aí. Em desespero, Bolsonaro está disposto a comprar sua reeleição a qualquer preço.

Reeleição sob ameaça

O escândalo que custou o cargo de presidente da Caixa Econômica Federal a Pedro Guimarães modificou o ambiente no comitê da reeleição. O desespero converteu-se em desânimo. Bolsonaro descumpriu o que havia combinado com os conselheiros políticos de sua campanha. Após acertar com seu staff, na noite de terça-feira, o afastamento instantâneo do chefe da Caixa, Bolsonaro executou o combinado em marcha lenta e de forma enviesada.

Em vez de emitir uma nota oficial nas primeiras horas da manhã, demitindo o executivo acusado de assédio sexual por funcionárias da Caixa, o presidente protelou o desfecho para o final da tarde. E ainda concedeu ao amigo a troca da exoneração sumária por um pedido de demissão no qual um suspeito de assédio fez pose de vítima de uma "situação cruel".

Bolsonaro deu de ombros para uma outra recomendação dos operadores de sua campanha. Estava combinado que o candidato prestaria solidariedade às mulheres, repudiando o assédio sexual, um crime tipificado no Código Penal. Ouviu-se de Bolsonaro apenas o silêncio.

Teme-se agora que o presidente leve alguma parte do seu corpo ao fogo pelo amigo inflamável. O que potencializaria o risco de elevação da taxa de rejeição de sua candidatura junto ao eleitorado feminino, hoje na casa dos 61%, segundo o Datafolha.

Os aliados cobram uma guinada na retórica e na agenda da campanha à reeleição. Antes, Bolsonaro precisa se benzer.

Uma coisa é um lance de má sorte. Coisa bem diferente são os sinais de mau agouro que desabam sobre a candidatura do presidente como uma avalanche em conta-gotas. Coisa ainda pior é a forma como o candidato reage, transformando cada urucubaca num fator de desgaste eleitoral.

Numa semana, Bolsonaro chama Bruno Pereira e Dom Phillips, assassinados na Amazônia, de "aventureiro" e "malvisto", respectivamente. Noutra semana, retira a cara do fogo para levar a mão às chamas por Milton Ribeiro depois da passagem relâmpago do ex-chefe do MEC pela cadeia. Agora, o candidato permite que um apalpador se retire de cena exibindo, no alvorecer das investigações, o figurino de violentado.


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