Poder
Bolsonaro tem a pior avaliação em fim de mandato desde a redemocratização do país
Postado em 24 de Junho de 2022 - Joias de Souza (UOL), Congresso em Foco, RBA - Edição Semana On
Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.
Numa entrevista de 8 de abril de 2019, às vésperas de completar os primeiros 100 dias de governo, Bolsonaro declarou que "a reeleição causou uma desgraça no Brasil", porque "prefeitos, governadores e até o presidente se endividam, fazem barbaridades, dão cambalhotas" para permanecer no Poder. Nesta sexta-feira (24), começa a contagem regressiva de 100 dias para o encontro dos brasileiros com as urnas. Rejeitado por 55% do eleitorado e sob a ameaça de amargar uma derrota no primeiro turno para Lula, Bolsonaro faz "barbaridades" e dá "cambalhotas" dentro dos cofres públicos por uma reeleição que o Datafolha aponta como improvável.
A nova pesquisa apresenta um cenário de estabilidade em relação à sondagem feita no mês passado. Lula (47%) aparece 19 pontos à frente de Bolsonaro (28%). Se a eleição fosse hoje, Lula venceria no primeiro turno com 53% dos votos válidos. Embora esteja distante da reeleição, Bolsonaro exibe uma resistência notável, que lhe permite cultivar a perspectiva de levar a disputa para um segundo turno. É nisso que apostam o presidente e seus operadores ao transformar o Tesouro Nacional num puxadinho do comitê de campanha.
Entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos, que respondem por 52% dos votos, Lula prevalece sobre Bolsonaro por 56% a 22% —diferença de 34 pontos. Esse pedaço majoritário do eleitorado, que define os rumos da eleição é o que mais sofre os efeitos da inflação. É para esse público que Bolsonaro exibe suas "barbaridades" e "cambalhotas". O Bolsa Caminhoneiro de R$ 400, engavetado há oito meses por falta de recursos, ressurge agora como um PIX de R$ 1.000. Reajustado para R$ 400 numa cambalhota do ano passado, o Auxílio Brasil é turbinado para R$ 600, como queria a oposição. O vale-gás mixuruca de R$ 53 dobra de valor.
As benesses de última hora são trançadas num pavimento superior ao teto de gastos à revelia da lei eleitoral, que proíbe a criação de gastos novos na antessala das eleições. Mas a responsabilidade fiscal e a legalidade tornam-se fatores irrelevantes na fase das "barbaridades" e das "cambalhotas". Se tudo correr como deseja o comitê da reeleição, Bolsonaro iria ao segundo round para ser surrado por Lula. Hoje, segundo o Datafolha, a surra seria 57% a 34%.
Num cenário em que Ciro Gomes rala na casa dos 8% e Simone Tebet murcha para 1%, apenas o Senhor Imponderável poderia bagunçar as previsões eleitorais de 2022. Em 2018, o Imponderável deu as caras duas vezes: quando Lula foi preso e quando Bolsonaro levou uma facada. Afora o imprevisto, restam as acrobacias. Quanto mais "cambalhotas", pior será a herança a ser deixada por Bolsonaro para 2023.
Confirmando a liderança
Outras duas pesquisas divulgadas nesta semana confirmam a liderança de Lula. Pesquisa Exame/Ideia, divulgada na quinta-feira (23), aponta diferença de nove pontos percentuais entre o petista e o atual presidente, na comparação com o levantamento anterior, feito em maio. Lula aparece com 45% das intenções e Bolsonaro, com 36%. Ciro Gomes (PDT) tem 7%, Simone Tebet (MDB), 3%, e André Janones (Avante), 1%.
Esta é a primeira pesquisa sem o nome do ex-governador João Doria (PSDB). Por causa disso, destacam a revista e o instituto, não é possível comparar os dados com o levantamento anterior. Os números são de pesquisa estimulada, em que os nomes são apresentados em forma de lista aos entrevistados.
Segundo o fundador do Ideia, Maurício Moura, o crescimento de Lula no primeiro turno pode levar a uma definição da eleição. “Há um movimento positivo para o ex-presidente Lula em termos de comparação com o Bolsonaro, mas o mais importante disso é que vemos uma possibilidade maior da eleição acabar no primeiro turno”, afirma.
Bolsonaro tem vantagem sobre Lula no Norte (38% a 23%), no Centro-Oeste (36% a 24%), e no Sul (28% a 26%). O petista está na dianteira no Nordeste, com 51% contra 22%. No Sudeste o cenário é de empate, com os dois pré-candidatos pontuando 33% em um primeiro turno.
De acordo com a pesquisa, na simulação do segundo turno, Lula e Bolsonaro ganharam dois pontos percentuais de intenção de voto. O número está dentro da margem de erro da pesquisa e mantém a diferença entre os dois, alcançada em abril, que é de nove pontos.
A pesquisa simulou ainda mais quatro cenários de segundo turno. O ex-presidente venceria os confrontos com Ciro Gomes e Simone Tebet. Bolsonaro também venceria as disputas com o ex-governador do Ceará e com a senadora. Veja os números da pesquisa Exame/Ideia
A pesquisa PoderData, divulgada na quarta-feira (22), segue o mesmo ritmo. Segundo ela, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está a um ponto de vencer no primeiro turno. O cenário de liderança do petista é estável, mas a oscilação positiva de um ponto dentro da margem de erro mostra Lula com 44% das intenções de voto, enquanto os outros candidatos somam 45%.
Uma vitória direta em 2 de outubro exige ao menos 50% mais um dos votos válidos – votos em branco ou nulos não são considerados nessa conta. Basta, portanto, que os votos de Lula ultrapassem a soma dos outros candidatos para que a eleição seja decidida no primeiro turno.
Em segundo lugar, Bolsonaro pontua 34%. Em relação à rodada anterior (dias 5 a 7) do PoderData, Lula variou um ponto para cima, enquanto o chefe do Executivo oscilou um ponto percentual para baixo.
Passado quase um mês da desistência do ex-governador João Doria da corrida presidencial, o quadro geral indica efeito nulo para tracionar as pré-candidaturas de terceira via. Ciro Gomes manteve 6% dos votos. André Janones marcou 2%. Simone Tebet, Luciano Bivar (União Brasil) e José Maria Eymael (DC) tiveram 1% cada.
Luiz Felipe d’Avila (Novo), Sofia Manzano (PCB), Pablo Marçal (Pros), Leonardo Péricles (UP) e Vera Lúcia (PSTU) não somaram menções suficientes para pontuar. Brancos e nulos são 5%, e 4% não souberam responder.
A simulação de segundo turno mostra que Lula ampliou a vantagem sobre Bolsonaro. O petista tem 52% das intenções de voto, ante 35% do atual presidente. A distância é de 17 pontos percentuais.
Essa é a primeira vez em 4 meses que a diferença de Lula para o chefe do Executivo cresceu fora da margem de erro de 2 pontos. Na rodada de 13 a 15 de fevereiro, o ex-presidente tinha 50% das intenções e Bolsonaro, 35%. A partir daí, a distância vinha sendo encurtada – chegou ao mínimo de 9 pontos percentuais nas rodadas de 10 a 12 de abril e 24 a 26 de abril.
No levantamento anterior do PoderData, Lula (50%) e Bolsonaro (40%) estavam a 10 pontos de distância. O atual presidente caiu 5 pontos percentuais nos últimos 15 dias. A diferença máxima entre os dois pré-candidatos foi registrada na rodada feita do final de agosto ao início de setembro de 2021.