24/04/2024 - Edição 540

Ogroteca

Gratuidade dos Serviços é real?

Publicado em 26/05/2022 12:00 - Fernando Fenero

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Jogos, aplicativos, sites, redes sociais, mensageiros, programas de computador, serviços de streaming… muitos deles são gratuitos e não cobram nada de seus usuários.

Lá nos primórdios da tecnologia mobile, o Whatsapp era pago, custava um dólar depois de um ano de uso, mas depois da compra pelo Facebook (atual Meta) o produto ficou totalmente gratuito, assim como a plataforma que realizou a compra.

Você nunca precisou pagar para postar um vídeo no Youtube, para ter uma conta no Facebook ou para consultar um mapa no seu celular, mas chegou a pensar como a empresa que desenvolve e mantem o serviço faz dinheiro?

Para entender essa dinâmica, é preciso aceitar uma máxima da área da tecnologia: Se você não paga pelo produto, o produto então é você.

Sim, você é o produto do Facebook, do Whatsapp, do Google Maps, Gmail, Outlook e eu posso ficar o dia inteiro listando serviços gratuitos que usam seus dados para fazer receita. Óbvio que boa parte do faturamento dessas empresas vem de anúncios e propagandas, mas as empresas só investem pesado nesse tipo de marketing pelo direcionamento e pela certeza de atingir o público alvo.

Dando um exemplo bastante simples, imagine que uma fabricante de sabão em pó quer lançar um novo produto, e para isso decide que vai investir pesado em propaganda. Quando compram o horário da novela das nove, e vinculam o comercial no intervalo das aventuras de Juma e Jovi, eles sabem que X pessoas estão assistindo, e para tal usam os números do IBOPE (atual Kantar IBOPE Media).

Essa pesquisa de audiência funciona da seguinte forma: uma quantidade de aparelhos é distribuída nas casas de pessoas de grandes cidades, e eles registram o que a pessoa está assistindo na televisão transmitindo os dados para a empresa.

Até outro dia isso era garantia de sucesso, a marca de sabão em pó buscava a emissora do plim plim, investia milhões no intervalo da novela, e garantia 40 pontos de Ibope, o que significaria em média nacional aproximadamente 28 milhões de pessoas. Mas os tempos mudaram, e as verbas de publicidade não são mais a mesma, o consumo das famílias mudou e os hábitos domésticos também.

Pense que o investimento de milhões na televisão não garantia que seu público alvo visse a propaganda, o que não convergia em vendas então era praticamente um desperdício de dinheiro.

Exatamente por isso as marcas preferem investir na internet, nosso exemplo da empresa de sabão em pó decide através de seus estudos que seu público alvo são donas de casa, de 30 a 40 anos, que ganham de um a três salários mínimos, e quanto colocam o dinheiro na propaganda, decidem que é esse o público que vai ver, e recebem o relatório perfeito de quem viu, quem reagiu a propaganda, quem comentou e quem compartilhou o conteúdo.

Para essa mágica funcionar, as redes e aplicativos te vigiam o tempo todo, você é o produto deles e suas informações e perfis são oferecidos de bandeja para as empresas que buscam esse acesso ao cliente. O mais assustador é pensar que estou sendo bastante positivo, porque certamente que seus dados não são só vendidos para empresas “de sabão em pó”, mas também para partidos políticos, governos, entidades e organizações militares.

E quando falo seus dados, não estou falando apenas do que você compartilha, ou de como você registrou seu perfil nas redes sociais. Estou falando de tudo.

Desde sua geolocalização registrando cada passo dado durante seu dia, inclusive considerando se você anda a pé, transporte público ou carro. Eles sabem se você pega uma carona, se anda de Uber ou se tem carro próprio.

Eles vigiam cada uma das suas conversas e coletam todos os dados que podem, até mesmo registram o áudio ambiente sem que você saiba, e você concordou com tudo isso quando aceitou os termos de contrato do sistema operacional ou do aplicativo.

É assustador, certo?

Apesar disso, eu discordo de alguns estudiosos que aconselham a exclusão imediata de sua vida digital, acho que o ser humano tem discernimento o suficiente para entender essa armadilha e evitar aquilo que é nocivo, e entendendo como as coisas estão acontecendo, pedir mudanças legais nas plataformas para impedir a invasão total da privacidade.

Isso é possível em um país onde o Estado Democrático de Direito e Democracia funcionam, então por mais que existe uma ameaça clara no horizonte, ainda é cedo para voltarmos para as cavernas para impedir um futuro no estilo Blade Runner.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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