19/04/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

O estranho acordar da Polícia Federal

Publicado em 23/06/2022 12:00 - Rafael Paredes

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A Polícia Federal dormia em berço esplêndido por mais de três anos. Nada a incomodava. Nenhum ataque às instituições, as constantes interferência na sua hierarquia, a exoneração de quadros que investigavam malfeitos de ministros, mais de 670 mil mortes na pandemia não rendiam uma manifestaçãozinha de suas associações. A reação só ocorreu quando o Governo Federal negou aumento salarial para os agentes.

Em maio do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) tirou o sigilo do vídeo de uma reunião ministerial realizada em abril, onde o presidente Jair Bolsonaro afirmava com todas as letras que, se não trocarem o superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, ele trocaria o Diretor Geral ou até o ministro. O então ministro da Justiça, Sérgio Moro, não aguentou a pressão, pediu demissão e afirmou que Bolsonaro queria a troca do comandando do PF de forma a intervir na instituição. Silêncio dos agentes.

No dia 15 de abril, o delegado Alexandre Saraiva foi exonerado do cargo de superintendente da Polícia Federal do Amazonas. A exoneração ocorreu no mesmo dia que o delegado enviou ao STF notícia-crime e solicitou investigação contra o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles e contra o fiel escudeiro de Bolsonaro, o senador Telmário Mota (PROS-RR). Saraiva alegava indícios de que ambos dificultavam as investigações em relação a madeireiros ilegais que extraiam e exportavam madeira da Amazônia. Foi demitido. Silêncio dos agentes.

No dia 08 de outubro do ano passado, o superintendente da Polícia Federal do Distrito Federal, Hugo de Barros Correia foi afastado de suas funções. Ele investigava o filho do presidente, o jovem Jair Renan Bolsonaro, dentro do inquérito das fakenews. O “04” também era investigado por possível tráfico de influência nos ministérios, onde arrumava reuniões para empresários e ganhava presentes como carro elétrico e reforma de seu escritório. Hoje, delegado Correia é responsável pela burocracia dos planos de saúde da corporação. Silêncio dos agentes.

Outros delegados e superintendentes foram trocados e nada tirava o sono da Polícia Federal. Outros descalabros também ocorriam, que, se acontecessem em outros governos, com certeza gerariam reações fortes das associações que representam os policiais federais. Mas, nos últimos anos, silêncio absoluto. Algo parecia entorpecer a instituição. Em paralelo, havia uma intensa negociação por aumento salarial para os policiais.

No último dia 13, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que não haverá aumento salarial para o funcionalismo público. Forte reação das associações dos policiais federais no rádio e na televisão. No dia 23, o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro e outros dois pastores ligados ao presidente são presos pela PF.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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