24/04/2024 - Edição 540

Comportamento

Sabedoria dos mais velhos

Publicado em 01/04/2015 12:00 -

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Apesar dos ditos populares sobre a sabedoria dos mais velhos, os cientistas sempre tiveram dificuldade para caracterizar o desenvolvimento das faculdades mentais com a idade. O conhecimento adquirido é um fator importante nisso.

Por terem vivido mais, as pessoas mais velhas tendem a saber mais que os jovens adultos e tiram notas mais altas em testes de vocabulário, palavras-cruzadas e outras medições da chamada inteligência cristalizada.

Já os jovens adultos teriam mais facilidade para a memória de curto prazo e a solução de enigmas – essas capacidades, chamadas de inteligência fluida, atingem o pico na casa dos 20 anos.

Mas será mesmo?

Um trabalho publicado na revista "Psychological Science" sugere que o cérebro mais velho oferece algo a mais. Elementos de avaliação social e memória de curto prazo, peças importantes do quebra-cabeça cognitivo, podem atingir o apogeu décadas mais tarde do que se pensava.

Os estudantes de pós-doutorado Joshua Hartshorne, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e Laura Germine, de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, analisaram dezenas de testes cognitivos feitos por pessoas de todas as idades.

Eles descobriram que a divisão geral da cognição em relação à idade – fluida nos jovens e cristalizada nos mais velhos– esconde várias nuances importantes. "Existem muito mais padrões em ação. Precisamos levá-los em conta para compreender plenamente os efeitos da idade na cognição", disse Hartshorne.

Um ano atrás, cientistas alemães afirmaram que os "déficits" cognitivos nos idosos eram causados principalmente pelo acúmulo de conhecimento –o cérebro desacelera porque tem uma biblioteca mental de fatos muito maior.

Recentemente, novas análises levantaram a seguinte dúvida: existem elementos distintos e independentes de memória e cognição que atingem o pico em épocas diferentes da vida?

A pesquisa de Hartshorne e Germine avaliou as notas históricas do teste de inteligência de Wechsler e as comparou com resultados mais recentes de dezenas de milhares de pessoas que fizeram testes cognitivos curtos nos sites dos autores, testmybrain.org e gameswithwords.org.

A única desvantagem dessa abordagem é que, como ela não acompanhou as mesmas pessoas ao longo da vida, pode ter perdido o efeito de diferentes experiências culturais, disse K. Warner Schaie, pesquisador da Universidade Estadual da Pensilvânia.

Os participantes dos testes nos sites tinham de 10 a 89 anos de idade e passaram por uma grande bateria de testes, que avaliaram habilidades como memória para símbolos abstratos e séries de números, solução de problemas e facilidade para interpretar as emoções nos olhos de desconhecidos.

Os pesquisadores também examinaram o efeito da idade em cada tipo de teste. "Encontramos habilidades diferentes amadurecendo em idades diferentes", disse Germine. "É uma imagem muito mais rica da evolução da vida do que apenas chamá-la de envelhecer."

A velocidade de processamento – a rapidez com que alguém consegue manipular números, palavras ou imagens– geralmente atinge o pico no final da adolescência, confirmaram Germine e Hartshorne, e a memória de certas coisas, como nomes, o faz no início dos 20 anos. Mas a memória funcional chega ao auge pelo menos uma década depois e demora a declinar. Em particular, a capacidade de lembrar rostos e fazer alguma manipulação mental de números tem seu pico por volta dos 30 anos, revelou o estudo.

Os pesquisadores também analisaram resultados do teste de Leitura da Mente pelos Olhos. A imagem que surge dessas conclusões é a de um cérebro mais velho que se move mais devagar que sua versão jovem, mas é igualmente preciso em muitas áreas e mais apto a ler o humor dos outros – além de ser mais confiável.

Porém, os detalhes dessa imagem do envelhecimento do cérebro não estão claros, e medições sociais como o teste de Leitura da Mente pelos Olhos ainda não foram muito usadas nesse tipo de pesquisa. Além disso, falta descobrir se as mudanças na cognição com a idade resultam de uma única causa – como um declínio na velocidade da transmissão neural – ou de diversas.


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